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VestibularEdição do vestibular
Disciplina

(ENEM - 2022)A escrava Admira-me , disse uma senho

(ENEM - 2022)

 

A escrava

 

– Admira-me —, disse uma senhora de sentimentos sinceramente abolicionistas —; faz-me até pasmar como se possa sentir, e expressar sentimentos escravocratas, no presente século, no século dezenove! A moral religiosa e a moral cívica aí se erguem, e falam bem alto esmagando a hidra que envenena a família no mais sagrado santuário seu, e desmoraliza, e avilta a nação inteira! Levantai os olhos ao Gólgota, ou percorrei-os em torno da sociedade, e dizei-me:

— Para que se deu em sacrifício, o Homem Deus, que ali exalou seu derradeiro alento? Ah! Então não era verdade que seu sangue era o resgate do homem! É então uma mentira abominável ter esse sangue comprado a liberdade!? E depois, olhai a sociedade… Não vedes o abutre que a corrói constantemente!… Não sentis a desmoralização que a enerva, o cancro que a destrói?

Por qualquer modo que encaremos a escravidão, ela é, e sempre será um grande mal. Dela a decadência do comércio; porque o comércio e a lavoura caminham de mãos dadas, e o escravo não pode fazer florescer a lavoura; porque o seu trabalho é forçado.

REIS, M. F. Úrsula outras obras. Brasília: Câmara dos Deputados, 2018.

 

Inscrito na estética romântica da literatura brasileira, o conto descortina aspectos da realidade nacional no século XIX ao

A

revelar a imposição de crenças religiosas a pessoas escravizadas.

B

apontar a hipocrisia do discurso conservador na defesa da escravidão.

C

sugerir práticas de violência física e moral em nome do progresso material.

D

relacionar o declínio da produção agrícola e comercial a questões raciais.

E

ironizar o comportamento dos proprietários de terra na exploração do trabalho.