(FUVEST - 2022 - 1ª fase)
Largo em sentir, em respirar sucinto,
Peno, e calo, tão fino, e tão atento,
Que fazendo disfarce do tormento
Mostro que o não padeço, e sei que o sinto.
O mal, que fora encubro, ou que desminto,
Dentro no coração é que o sustento:
Com que, para penar é sentimento,
Para não se entender, é labirinto.
Ninguém sufoca a voz nos seus retiros;
Da tempestade é o estrondo efeito:
Lá tem ecos a terra, o mar suspiros.
Mas oh do meu segredo alto conceito!
Pois não me chegam a vir à boca os tiros
Dos combates que vão dentro no peito.
Gregório de Matos e Guerra
No soneto, o eu lírico:
expressa um conflito que confirma a imagem pública do poeta, conhecido pelo epíteto de “o Boca do Inferno”.
opta por sufocar a própria voz como estratégia apaziguadora de suas perturbações de foro íntimo.
explora a censura que o autor sofreu em sua época, ao ser impedido de dar expressão aos seus sentimentos.
estabelece, nos tercetos, um contraponto semântico entre as metáforas da natureza e da guerra.
revela-se como um ser atormentado, ao mesmo tempo que omite a natureza de seu sofrimento.