(UEL 2017 - 2a fase)
Leia, a seguir, o comentário crítico sobre o romance O Ateneu, de Raul Pompeia, e o fragmento extraído da obra.
Acumulam-se situações e experiências, como reflexos de caracteres e intenções, selecionados e comunicados do ponto de vista subjetivo do autor-personagem. Assim, a memória evocadora sofre contínuas interferências subconscientes, de forma a substituir a noção de tempo objetivo pela duração interior e ir de encontro aos processos realistas então frequentes de abordagem ou observação da vida. O ângulo de visão do mundo ou da realidade é essencialmente subjetivo, impondo-se como o principal elemento de unidade da obra. Domina nela a presença de Sérgio adolescente sob a vigilância esclarecedora de Sérgio adulto, na pessoa do romancista, pelo que se pode falar em autor-personagem. Essa correlação se impõe pela necessidade imperiosa de reconquistar o equilíbrio da experiência passada, mas que continua a atuar no presente de maneira opressiva.
(CANDIDO, A.; CASTELLO, J. A. Presença da Literatura Brasileira: história e antologia. I Das origens ao realismo. 5.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1992. p.349-350.)
Aludi várias vezes ao revestimento exterior de divindade com que se apresentava habitualmente Aristarco. Era um manto transparente, da natureza daquele tecido leve de brisas trançadas de Gautier, manto sobrenatural que Aristarco passava aos ombros, revelando do estofo nada mais que o predicado de majestade, geralmente estranho à indústria pouco abstrata dos tecelões e à trama concreta das lançadeiras. Ninguém conseguia tocar com o dedo a misteriosa púrpura. Sentia-se, porém, o influxo da realeza impalpável. Assim é que um simples olhar do diretor imobilizava o colégio fulminantemente, como se levasse no brilho ameaças de todo um despotismo cruento.
(POMPEIA, R. O Ateneu. 4.ed. São Paulo: Martin Claret, 2013. cap.4. p.69-70.)
Com base na leitura do fragmento crítico e do trecho destacado da obra, explique a correlação entre Sérgio adolescente e Sérgio adulto.