(UNIFESP 2019) Texto 1 A morte continua sendo um tabu. Por isso não falamos dela. Mas quando perguntamos às pessoas se têm medo da morte, elas costumam responder que, na verdade, têm medo do sofrimento. Da dor física, claro, mas também da dor psicológica de ter que continuar vivendo em condições insuportáveis. Sinto-me preso numa jaula, dizia Fabiano Antoniani, um tetraplégico italiano que vivia prostrado desde que sofreu um grave acidente, em 2014, que o deixou sem visão nem mobilidade. Sabia que ainda podia viver bastante tempo, porque o organismo de um homem forte de 40 anos pode aguentar muito, mas não queria seguir assim. No final de fevereiro, Antoniani foi à Suíça o único país, entre os seis nos quais a eutanásia (a ajuda ao suicídio) está legalizada, que admite estrangeiros. Ele mesmo, com um movimento dos lábios, acionou o mecanismo que introduziu o coquetel da morte em sua boca. A perspectiva de uma longa e penosa deterioração faz com que muitos cidadãos queiram decidir, por si sós, quando e como morrer. Nas palavras de Ramón Sampedro (tetraplégico espanhol que recorreu em vão aos tribunais para que o ajudassem a morrer), existe o direito à vida, mas não a obrigação de viver a qualquer preço. Este é o princípio no qual se baseiam os que propõem a despenalização da eutanásia. Ter acesso a uma morte medicamente assistida significaria uma extensão dos direitos civis. Romper o tabu da morte exige poder falar com naturalidade dela. A regulamentação da eutanásia precisa de uma deliberação informada, distante dos apriorismos e dos sectarismos ideológicos. Sempre haverá opositores porque consideram que as pessoas não podem dispor de sua vida pois ela só a Deus pertence. Os partidários da regulamentação lembram que o fato de que seja regulada não obriga ninguém a optar pela eutanásia. (Milagros Pérez Oliva. Quem decide como devemos morrer?. http://brasil.elpais.com, 01.04.2017. Adaptado.) Texto 2 Professor de antropologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista), Claudio Bertolli enxerga a eutanásia como uma questão de liberdade individual. Portanto, cabe ao indivíduo decidir o que fazer. Essa opinião é compartilhada por Reinaldo Ayer (coordenador do Centro de Bioética do Conselho Regional de Medicina de São Paulo): A pessoa deve ter todos os recursos para reverter ou minimizar uma situação de doença. Mas, mesmo com tudo isso, ela pode decidir por não continuar. Neste momento, tem que ser dada a ela a possibilidade de escolha. A juíza Mônica Silveira (autora do livro Eutanásia: humanizando a visão jurídica) fala que a liberdade ilimitada não é uma forma de proteger o cidadão: Começa como permissão e pode se tornar obrigação. Pode haver pressão social para que idosos e doentes recorram à prática. Quando você autoriza determinado tipo de prática, não tem como dominar os efeitos de propagação. Há seis anos trabalhando em UTIs na Secretaria de Saúde do Distrito Federal, o psicólogo Adriano Facioli é a favor da prática: Sem eutanásia as pessoas sofrem. Muitos que poderiam ocupar aquele leito morrem porque tem alguém condenado submetido a uma distanásia [morte lenta, com grande sofrimento]. O que o Estado faz é investir no sofrimento das pessoas, uma vez que não existe acesso aos cuidados paliativos nem a legalização da eutanásia. (Vida ou morte: os argumentos pró e contra sobre o direito de morrer por aqueles que convivem com a iminência do fim. https://tab.uol.com.br. Adaptado.) Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema: Eutanásia: entre a liberdade de escolha e a preservação da vida
Considere os modelos atmicos de Dalton, Thomson e Rutherford-Bohr e os fenmenos: I. Conservao de massa nas transformaes qumicas. II. Emisso de luz verde quando sais de cobre so aquecidos por uma chama a) Quais desses modelos possuem partculas dotadas de carga eltrica? b) Identifique os modelos atmicos que permitem interpretar cada um dos fenmenos.
