(EsPCEx - 2010) O Outro Marido 14Era conferente da Alfndega mas isso no tem importncia. Somos todos alguma coisa fora de ns; o eu irredutvel nada tem a ver com as classificaes profissionais. Pouco importa que nos avaliem pela casca.9Por dentro, sentia-se diferente, capaz de mudar sempre, enquanto a situao exterior e familiar no mudava. Nisso est o espinho do homem: ele muda, os outros no percebem. Sua mulher no tinha percebido. Era a mesma de h 23 anos, quando se casaram (quanto ao ntimo, claro).3Por falta de filhos, os dois viveram demasiado perto um do outro, sem derivativo. To perto que se desconheciam mutuamente, como um objeto desconhece outro, na mesma prateleira de armrio.10Santos doa-se de ser um objeto aos olhos de Dona Laurinha. Se ela tambm era um objeto aos olhos dele? Sim, mas com a diferena de que Dona Laurinha no procurava fugir a essa simplificao, nem reparava; era de fato, objeto. Ele, Santos, sentia-se vivo e desagradado. 1Ao aparecerem nele as primeiras dores, Dona Laurinha penalizou-se, mas esse interesse no beneficiou as relaes do casal. Santos parecia6comprazer-se em estar doente.11No propriamente em queixar-se, mas em alegar que ia mal. A doena era para ele ocupao, emprego suplementar. O mdico da Alfndega dissera-lhe que certas formas reumticas levam anos para ser dominadas, exigem adaptao e disciplina. Santos comeou a cuidar do corpo como de uma planta delicada. E mostrou a Dona Laurinha a nevoenta radiografia da coluna vertebral com certo orgulho de estar assim to afetado. Quando voc ficar bom... No vou ficar. Tenho doena para o resto da vida. Para Dona Laurinha, a melhor maneira de curar-se tomar remdio e entregar o caso alma de Padre Eustquio, que vela por ns.2Comeou a fatigar-se com a importncia que o reumatismo assumira na vida do marido. E no se amolou muito12quando ele anunciou que ia internar-se no hospital Gaffr e Guinle. Voc no sentir falta de nada assegurou-lhe Santos. Tirei licena com ordenado integral. Eu mesmo virei aqui todo comeo de ms trazer o dinheiro. Hospital no priso. Vou visitar voc todo domingo, quer? melhor no ir. Eu descanso, voc descansa, cada qual no seu canto. Ela tambm achou melhor, e nunca foi l. Pontualmente, Santos trazia-lhe o dinheiro da despesa, ficaram at um pouco amigos nessa breve conversa a longos intervalos.4Ele chegava e saa curvado, sob a garra do reumatismo que nem melhorava nem matava. A visita no era de todo desagradvel, desde que a doena deixara de ser assunto. Ela notou como a vida de hospital pode ser distrada: os internados sabem de tudo c de fora. Pelo rdio explicou Santos. Um dia, ela se sentiu to nova, apesar do tempo e das separaes fundamentais, que imaginou uma alterao: por que ele no ficava at o dia seguinte, s essa vez? 5 tarde respondeu Santos. E ela no entendeu se ele se referia hora ou a toda a vida passada sem compreenso. certo que vagamente o compreendia agora, e recebia dele mais que a mesada: uma hora de companhia por ms. Santos veio um ano, dois, cinco. Certo dia no veio.13Dona Laurinha preocupou-se. No s lhe faziam falta os cruzeiros; ele tambm fazia. Tomou o nibus, foi ao hospital pela primeira vez, em alvoroo. L ele no era conhecido. Na Alfndega informaram-lhe que Santos falecera havia quinze dias, a senhora quer o endereo da viva? Sou eu a viva disse Dona Laurinha, espantada. O informante olhou-a com incredulidade. Conhecia muito bem a viva do Santos, Dona Crislia, fizera bons piqueniques com o casal na Ilha do Governador. Santos fora seu parceiro de bilhar e de pescaria. Grande praa. Ele era padrinho do filho mais velho de Santos. Deixara trs rfos, coitado. E tirou da carteira uma foto, um grupo de praia. L estavam Santos, muito lpido, sorrindo, a outra mulher, os trs garotos. No havia dvida: era ele mesmo, seu marido. Contudo,7a outra realidade de Santos era to destacada da sua, que o tornava outro homem, completamente desconhecido, irreconhecvel. Desculpe, foi engano.8A pessoa a que me refiro no esta disse Dona Laurinha, despedindo- se. (Carlos Drummond de Andrade) Marque a alternativa em que h um verbo essencialmente pronominal.
