(FUVEST - 2024) Entre os anos de 2012 e 2022, o nmero de pessoas autodeclaradas pretas e pardas aumentou em uma taxa superior do crescimento do total da populao do pas, segundo o resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD) Contnua do IBGE. No caso dos negros, essa porcentagem variou de 7,4% em 2012 para 10,6% em 2022. (...) uma das hipteses para o crescimento da proporo que a percepo racial tenha mudado dentro da populao, nos ltimos anos. O Globo, 22/07/2022; CNN Brasil, 16/06/2023. Pois bem, justamente a partir da que aparece a necessidade de teorizar as raas como o que elas so, ou seja, construtos sociais, formas de identidade baseadas numa ideia biolgica errnea, mas eficaz, socialmente, para construir, manter e reproduzir diferenas e privilgios. Se as raas no existem num sentido estritamente realista de cincia, ou seja, se no so um fato do mundo fsico, so, contudo, plenamente existentes no mundo social, produtos de formas de classificar e de identificar que orientam as aes dos seres humanos. GUIMARES, Antnio Sergio Alfredo. Raas e estudos de relaes raciais no Brasil. Novos Estudos CEBRAP, n.54, 1999. p.153. Relacionando os dados trazidos pela PNAD/IBGE e o conceito de raa do socilogo Antnio Sergio Alfredo Guimares, correto afirmar:
(FUVEST - 2024) Por qu? Porque pensar em direitos humanos tem um pressuposto: reconhecer que aquilo que consideramos indispensvel para ns tambm indispensvel para o prximo. (...). Nesse ponto as pessoas so frequentemente vtimas de uma curiosa obnubilao. Elas afirmam que o prximo tem direito, sem dvida, a certos bens fundamentais, como casa, comida, instruo, sade, coisas que ningum bem formado admite hoje em dia que sejam privilgio de minorias, como so no Brasil. Mas ser que pensam que seu semelhante pobre teria direito a ler Dostoievski ou ouvir os quartetos de Beethoven? (...). Ora, o esforo para incluir o semelhante no mesmo elenco de bens que reivindicamos est na base da reflexo sobre os direitos humanos. CANDIDO, Antonio. Vrios escritos. 3 ed. revista e ampliada. So Paulo: Duas Cidades, 1995. Com base na leitura do texto, pode-se afirmar que Antonio Candido defende que o acesso a bens como a literatura e a msica
(FUVEST - 2024) As socilogas, filsofas e ativistas feministas destacaram, com o conceito de reproduo social, algo que a teoria econmica ocultava: para que haja produo de bens e de servios necessrio que as pessoas que os produzem sejam, por sua vez, produzidas. O trabalho da reproduo social, portanto, cria e repe a condio primordial e necessria a existncia de pessoas que trabalham para que a produo econmica possa continuar ocorrendo. Em grande medida, esse trabalho relegado ao ambiente familiar e s mulheres: cuidado com os filhos, cuidado com doentes e idosos, preparao de alimentos, limpeza e arrumao da casa e outros. O trabalho de reproduo se ope, socialmente, ao trabalho de produo; este est inserido numa economia organizada com base em empresas nas fbricas, na agricultura, nos escritrios , voltado para o mercado e percebido como merecedor de contrapartida financeira: o salrio. Assim, mesmo quando um trabalho da esfera da reproduo se realiza por meio de uma relao de emprego, se for realizado por mulheres, ele costuma ser mal pago e desfrutar de menor prestgio. ARRUZZA, Cinzia; BATTACHARYA, Tithi; FRASER, Nancy. Feminismo para os 99%: um manifesto. So Paulo: Boitempo, 2019. A chamada economia do cuidado o conjunto de atividades no remuneradas, geralmente exercidas por mulheres, como a limpeza da casa, preparao de alimentos e os cuidados com crianas, idosos e doentes da famlia. Um pacote que vale 11% do PIB atual (...). Em valores, foram cerca de 634,3 bilhes de reais em 2015 [por exemplo]. (...) Contabilizar o valor dos afazeres domsticos no PIB do Brasil s se tornou possvel a partir de 2001, quando o IBGE introduziu na Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD) a pergunta referente ao nmero de horas despendido pela populao para executar essas atividades. Disponvel em https://www.cartacapital.com.br/. Nos textos apresentados, encontram-se dois conceitos, o de reproduo social e o de economia do cuidado. De acordo com as definies desses conceitos e com os dados indicados, qual das afirmaes a seguir est correta?
