(ENEM - 2022) A escrava Admira-me , disse uma senhora de sentimentos sinceramente abolicionistas ; faz-me at pasmar como se possa sentir, e expressar sentimentos escravocratas, no presente sculo, no sculo dezenove! A moral religiosa e a moral cvica a se erguem, e falam bem alto esmagando a hidra que envenena a famlia no mais sagrado santurio seu, e desmoraliza, e avilta a nao inteira! Levantai os olhos ao Glgota, ou percorrei-os em torno da sociedade, e dizei-me: Para que se deu em sacrifcio, o Homem Deus, que ali exalou seu derradeiro alento? Ah! Ento no era verdade que seu sangue era o resgate do homem! ento uma mentira abominvel ter esse sangue comprado a liberdade!? E depois, olhai a sociedade No vedes o abutre que a corri constantemente! No sentis a desmoralizao que a enerva, o cancro que a destri? Por qualquer modo que encaremos a escravido, ela , e sempre ser um grande mal. Dela a decadncia do comrcio; porque o comrcio e a lavoura caminham de mos dadas, e o escravo no pode fazer florescer a lavoura; porque o seu trabalho forado. REIS, M. F.rsula outras obras. Braslia: Cmara dos Deputados, 2018. Inscrito na esttica romntica da literatura brasileira, o conto descortina aspectos da realidade nacional no sculo XIX ao
(ENEM - 2022) TEXTO I Projeto Mural Eletrnico desenvolvido no INT, semelhante a um totem, promete tornar o acesso informao disponvel para todos A incluso de pessoas com deficincia se constituiu um dos principais desafios e preocupaes para a sociedade ao longo das ltimas dcadas. E o uso da tecnologia tem se revelado um aliado fundamental em muitas iniciativas voltadas para essa rea. Exemplo disso uma das recentes criaes do Instituto Nacional de Tecnologia (INT) unidade de pesquisa do Ministrio da Cincia, Tecnologia, Inovaes e Comunicaes (MCTIC). Ali, com o objetivo de que as diferenas entre pessoas no sejam sinnimo de obstculos no acesso informao ou na comunicao, engenheiros e tecnlogos vm trabalhando no desenvolvimento do projeto Mural Eletrnico. O Mural Eletrnico nasceu da necessidade de promover a incluso nas escolas. Com interface multimdia e interativa, todos tm possibilidade de acessar o Mural Eletrnico. Por meio do equipamento, podem ser disponibilizados vdeos com Libras, leitura sonora de textos, que tambm estaro acessveis em uma plataforma de braile dinmico, ao lado do teclado. KIFFER, D. Incluso ampla e irrestita. Rio Pesquisa, n. 36, set. 2016 (adaptado). Texto II Projeto Surdonews, desenvolvido na UFRJ, garante acesso de surdos informao e contribui para sua incluso cientifica Para no permitir que a falta de informao seja um fator para o isolamento e a inacessibilidade da comunidade surda, a jornalista e pesquisadora Roberta Savedra Schiaffino criou o projeto Surdonews: montando os quebra-cabeas das notcias para o surdo. Trata-se de uma pgina no Facebook, com notcias constantemente atualizadas e apresentadas por surdos em Libras, e veiculadas por meio de videos. A ideia de criar o projeto surgiu quando Roberta, ela prpria surda profunda, ainda cursava o mestrado. Para isso, ela procurou traar um diagnstico do conhecimento informal entre as pessoas com surdez. Ela entrevistou cinquenta alunos surdos do ensino fundamental e viu que eles tinham muita dificuldade de ler, alm de no captar a notcia falada. Isso muito grave, pois 90% do saber de um indivduo vem do conhecimento informal, adquirido em feiras cientficas, conversas, cinema, teatro, incluindo a mdia, por todas as suas possibilidades disseminadoras, explica a pesquisadora. Prezamos pelo contedo cientfico em nossas pautas. Contudo, independentemente disso, nosso principal trabalho , alm de informar e atualizar, fazer com que os textos no sejam empobrecidos no processo de traduo e, sim, acessveis. KIFFER, D. Comunicao sem barreiras. Rio Pesquisa, n. 37, dez. 2016 (adaptado). Considerando-se o tema tecnologias e acessibilidade, os textos I e II aproximam-se porque apresentam projetos que