(EsPCEx - 2010) O Outro Marido 14Era conferente da Alfndega mas isso no tem importncia. Somos todos alguma coisa fora de ns; o eu irredutvel nada tem a ver com as classificaes profissionais. Pouco importa que nos avaliem pela casca.9Por dentro, sentia-se diferente, capaz de mudar sempre, enquanto a situao exterior e familiar no mudava. Nisso est o espinho do homem: ele muda, os outros no percebem. Sua mulher no tinha percebido. Era a mesma de h 23 anos, quando se casaram (quanto ao ntimo, claro).3Por falta de filhos, os dois viveram demasiado perto um do outro, sem derivativo. To perto que se desconheciam mutuamente, como um objeto desconhece outro, na mesma prateleira de armrio.10Santos doa-se de ser um objeto aos olhos de Dona Laurinha. Se ela tambm era um objeto aos olhos dele? Sim, mas com a diferena de que Dona Laurinha no procurava fugir a essa simplificao, nem reparava; era de fato, objeto. Ele, Santos, sentia-se vivo e desagradado. 1Ao aparecerem nele as primeiras dores, Dona Laurinha penalizou-se, mas esse interesse no beneficiou as relaes do casal. Santos parecia6comprazer-se em estar doente.11No propriamente em queixar-se, mas em alegar que ia mal. A doena era para ele ocupao, emprego suplementar. O mdico da Alfndega dissera-lhe que certas formas reumticas levam anos para ser dominadas, exigem adaptao e disciplina. Santos comeou a cuidar do corpo como de uma planta delicada. E mostrou a Dona Laurinha a nevoenta radiografia da coluna vertebral com certo orgulho de estar assim to afetado. Quando voc ficar bom... No vou ficar. Tenho doena para o resto da vida. Para Dona Laurinha, a melhor maneira de curar-se tomar remdio e entregar o caso alma de Padre Eustquio, que vela por ns.2Comeou a fatigar-se com a importncia que o reumatismo assumira na vida do marido. E no se amolou muito12quando ele anunciou que ia internar-se no hospital Gaffr e Guinle. Voc no sentir falta de nada assegurou-lhe Santos. Tirei licena com ordenado integral. Eu mesmo virei aqui todo comeo de ms trazer o dinheiro. Hospital no priso. Vou visitar voc todo domingo, quer? melhor no ir. Eu descanso, voc descansa, cada qual no seu canto. Ela tambm achou melhor, e nunca foi l. Pontualmente, Santos trazia-lhe o dinheiro da despesa, ficaram at um pouco amigos nessa breve conversa a longos intervalos.4Ele chegava e saa curvado, sob a garra do reumatismo que nem melhorava nem matava. A visita no era de todo desagradvel, desde que a doena deixara de ser assunto. Ela notou como a vida de hospital pode ser distrada: os internados sabem de tudo c de fora. Pelo rdio explicou Santos. Um dia, ela se sentiu to nova, apesar do tempo e das separaes fundamentais, que imaginou uma alterao: por que ele no ficava at o dia seguinte, s essa vez? 5 tarde respondeu Santos. E ela no entendeu se ele se referia hora ou a toda a vida passada sem compreenso. certo que vagamente o compreendia agora, e recebia dele mais que a mesada: uma hora de companhia por ms. Santos veio um ano, dois, cinco. Certo dia no veio.13Dona Laurinha preocupou-se. No s lhe faziam falta os cruzeiros; ele tambm fazia. Tomou o nibus, foi ao hospital pela primeira vez, em alvoroo. L ele no era conhecido. Na Alfndega informaram-lhe que Santos falecera havia quinze dias, a senhora quer o endereo da viva? Sou eu a viva disse Dona Laurinha, espantada. O informante olhou-a com incredulidade. Conhecia muito bem a viva do Santos, Dona Crislia, fizera bons piqueniques com o casal na Ilha do Governador. Santos fora seu parceiro de bilhar e de pescaria. Grande praa. Ele era padrinho do filho mais velho de Santos. Deixara trs rfos, coitado. E tirou da carteira uma foto, um grupo de praia. L estavam Santos, muito lpido, sorrindo, a outra mulher, os trs garotos. No havia dvida: era ele mesmo, seu marido. Contudo,7a outra realidade de Santos era to destacada da sua, que o tornava outro homem, completamente desconhecido, irreconhecvel. Desculpe, foi engano.8A pessoa a que me refiro no esta disse Dona Laurinha, despedindo- se. (Carlos Drummond de Andrade) Era conferente da Alfndega mas isso no tem importncia. (ref.14) O narrador caracteriza, no trecho acima transcrito, o personagem, para, logo em seguida, dizer que tal classificao irrelevante. Marque a alternativa que explica a razo dessa aparente contradio.
