(UNESP - 2023) Para responder s questes de 07 a 10, leia o captulo CXVII do romance Quincas Borba, de Machado de Assis. A histria do casamento de Maria Benedita curta; e, posto Sofia a ache vulgar, vale a pena diz-la. Fique desde j admitido que, se no fosse a epidemia das Alagoas, talvez no chegasse a haver casamento; donde se conclui que as catstrofes so teis, e at necessrias. Sobejam exemplos; mas basta um contozinho que ouvi em criana, e que aqui lhes dou em duas linhas. Era uma vez uma choupana que ardia na estrada; a dona, um triste molambo de mulher, chorava o seu desastre, a poucos passos, sentada no cho. Seno quando, indo a passar um homem brio, viu o incndio, viu a mulher, perguntou-lhe se a casa era dela. minha, sim, meu senhor; tudo o que eu possua neste mundo. D-me ento licena que acenda ali o meu charuto? O padre que me contou isto certamente emendou o texto original; no preciso estar embriagado para acender um charuto nas misrias alheias. Bom padre Chagas! Chamava-se Chagas. Padre mais que bom, que assim me incutiste por muitos anos essa ideia consoladora, de que ningum, em seu juzo, faz render o mal dos outros; no contando o respeito que aquele bbado tinha ao princpio da propriedade, a ponto de no acender o charuto sem pedir licena dona das runas. Tudo ideias consoladoras. Bom padre Chagas! (Quincas Borba, 2012.) No captulo, o estilo adotado pelo narrador caracteriza-se como
(UNESP - 2023) Para responder s questes de 07 a 10, leia o captulo CXVII do romance Quincas Borba, de Machado de Assis. A histria do casamento de Maria Benedita curta; e, posto Sofia a ache vulgar, vale a pena diz-la. Fique desde j admitido que, se no fosse a epidemia das Alagoas, talvez no chegasse a haver casamento; donde se conclui que as catstrofes so teis, e at necessrias. Sobejam exemplos; mas basta um contozinho que ouvi em criana, e que aqui lhes dou em duas linhas. Era uma vez uma choupana que ardia na estrada; a dona, um triste molambo de mulher, chorava o seu desastre, a poucos passos, sentada no cho. Seno quando, indo a passar um homem brio, viu o incndio, viu a mulher, perguntou-lhe se a casa era dela. minha, sim, meu senhor; tudo o que eu possua neste mundo. D-me ento licena que acenda ali o meu charuto? O padre que me contou isto certamente emendou o texto original; no preciso estar embriagado para acender um charuto nas misrias alheias. Bom padre Chagas! Chamava-se Chagas. Padre mais que bom, que assim me incutiste por muitos anos essa ideia consoladora, de que ningum, em seu juzo, faz render o mal dos outros; no contando o respeito que aquele bbado tinha ao princpio da propriedade, a ponto de no acender o charuto sem pedir licena dona das runas. Tudo ideias consoladoras. Bom padre Chagas! (Quincas Borba, 2012.) No trecho Sobejam exemplos; mas basta um contozinho que ouvi em criana, e que aqui lhes dou em duas linhas. (1o pargrafo), a incluso do leitor na narrativa pode ser constatada pelo termo
(UNESP-1 FASE) Leia o soneto Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia, do poeta Gregrio de Matos (1636-1696), para responder s questes de 09 a 12. A cada canto um grande conselheiro, Que nos quer governar cabana e vinha; No sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro. Em cada porta um bem frequente olheiro, Que a vida do vizinho e da vizinha Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha, Para o levar praa e ao terreiro. Muitos mulatos desavergonhados, Trazidos sob os ps os homens nobres, Posta nas palmas toda a picardia, Estupendas usuras nos mercados, Todos os que no furtam muito pobres: E eis aqui a cidade da Bahia. (Gregrio de Matos. Poemas escolhidos, 2010.) 1Trazidos sob os ps os homens nobres: na viso de Gregrio de Matos, os mulatos em ascenso subjugam com esperteza os verdadeiros homens nobres. O soneto de Gregrio de Matos constitui um exemplo da sua poesia de teor