(ENEM - 2022) Mas seu olhar verde, inconfundvel, impressionante, iluminava com sua luz misteriosa as sombrias arcadas superciliares, que pareciam queimadas por ela, dizia logo a sua origem cruzada e decantada atravs das misrias e dos orgulhos de homens de aventura, contadores de histrias fantsticas, e de mulheres caladas e sofredoras que acompanhavam os maridos e amantes atravs das matas interminveis, expostas s febres, s feras, s cobras do serto indecifrvel, ameaador e sem fim, que elas percorriam com a ambio nica de um pouso onde pudessem viver, por alguns dias, a vida ilusria de famlia e de lar, sempre no encalo dos homens, enfebrados pela procura do ouro e do diamante. PENNA, C.Fronteira. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/d. Ao descrever os olhos de Maria Santa, o narrador estabelece correlaes que refletem a
(ENEM - 2022) O complexo de falar difcil O que importa realmente que o(a) detentor(a) do notvel saber jurdico saiba quando e como deve fazer uso desse portugus verso 2.0, at porque no tem necessidade de algum entrar numa padaria de manh com aquela cara de sono falando o seguinte: Por obsquio, Vossa Senhoria teria a hipottica possibilidade de estabelecer com minha pessoa uma relao de compra e venda, mediante as imposies dos cdigos Civil e do Consumidor, para que seja possvel a obteno de 10 pezinhos em temperatura estvel para que a relao pecuniria no valor de R$ 5,00, seja plenamente legitima e capaz de saciar minha fome matinal? O problema que temos uma cultura de valorizar quem demonstra ser inteligente ao invs de valorizar quem . Pela nossa lgica, todo mundo que fala difcil tende a ser mais inteligente do que quem valoriza o simples, e 99,9% das pessoas que estivessem na padaria iriam ficar boquiabertas se algum fizesse uso das palavras que eu disse acima em plenas 7 da manh em vez de dizer: Bom dia! O senhor poderia me vender cinco reais de po francs?. Agora entramos na parte interessante: o que realmente falar difcil? Simplesmente fazer uso de palavras que a maioria no faz ideia do que seja um ato de falar difcil? Eu penso que no, mas assim que muita gente age. Falar difcil fazer uso do simples, mas com coerncia e coeso, deixar tudo amarradinho gramaticamente falando. Falar difcil pode fazer algum parecer inteligente, mas no por muito tempo. claro que em alguns momentos na verdade vrios no temos como fugir do portugus rebuscado, do juridiqus propriamente dito, como no caso de documentos jurdicos entre outros. ARAJO, H. Disponvel em:https://diariojurista.com.br. Acesso em: 20 nov. 2021 (adaptado). Nesse artigo de opinio, ao fazer uso de uma fala rebuscada no exemplo da compra do po, o autor evidencia a importncia de(a)
(ENEM - 2022) A conquista da medalha de prata por Rayssa Leal, noskate streetnos Jogos Olmpicos, exemplo da representatividade feminina no esporte, avalia a ncora do jornal da rede de televiso da CNN. A apresentadora, que tambm anda de skate, celebrou a vitria da brasileira, que entrou para a histria como a atleta mais nova a subir num pdio defendendo o Brasil. Essa representatividade do esporte nos Jogos faz pensarmos que no temos que ficar nos encaixando em nenhum lugar. Posso gostar de passar notcia e, mesmo assim, gostar de skate, subir montanha, mergulhar, andar de bike, fazer yoga. Temos que parar de ficar enquadrando as pessoas dentro das regras. A gente vive num padro no qual a menina ganha boneca, mas por que tambm no fazer um esporte de aventura? Por que o homem pode se machucar, cair de joelhos, e a menina tem que estar sempre lindinha dentro de um padro? Acabamos limitando os talentos das pessoas, afirmou a jornalista, sobre a prtica do skate por mulheres. Disponvel em: www.cnnbrasil.com.br. Acesso em: 31 out. 2021 (adaptado). O discurso da jornalista traz questionamentos sobre a relao da conquista da skatista com a
(ENEM - 2022) Assentamento Assentamento Zanza daqui Zanza pra acol Fim de feira, periferia afora A cidade no mora mais em mim Francisco, Serafim Vamos embora Ver o capim Ver o baob Vamos ver a campina quando flora A piracema, rios contravim Binho, Bel, Bia, Quim Vamos embora Quando eu morrer Cansado de guerra Morro de bem Com a minha terra: Cana, caqui Inhame, abbora Onde s vento se semeava outrora Amplido, nao, serto sem fim Manuel, Miguilim Vamos embora BUARQUE, C. As cidades. Rio de Janeiro: RCA, 1998 (fragmento). Nesse texto, predomina a funo potica da linguagem. Entretanto, a funo emotiva pode ser identificada no verso:
(ENEM - 2022) Disponvel em:http://viva-porto.pt. Acesso em: 24 nov. 2021 (adaptado). A articulao entre os elementos verbais e os no verbais do texto tem como propsito desencadear a