(EsPECx - 2010) Cultivado no Brasil por Machado de Assis, uma narrativa voltada para a anlise psicolgica e crtica da sociedade a partir do comportamento de determinados personagens. O texto acima refere-se ao romance
(EsPCEx - 2010) o perodo que caracteriza principalmente a segunda metade do sculo XVIII, tingindo as artes de uma nova tonalidade burguesa. Vive-se o Sculo das Luzes, o Iluminismo burgus, que prepara o caminho para a Revoluo Francesa. O texto acima refere-se ao
(EsPCEx- 2010) Quanto Literatura Brasileira, assinale a alternativa correta.
(EsPCEx - 2010) A Reforma foi um movimento religioso ocorrido no sculo XVI, marcado pelo surgimento de novas religies crists. Dentre suas consequncias, observamos
(EsPCEx - 2010) Uma das prticas mercantilistas europeias implicava na proibio de se exportar certas matrias- primas que poderiam favorecer o crescimento industrial em outros pases, a fim de evitar possveis concorrncias. Tal prtica ficou conhecida por
(EsPCEx - 2010) Dada a seguinte equao de xido-reduo: Cr(OH)3(aq) + IO31-(aq)+OH1-(aq)CrO42-(aq) + I1-(aq) + H2O() Considerando o mtodo de balanceamento de equaes qumicas por oxi-reduo, a soma total dos coeficientes mnimos e inteiros das espcies envolvidas, aps o balanceamento da equao inica, e o agente oxidante so, respectivamente,
(EsPCEx - 2010)Os pases desenvolvidos, de uma maneira geral, apresentam baixas taxas de crescimento demogrfico, sobretudo em funo do reduzido crescimento natural que desconsidera o saldo migratrio. Com relao a esses pases, possvel afirmar que
(EsPCEx - 2010)Assinale a alternativa correta: Dados: Elemento qumico C (Carbono) N (Nitrognio) Cl (Cloro) H (Hidrognio) Nmero Atmico Z = 6 Z = 7 Z = 17 Z = 1
(EsPCEx - 2010) Assinale a alternativa que ordena, de forma decrescente, a participao de cada uma das fontes de energia em relao ao total consumido no mundo.
(EsPCEx - 2010) Leia atentamente os itens abaixo e assinale a nica alternativa em que todos os itens listam caractersticas corretas da Colonizao Europeia na Amrica. I. O grande motivo da ida de ingleses para a Amrica do Norte foram as perseguies religiosas e polticas. II. Ao contrrio do que ocorreu na Amrica espanhola e na Amrica portuguesa, a Coroa inglesa foi a grande articuladora da colonizao na Amrica do Norte. III. Ao longo do Sculo XVI, os franceses estiveram na Amrica, mas no como uma atitude sistemtica e coerente da Coroa. Eram, na maioria das vezes, os corsrios e uns poucos indivduos que atuavam. IV. A mita era um sistema de diviso da produo agrcola entre os donos das haciendas (fazendas) e os miteiros (arrendatrios), adotado pelos espanhis para colonizar a Amrica. V. Para operar seu imenso comrcio mundial, os holandeses criaram grandes empresas mercantis e de navegao, como a Companhia Holandesa das ndias Ocidentais.
(EsPCEx - 2010)Trs blocos A, B e C de massas 4 kg, 6 kg e 8 kg, respectivamente,so dispostos, conforme representado no desenho abaixo, em um local onde a acelerao dagravidade g vale 10m/s2 . Desprezando todas as foras de atrito e considerando ideais as polias e os fios, a intensidadeda fora horizontal que deve ser aplicada ao bloco A, para que o bloco C suba verticalmentecom uma acelerao constante de 2m/s2 , de:
(EsPCEx - 2010) Sobre o Governo Geral, instalado no Brasil pelo regimento de 1548, pode-se afirmar que
(EsPCEx - 2010) O territrio brasileiro est contido na Plataforma Americana, que uma das trs grandes unidades geolgicas da Amrica do Sul. Essa Plataforma abrange trs vastos escudos cristalinos. Assinale a alternativa que apresenta esses trs escudos.