(Mackenzie - 2004)
A Júlio Prestes dava movimento e éramos explorados por um só. O jornaleiro. Dono da banca dos jornais e das caixas de engraxar, do lugar e do dinheiro, ele só agarrava a grana. Engraxar, não; ele lá com seus jornais. Eu bem podia me virar na Estação da Luz.Também rendia lá. Fazia ali muito freguês de subúrbio e até de outras cidades. Franco da Rocha, Perus, Jundiaí … Descidos dos trens, marmiteiros ou trabalhadores do comércio, das lojas, gente do escritório da estrada de ferro, todo esse povo de gravata que ganha mal. Mas que me largava o carvão, o mocó, a gordura, o maldito, o tutu, o pororó, o mango, o vento, a granuncha. A seda, a gaita, a grana, a gaitolina (…). Aquele um de que eu precisava para me agüentar nas pernas sujas, almoçando banana, pastéis, sanduíches.
João Antônio
Encontra-se, no texto
a tematização da vida do migrante nordestino, aspecto muito explorado pelos escritores modernistas da geração de 1930, como Jorge Amado e Graciliano Ramos.
a sintaxe prolixa, em que predomina o uso de subordinação, e a abundância de neologismos, característica que também está presente no “regionalismo universalizante” de Guimarães Rosa.
a tematização da violência praticada pelo menor abandonado nas grandes cidades, aspecto presente na literatura brasileira desde o início do século XX.
uma linguagem marcada por índices de oralidade, traço valorizado também pelos modernistas da primeira geração.
a linguagem regionalista do personagem e o experimentalismo estético do narrador, que refletem a principal tendência estilística da prosa realista brasileira do século XIX.