(UNIFESP - 2019) TEXTO PARA A PRXIMA QUESTO: Leia o trecho inicial do conto A doida, de Carlos Drummond de Andrade, para responder (s) questo(es) a seguir. A doida habitava um chal no centro do jardim maltratado. E a rua descia para o crrego, onde os meninos costumavam banhar-se. Era s aquele chalezinho, esquerda, entre o barranco e um cho abandonado; direita, o muro de um grande quintal. E na rua, tornada maior pelo silncio, o burro que pastava. Rua cheia de capim, pedras soltas, num declive spero. Onde estava o fiscal, que no mandava capin-la? Os trs garotos desceram manh cedo, para o banho e a pega de passarinho. S com essa inteno. Mas era bom passar pela casa da doida e provoc-la. As mes diziam o contrrio: que era horroroso, poucos pecados seriam maiores. Dos doidos devemos ter piedade, porque eles no gozam dos benefcios com que ns, os sos, fomos aquinhoados. No explicavam bem quais fossem esses benefcios, ou explicavam demais, e restava a impresso de que eram todos privilgios de gente adulta, como fazer visitas, receber cartas, entrar para irmandades. E isso no comovia ningum. A loucura parecia antes erro do que misria. E os trs sentiam-se inclinados a1lapidar a doida, isolada e agreste no seu jardim. Como era mesmo a cara da doida, poucos poderiam diz-lo. No aparecia de frente e de corpo inteiro, como as outras pessoas, conversando na calma. S o busto, recortado numa das janelas da frente, as mos magras, ameaando. Os cabelos, brancos e desgrenhados. E a boca inflamada, soltando xingamentos, pragas, numa voz rouca. Eram palavras da Bblia misturadas a termos populares, dos quais alguns pareciam escabrosos, e todos fortssimos na sua clera. Sabia-se confusamente que a doida tinha sido moa igual s outras no seu tempo remoto (contava mais de sessenta anos, e loucura e idade, juntas, lhe lavraram o corpo). Corria, com variantes, a histria de que fora noiva de um fazendeiro, e o casamento uma festa estrondosa; mas na prpria noite de npcias o homem a repudiara, Deus sabe por que razo. O marido ergueu-se terrvel e empurrou-a, no calor do bate-boca; ela rolou escada abaixo, foi quebrando ossos, arrebentando-se. Os dois nunca mais se veriam. J outros contavam que o pai, no o marido, a expulsara, e esclareciam que certa manh o velho sentira um amargo diferente no caf, ele que tinha dinheiro grosso e estava custando a morrer mas nos2racontos antigos abusava-se de veneno. De qualquer modo, as pessoas grandes no contavam a histria direito, e os meninos deformavam o conto. Repudiada por todos, ela se fechou naquele chal do caminho do crrego, e acabou perdendo o juzo. Perdera antes todas as relaes. Ningum tinha nimo de visit-la. O padeiro mal jogava o po na caixa de madeira, entrada, e eclipsava-se. Diziam que nessa caixa uns primos generosos mandavam pr, noite, provises e roupas, embora oficialmente a ruptura com a famlia se mantivesse inaltervel. s vezes uma preta velha arriscava-se a entrar, com seu cachimbo e sua pacincia educada no cativeiro, e l ficava dois ou trs meses, cozinhando. Por fim a doida enxotava-a. E, afinal, empregada nenhuma queria servi-la. Ir viver com a doida, pedir a bno doida, jantar em casa da doida, passaram a ser, na cidade, expresses de castigo e smbolos de3irriso. Vinte anos de uma tal existncia, e a legenda est feita. Quarenta, e no h mud-la. O sentimento de que a doida carregava uma culpa, que sua prpria doidice era uma falta grave, uma coisa aberrante, instalou-se no esprito das crianas. E assim, geraes sucessivas de moleques passavam pela porta, fixavam cuidadosamente a vidraa e lascavam uma pedra. A princpio, como justa penalidade. Depois, por prazer. Finalmente, e j havia muito tempo, por hbito. Como a doida respondesse sempre furiosa, criara-se na mente infantil a ideia de um equilbrio por compensao, que afogava o remorso. Em vo os pais censuravam tal procedimento. Quando meninos, os pais daqueles trs tinham feito o mesmo, com relao mesma doida, ou a outras. Pessoas sensveis lamentavam o fato, sugeriam que se desse um jeito para internar a doida. Mas como? O hospcio era longe, os parentes no se interessavam. E da explicava-se ao forasteiro que porventura estranhasse a situao toda cidade tem seus doidos; quase que toda famlia os tem. Quando se tornam ferozes, so trancados no sto; fora disto, circulam pacificamente pelas ruas, se querem faz-lo, ou no, se preferem ficar em casa. E doido quem Deus quis que ficasse doido... Respeitemos sua vontade. No h remdio para loucura; nunca nenhum doido se curou, que a cidade soubesse; e a cidade sabe bastante, ao passo que livros mentem. (Contos de aprendiz, 2012.) 1lapidar: apedrejar. 2raconto: relato, narrativa. 3irriso: zombaria. Em No aparecia de frente e de corpo inteiro, como as outras pessoas, conversando na calma (3o pargrafo), o termo sublinhado um verbo
(UNIFESP - 2019) Sou um evadido. Logo que nasci Fecharam-me em mim, Ah, mas eu fugi. Se a gente se cansa Do mesmo lugar, Do mesmo ser Por que no se cansar? Minha alma procura-me Mas eu ando a monte, Oxal que ela Nunca me encontre. Ser um cadeia, Ser eu no ser. Viverei fugindo Mas vivo a valer. (Obra potica, 1997.) andar a monte: andar fugido das autoridades. Rima rica aquela que ocorre entre palavras de classes gramaticais diferentes, a exemplo do que se verifica