(FUVEST - 2024) Texto I W. I. Thomas, decano dos socilogos norte-americanos, formula um teorema bsico para as cincias sociais: Se os indivduos definem as situaes como reais, elas so reais em suas consequncias. (...) A primeira parte do teorema constitui uma incessante lembrana de que os homens reagem no somente aos traos objetivos de uma situao, como tambm, e s vezes principalmente, ao sentido que a situao tem para eles. E, assim que atriburam algum sentido situao, sua conduta consequente, e algumas das consequncias dessa conduta, so determinadas pelo sentido atribudo. (...) A profecia que se cumpre por si mesma , inicialmente, uma definio falsa da situao que provoca uma nova conduta, a qual, por sua vez, converte em verdadeiro o conceito originalmente falso. MERTON, Robert. Sociologia: Teoria e Estrutura. So Paulo: Editora Mestre Jou, 1970. p.515-517. Texto II Depois de alguns anos inseridos nesta lgica de abuso e privaes de distintos tipos, o detento novamente colocado em liberdade. (...) Conseguir um trabalho no to fcil como parece, j que mesmo as atividades menos qualificadas e manuais (como as relacionadas a limpeza, servios gerais, construo civil, dentre outras) demandam atestado de bons antecedentes e a marca da passagem pela cadeia pode significar um indesejvel pertencimento ao mundo do crime (Ramalho, 2018, p. 91). (...) O fator [condicionante da reincidncia] mais citado, presente em 44% dos textos [sobre o tema], foi a baixa qualificao e as poucas oportunidades, sendo essa a explicao padro de boa parte da literatura para a reincidncia. RIBEIRO, Ludmila; OLIVEIRA, Valria. Reincidncia e reentrada na priso no Brasil: o que os estudos dizem sobre os fatores que contribuem para essa trajetria. Artigo Estratgico 56. So Paulo: Instituto Igarap, 2022. p.10-14. Aplicando a noo proposta por Robert Merton, no texto I, ao cenrio descrito no texto II, qual definio da situao das pessoas egressas do sistema prisional pelos possveis empregadores no mercado de trabalho tornaria a reincidncia criminal uma profecia que se cumpre por si mesma?
(FUVEST - 2020) TEXTO PARA AS QUESTES DE 25 A 27 Assigning female genders to digital assistants such as Apples Siri and Amazons Alexa is helping entrench harmful gender biases, according to a UN agency. Research released by Unesco claims that the often submissive and flirty responses offered by the systems to many queries including outright abusive ones reinforce ideas of women as subservient. Because the speech of most voice assistants is female, it sends a signal that women are obliging, docile and eager‐to‐ please helpers, available at the touch of a button or with a blunt voice command like hey or OK, the report said. The assistant holds no power of agency beyond what the commander asks of it. It honours commands and responds to queries regardless of their tone or hostility. In many communities, this reinforces commonly held gender biases that women are subservient and tolerant of poor treatment. The Unesco publication was entitled Id Blush if I Could; a reference to the response Apples Siri assistant offers to the phrase: Youre a slut. Amazons Alexa will respond: Well, thanks for the feedback. The paper said such firms were staffed by overwhelmingly male engineering teams and have built AI (Artificial Intelligence) systems that cause their feminised digital assistants to greet verbal abuse with catch‐me‐if‐you‐can flirtation. Saniye Glser Corat, Unescos director for gender equality, said: The world needs to pay much closer attention to how, when and whether AI technologies are gendered and, crucially, who is gendering them. The Guardian, May, 2019. Adaptado. Conforme o texto, em relao s mulheres, um efeito decorrente do fato de assistentes digitais reforarem esteretipos de gnero
(FUVEST - 2016 - 1 FASE) Na Belle poque brasileira, que difusamente coincidiu com a transio para o regime republicano, surgiram aquelas perguntas cruciais, envoltas no oxignio mental da poca, muitas das quais, contudo, nos incomodam at hoje: como construir uma nao se no tnhamos uma populao definida ou um tipo definido? Frente quele amlgama de passado efuturo, alimentado e realimentado pela Repblica, quem era o brasileiro? (...) Inmeras tentativas de respostas a todas estas questes mobilizaram os intelectuais brasileiros durante vrias dcadas. Elias Thom Saliba. Razes do riso. So Paulo: Companhia das Letras, 2002. Entre as tentativas de responder, durante a Belle poque brasileira, s dvidas mencionadas no texto, correto incluir
(FUVEST - 2007 - 2 fase - Questo 8) A flor e a nusea Preso minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta. Melancolias, mercadorias espreitam-me. Devo seguir at o enjo? Posso, sem armas, revoltar-me? Olhos sujos no relgio da torre: No, o tempo no chegou de completa justia. O tempo ainda de fezes, maus poemas, alucinaes e espera. O tempo pobre, o poeta pobre fundem-se no mesmo impasse. Em vo me tento explicar, os muros so surdos. Sob a pele das palavras h cifras e cdigos. (...) Carlos Drummond de Andrade, A rosa do povo. a) Em A rosa do povo, o poeta se declara anticapitalista. Nos trs primeiros versos do excerto, esse anticapitalismo se manifesta? Justifique sucintamente sua resposta. b) De acordo com os dois ltimos versos do excerto, como se manifesta, no campo da linguagem, o impasse de que fala o poeta? Explique resumidamente.