(UNESP - 2023) Para responder s questes de 07 a 10, leia o captulo CXVII do romance Quincas Borba, de Machado de Assis. A histria do casamento de Maria Benedita curta; e, posto Sofia a ache vulgar, vale a pena diz-la. Fique desde j admitido que, se no fosse a epidemia das Alagoas, talvez no chegasse a haver casamento; donde se conclui que as catstrofes so teis, e at necessrias. Sobejam exemplos; mas basta um contozinho que ouvi em criana, e que aqui lhes dou em duas linhas. Era uma vez uma choupana que ardia na estrada; a dona, um triste molambo de mulher, chorava o seu desastre, a poucos passos, sentada no cho. Seno quando, indo a passar um homem brio, viu o incndio, viu a mulher, perguntou-lhe se a casa era dela. minha, sim, meu senhor; tudo o que eu possua neste mundo. D-me ento licena que acenda ali o meu charuto? O padre que me contou isto certamente emendou o texto original; no preciso estar embriagado para acender um charuto nas misrias alheias. Bom padre Chagas! Chamava-se Chagas. Padre mais que bom, que assim me incutiste por muitos anos essa ideia consoladora, de que ningum, em seu juzo, faz render o mal dos outros; no contando o respeito que aquele bbado tinha ao princpio da propriedade, a ponto de no acender o charuto sem pedir licena dona das runas. Tudo ideias consoladoras. Bom padre Chagas! (Quincas Borba, 2012.) A histria do casamento de Maria Benedita curta; e, posto Sofia a ache vulgar, vale a pena diz-la. (1o pargrafo) No contexto em que se insere, a orao sublinhada expressa ideia de
(UNESP - 2023) Para responder s questes 11 e 12, leia alguns trechos do Prefcio Interessantssimo de Pauliceia Desvairada, de Mrio de Andrade, obra considerada marco do Modernismo brasileiro e publicada originalmente em julho de 1922. Leitor: Est fundado o Desvairismo. * Este prefcio, apesar de interessante, intil. * Quando sinto a impulso lrica escrevo sem pensar tudo o que meu inconsciente me grita. Penso depois: no s para corrigir, como para justificar o que escrevi. Da a razo deste Prefcio Interessantssimo. * E desculpe-me por estar to atrasado dos movimentos artsticos atuais. Sou passadista, confesso. Ningum pode se libertar duma s vez das teorias-avs que bebeu; e o autor deste livro seria hipcrita se pretendesse representar orientao moderna que ainda no compreende bem. * No sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. Tenho pontos de contato com o futurismo. Oswald de Andrade, chamando-me de futurista, errou. A culpa minha. Sabia da existncia do artigo e deixei que sasse. Tal foi o escndalo, que desejei a morte do mundo. Era vaidoso. Quis sair da obscuridade. Hoje tenho orgulho. No me pesaria reentrar na obscuridade. Pensei que se discutiriam minhas ideias (que nem so minhas): discutiram minhas intenes. * Um pouco de teoria? Acredito que o lirismo, nascido no subconsciente, acrisolado num pensamento claro ou confuso, cria frases que so versos inteiros, sem prejuzo de medir tantas slabas, com acentuao determinada. (Mrio de Andrade. Poesias completas, 2013.) Ao enfatizar o papel do inconsciente na atividade criativa, o Prefcio Interessantssimo expe uma potica que revela afinidades com a esttica
(UNESP-1 FASE) Leia o soneto Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia, do poeta Gregrio de Matos (1636-1696), para responder s questes de 09 a 12. A cada canto um grande conselheiro, Que nos quer governar cabana e vinha; No sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro. Em cada porta um bem frequente olheiro, Que a vida do vizinho e da vizinha Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha, Para o levar praa e ao terreiro. Muitos mulatos desavergonhados, Trazidos sob os ps os homens nobres, Posta nas palmas toda a picardia, Estupendas usuras nos mercados, Todos os que no furtam muito pobres: E eis aqui a cidade da Bahia. (Gregrio de Matos.Poemas escolhidos, 2010.) 1Trazidos sob os ps os homens nobres: na viso de Gregrio de Matos, os mulatos em ascenso subjugam com esperteza os verdadeiros homens nobres. No soneto, o pronome o refere-se a