(ENEM - 2022) As lnguas silenciadas do Brasil Para aprender a lngua de seu povo, o professor Txaywa Patax, de 29 anos, precisou estudar os fatores que, por diversas vezes, quase provocaram a extino da lngua patxh. Mergulhou na histria do Brasil e descobriu fatos violentos que dispersaram os pataxs, forados a abandonar a prpria lngua para escapar da perseguio. Os pataxs se espalharam, principalmente, depois do Fogo de 1951. Queimaram tudo e expulsaram a gente das nossas terras. Isso constrange o nosso povo at hoje, conta Txaywa, estudante da Universidade Federal de Minas Gerais e professor na aldeia Barra Velha, regio de Porto Seguro (BA). Mais de quatro dcadas depois, membros da etnia retornaram ao antigo local e iniciaram um movimento de recuperao da lngua patxh. Os filhos de Sameary Patax j so fluentes e ela, que se mudou quando j era adulta para a aldeia, tenta aprender um pouco com eles. a nossa identidade. Voc diz quem voc por meio da sua lngua, afirma a professora de ensino fundamental sobre a importncia de restaurar a lngua dos pataxs. O patxh est entre as lnguas indgenas faladas no Brasil: o IBGE estimou 274 lnguas no ltimo censo. A publicao Povos indgenas no Brasil 2011/2016, do Instituto Socioambiental, calcula 160. Antes da chegada dos portugueses, elas totalizavam mais de mil. Disponvel em: https://brasil.elpais.com. Acesso em: 11 jun. 2019 (adaptado). O movimento de recuperao da lngua patxh assume um carter identitrio peculiar na medida em que
(ENEM - 2022) Esa e Jac Brbara entrou, enquanto o pai pegou da viola e passou ao patamar de pedra, porta da esquerda. Era uma criaturinha leve e breve, saia bordada, chinelinha no p. No se lhe podia negar um corpo airoso. Os cabelos, apanhados no alto da cabea por um pedao de fita enxovalhada, faziam-lhe um solidu natural, cuja borla era suprida por um raminho de arruda. J vai nisto um pouco de sacerdotisa. O mistrio estava nos olhos. Estes eram opacos, no sempre nem tanto que no fossem tambm lcidos e agudos, e neste ltimo estado eram igualmente compridos; to compridos e to agudos que entravam pela gente abaixo, revolviam o corao e tornavam c fora, prontos para nova entrada e outro revolvimento. No te minto dizendo que as duas sentiram tal ou qual fascinao. Brbara interrogou-as; Natividade disse ao que vinha e entregou-lhe os retratos dos filhos e os cabelos cortados, por lhe haverem dito que bastava. Basta, confirmou Brbara. Os meninos so seus filhos? So. ASSIS, M.Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. No relato da visita de duas mulheres ricas a uma vidente no Morro do Castelo, a ironia um dos traos mais representativos da narrativa machadiana consiste no
(ENEM - 2022) A senhora manifestava-se por atos, por gestos, e sobretudo por um certo silncio, que amargava, que esfolava. Porm desmoralizar escancaradamente o marido, no era com ela.[] As negras receberam ordem para meter no servio a gente do tal compadre Silveira: as cunhadas, ao fuso; os cunhados, ao campo, tratar do gado com os vaqueiros; a mulher e as irms, que se ocupassem da ninhada. Margarida no tivera filhos, e como os desejasse com a fora de suas vontades, tratava sempre bem aos pequenitos e s mes que os estavam criando. No era isso uma sentimentalidade crist, uma ternura, era o egosta e cru instinto da maternidade, obrando por mera simpatia carnal. Quanto ao pai do lote (referia-se ao Antnio), esse que fosse ajudar ao vaqueiro das bestas. Ordens dadas, o Quinquim referendava. Cada um moralizava o outro, para moralizar-se. PAIVA, M. O.Dona Guidinha do Poo. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/d No trecho do romance naturalista, a forma como o narrador julga comportamentos e emoes das personagens femininas revela influncia do pensamento
