(UFU - 2019 - 2ª FASE)
A produção em série sobre o tema globalização nas últimas décadas tem preenchido livros, artigos, blogs, sites e plataformas inteiras, tornando o assunto um mantra nas agendas de desenvolvimento do século presente. É compreensível e importante o tamanho do espaço dado ao tema, em especial pela avalanche tecnológica, que impacta diretamente o nosso cotidiano. Entretanto, quando nos deparamos com o tempo cronológico e o tempo social dessa conectividade global, encontramos de novo a diferença social, que, não sendo alinhada ao mundo real, passa a
ser a indiferença reinante de nossa espacialidade de convivência.
Considero, assim, a indiferença social um dos resultados mais perigosos e complexos da virtualização das relações sociais, por isso a preocupação para ajustar urgentemente essa conta tem que ser ponto de reflexão das sociedades humanas. Um curtir, compartilhar, copiar ou colar não nos salvará do mundo de clicks, que deliberadamente se tornou o sentimento de pertença no mundo atual, como se a quantidade de seguidores ou amigos nas redes sociais resolvesse o elo perdido da dignidade humana no que se refere a valores como de outrora, do tempo da vovó, quando a palavra valia a honra, o cuidado com o outro era premissa básica da cidadania e o respeito e a solidariedade ainda navegavam pela condição de valores inexoráveis de pertencimento.
Essa interconectividade, que nos é servida diariamente como o santo graal da perpetuação da espécie, nos impõe novamente uma ameaça evolutiva, nos distanciando disfarçadamente, como
se nos aproximasse pelas telas de alta resolução, do falar em grupo para um monólogo trancafiado num quarto, com uma câmera à frente, falando de tudo, sobre tudo para muitos, para poucos ou para si mesmo, sem se preocupar com esse outro, que a certa altura já se tornou uma mãozinha,
em sinal de curtir a inteligência virtual.
Estar antenado, ligado, conectado é totalmente diferente de estar junto, presente, perto e vivo. Essa presença é preponderante para sobrevivermos a essa onda minimalista da inclusão digital a
todo e a qualquer custo, considerando-se que estar em conexão com tudo que advém da tecnologia se tornou um critério de pertença. É evidente que a tecnologia que pressupõe a globalização nos
cria muitas vantagens e benefícios, mas o bom uso de todo esse aparato é o que vai nos dar os referenciais de para onde estamos caminhando com a presença do humano.
Filosofia, Ano X, No 42, setembro, 2018, p. 12-13.
A) Redija um texto, evidenciando dois argumentos utilizados pelo autor para defender a ideia de que a conectividade pode ameaçar a nossa evolução.
B) Redija um parágrafo, explicitando a predominância do presente do indicativo no texto.