(UNESP-1 FASE) Leia o soneto Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia, do poeta Gregrio de Matos (1636-1696), para responder s questes de 09 a 12. A cada canto um grande conselheiro, Que nos quer governar cabana e vinha; No sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro. Em cada porta um bem frequente olheiro, Que a vida do vizinho e da vizinha Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha, Para o levar praa e ao terreiro. Muitos mulatos desavergonhados, Trazidos sob os ps os homens nobres, Posta nas palmas toda a picardia, Estupendas usuras nos mercados, Todos os que no furtam muito pobres: E eis aqui a cidade da Bahia. (Gregrio de Matos.Poemas escolhidos, 2010.) 1Trazidos sob os ps os homens nobres: na viso de Gregrio de Matos, os mulatos em ascenso subjugam com esperteza os verdadeiros homens nobres. No soneto, verifica-se rima entre palavras de classes gramaticais diferentes
(UNESP - 2023) Para responder s questes 11 e 12, leia alguns trechos do Prefcio Interessantssimo de Pauliceia Desvairada, de Mrio de Andrade, obra considerada marco do Modernismo brasileiro e publicada originalmente em julho de 1922. Leitor: Est fundado o Desvairismo. * Este prefcio, apesar de interessante, intil. * Quando sinto a impulso lrica escrevo sem pensar tudo o que meu inconsciente me grita. Penso depois: no s para corrigir, como para justificar o que escrevi. Da a razo deste Prefcio Interessantssimo. * E desculpe-me por estar to atrasado dos movimentos artsticos atuais. Sou passadista, confesso. Ningum pode se libertar duma s vez das teorias-avs que bebeu; e o autor deste livro seria hipcrita se pretendesse representar orientao moderna que ainda no compreende bem. * No sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. Tenho pontos de contato com o futurismo. Oswald de Andrade, chamando-me de futurista, errou. A culpa minha. Sabia da existncia do artigo e deixei que sasse. Tal foi o escndalo, que desejei a morte do mundo. Era vaidoso. Quis sair da obscuridade. Hoje tenho orgulho. No me pesaria reentrar na obscuridade. Pensei que se discutiriam minhas ideias (que nem so minhas): discutiram minhas intenes. * Um pouco de teoria? Acredito que o lirismo, nascido no subconsciente, acrisolado num pensamento claro ou confuso, cria frases que so versos inteiros, sem prejuzo de medir tantas slabas, com acentuao determinada. (Mrio de Andrade. Poesias completas, 2013.) Mrio de Andrade recorre metalinguagem no seguinte trecho:
(UNESP-1 FASE) Examine a tirinha da cartunista Laerte, publicada em sua conta do Instagram em 28.03.2022. A se acreditar na narrativa do sapo,
(UNESP-1 FASE) Para responder s questes de 14 a 19, leia o trecho de um ensaio de Michel de Montaigne (1533-1592). H alguma razo em fazer o julgamento de um homem pelos aspectos mais comuns de sua vida; mas, tendo em vista a natural instabilidade de nossos costumes e opinies, muitas vezes me pareceu que mesmo os bons autores esto errados em se obstinarem em formar de ns uma ideia constante e slida. Escolhem um carter universal e, seguindo essa imagem, vo arrumando e interpretando todas as aes de um personagem, e, se no conseguem torc-las o suficiente, atribuem-nas dissimulao. Creio mais dificilmente na constncia dos homens do que em qualquer outra coisa, e em nada mais facilmente do que na inconstncia. Quem os julgasse nos pormenores e separadamente, pea por pea, teria mais ocasies de dizer a verdade. Em toda a Antiguidade difcil escolher uma dzia de homens que tenham ordenado sua vida num projeto definido e seguro, que o principal objetivo da sabedoria. Pois para resumi-la por inteiro numa s palavra e abranger em uma s todas as regras de nossa vida, a sabedoria, diz um antigo, sempre querer a mesma coisa, sempre no querer a mesma coisa, eu no me dignaria, diz ele, a acrescentar contanto que a tua vontade