(ENEM - 2022) Era o xodo da seca de 1898. Uma ressurreio de cemitrios antigos esqueletos redivivos, com o aspecto terroso e o fedor das covas podres. Os fantasmas estropiados como que iam danando, de to trpegos e trmulos, num passo arrastado de quem leva as pernas, em vez de ser levado por elas. Andavam devagar, olhando para trs, como quem quer voltar. No tinham pressa em chegar, porque no sabiam aonde iam. Expulsos de seu paraso por espadas de fogo, iam, ao acaso, em descaminhos, no arrasto dos maus fados. Fugiam do sol e o sol guiava-os nesse forado nomadismo. Adelgaados na magreira cmica, cresciam, como se o vento os levantasse. E os braos afinados desciam-lhes aos joelhos, de mos abanando. Vinham escoteiros. Menos os hidrpicos de ascite consecutiva alimentao txica com os fardos das barrigas alarmantes. No tinham sexo, nem idade, nem condio nenhuma. Eram os retirantes. Nada mais. ALMEIDA, J. A.A bagaceira. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1978. Os recursos composicionais que inserem a obra no chamado Romance de 30 da literatura brasileira manifestam-se aqui no(a)
(ENEM - 2022) Disponvel em:https://tab.uol.com.br/. Acesso em: 25 ago. 2017 (adaptado). O texto sobre os chamados nativos digitais traz informaes com a funo de
(ENEM - 2022) Notas Soluos, lgrimas, casa armada, veludo preto nos portais, um homem que veio vestir o cadver, outro que tomou a medida do caixo, caixo, essa, tocheiros, convites, convidados que entravam, lentamente, a passo surdo, e apertavam a mo famlia, alguns tristes, todos srios e calados, padre e sacristo, rezas, asperses dgua benta, o fechar do caixo a prego e martelo, seis pessoas que o tomam da essa, e o levantam, e o descem a custo pela escada, no obstante os gritos, soluos e novas lgrimas da famlia, e vo at o coche fnebre, e o colocam em cima e traspassam e apertam as corras, o rodar do coche, o rodar dos carros, um a um Isto que parece um simples inventrio, eram notas que eu havia tomado para um captulo triste e vulgar que no escrevo. ASSIS, M.Memrias Pstumas de Brs Cubas. Disponvel em: www.domniopblico.gov.br. Acesso em: 25 jul, 2022. O recurso lingustico que permite o Machado de Assis considerar o captulo de Memrias Pstumas de Brs Cubas como inventrio a:
(ENEM - 2022) Criado h cerca de 20 anos na Califrnia, o mountainboard um esporte de aventura que utiliza uma espcie de skate off-road para realizar manobras similares s das modalidades de snowboard, surf e do prprio skate. A atividade chegou ao Brasil em 1997 e hoje possui centenas de praticantes, um circuito nacional respeitvel e mais de uma dezena de pistas espalhadas pelo pas. Segundo consta na histria oficial, o mountainboard foi criado por praticantes de snowboard que sentiam falta de praticar o esporte nos perodos sem neve. Para isso, eles desenvolveram um equipamento bem simples: uma prancha semelhante ao modelo utilizado na neve (menor e um pouco menos flexvel), com dois eixos bem resistentes, alas para encaixar os ps e quatro pneus com cmaras de ar para regular a velocidade que pode ser alcanada em diferentes condies. Com essa configurao, o esporte se mostrou possvel em diversos tipos de terreno: grama, terra, pedras, asfalto e areia. Alm desses pisos, tambm possvel procurar pelas prpriastrilhas para treinar as manobras. Disponvel em: www.webventure.com.br. Acesso em: 19 jun. 2019. A histria da prtica do mountainboard representa umadas principais marcas das atividades de aventura, caracterizada pela
(ENEM - 2022) Ser cronista Sei que no sou, mas tenho meditado ligeiramente noassunto. Crnica um relato? uma conversa? um resumo deum estado de esprito? No sei, pois antes de comear aescrever para o Jornal do Brasil, eu s tinha escritoromances e contos. E tambm sem perceber, medida que escrevia paraaqui, ia me tornando pessoal demais, correndo o risco de em breve publicar minha vida passada e presente, o queno pretendo. Outra coisa notei: basta eu saber que estouescrevendo para jornal, isto , para algo aberto facilmentepor todo o mundo, e no para um livro, que s abertopor quem realmente quer, para que, sem mesmo sentir, omodo de escrever se transforme. No que me desagrademudar, pelo contrrio. Mas queria que fossem mudanasmais profundas e interiores que no viessem a se refletirno escrever. Mas mudar s porque isso uma coluna ouuma crnica? Ser mais leve s porque o leitor assim oquer? Divertir? Fazer passar uns minutos de leitura? Eoutra coisa: nos meus livros quero profundamente acomunicao profunda comigo e com o leitor. Aqui noJornal apenas falo com o leitor e agrada-me que ele fiqueagradado. Vou dizer a verdade: no estou contente. LISPECTOR, C. In: A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. No texto, ao refletir sobre a atividade de cronista, a autoraquestiona caractersticas do gnero crnica, como