04) (Insper 2012)
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria, e, enfim,
converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía*.
Luís Vaz de Camões
*soía: Imperfeito do indicativo do verbo soer, que significa costumar, ser de costume
Assinale a alternativa em que se analisa corretamente o sentido dos versos de Camões.
a) O foco temático do soneto está relacionado à instabilidade do ser humano, eternamente insatisfeito com as suas condições de vida e com a inevitabilidade da morte.
b) Pode-se inferir, a partir da leitura dos dois tercetos, que, com o passar do tempo, a recusa da instabilidade se torna maior, graças à sabedoria e à experiência adquiridas.
c) Ao tratar de mudanças e da passagem do tempo, o soneto expressa a ideia de circularidade,já que ele se baseia no postulado da imutabilidade.
d) Na segunda estrofe, o eu lírico vê com pessimismo as mudanças que se operam no mundo,porque constata que elas são geradoras de um mal cuja dor não pode ser superada.
e) As duas últimas estrofes autorizam concluir que a ideia de que nada é permanente não passa de uma ilusão.