esteja certa, pois se no est certa, impossvel que sempre seja uma s e a mesma. Na verdade, aprendi outrora que o vcio apenas o desregramento e a falta de moderao; e, por conseguinte, impossvel o imaginarmos constante. uma frase de Demstenes, dizem, que o comeo de toda virtude so a reflexo e a deliberao, e seu fim e sua perfeio, a constncia. Se, guiados pela reflexo, pegssemos certa via, pegaramos a mais bela, mas ningum pensa antes de agir: O que ele pediu, desdenha; exige o que acaba de abandonar; agita-se e sua vida no se dobra a nenhuma ordem. (Michel de Montaigne. Os ensaios: uma seleo, 2010. Adaptado.) De acordo com Montaigne, as aes humanas caracterizam-se
(UNESP-1 FASE) Para responder s questes de 14 a 19, leia o trecho de um ensaio de Michel de Montaigne (1533-1592). H alguma razo em fazer o julgamento de um homem pelos aspectos mais comuns de sua vida; mas, tendo em vista a natural instabilidade de nossos costumes e opinies, muitas vezes me pareceu que mesmo os bons autores esto errados em se obstinarem em formar de ns uma ideia constante e slida. Escolhem um carter universal e, seguindo essa imagem, vo arrumando e interpretando todas as aes de um personagem, e, se no conseguem torc-las o suficiente, atribuem-nas dissimulao. Creio mais dificilmente na constncia dos homens do que em qualquer outra coisa, e em nada mais facilmente do que na inconstncia. Quem os julgasse nos pormenores e separadamente, pea por pea, teria mais ocasies de dizer a verdade. Em toda a Antiguidade difcil escolher uma dzia de homens que tenham ordenado sua vida num projeto definido e seguro, que o principal objetivo da sabedoria. Pois para resumi-la por inteiro numa s palavra e abranger em uma s todas as regras de nossa vida, a sabedoria, diz um antigo, sempre querer a mesma coisa, sempre no querer a mesma coisa, eu no me dignaria, diz ele, a acrescentar contanto que a tua vontade esteja certa, pois se no est certa, impossvel que sempre seja uma s e a mesma. Na verdade, aprendi outrora que o vcio apenas o desregramento e a falta de moderao; e, por conseguinte, impossvel o imaginarmos constante. uma frase de Demstenes, dizem, que o comeo de toda virtude so a reflexo e a deliberao, e seu fim e sua perfeio, a constncia. Se, guiados pela reflexo, pegssemos certa via, pegaramos a mais bela, mas ningum pensa antes de agir: O que ele pediu, desdenha; exige o que acaba de abandonar; agita-se e sua vida no se dobra a nenhuma ordem. (Michel de Montaigne. Os ensaios: uma seleo, 2010. Adaptado.) Do ponto de vista temtico, o texto de Montaigne dialoga especialmente com a seguinte citao:
(UNESP-1 FASE) Para responder s questes de 14 a 19, leia o trecho de um ensaio de Michel de Montaigne (1533-1592). H alguma razo em fazer o julgamento de um homem pelos aspectos mais comuns de sua vida; mas, tendo em vista a natural instabilidade de nossos costumes e opinies, muitas vezes me pareceu que mesmo os bons autores esto errados em se obstinarem em formar de ns uma ideia constante e slida. Escolhem um carter universal e, seguindo essa imagem, vo arrumando e interpretando todas as aes de um personagem, e, se no conseguem torc-las o suficiente, atribuem-nas dissimulao. Creio mais dificilmente na constncia dos homens do que em qualquer outra coisa, e em nada mais facilmente do que na inconstncia. Quem os julgasse nos pormenores e separadamente, pea por pea, teria mais ocasies de dizer a verdade. Em toda a Antiguidade difcil escolher uma dzia de homens que tenham ordenado sua vida num projeto definido e seguro, que o principal objetivo da sabedoria. Pois para resumi-la por inteiro numa s palavra e abranger em uma s todas as regras de nossa vida, a sabedoria, diz um antigo, sempre querer a mesma coisa, sempre no querer a mesma coisa, eu no me dignaria, diz ele, a acrescentar contanto que a tua vontade esteja certa, pois se no est certa, impossvel que sempre seja uma s e a mesma. Na verdade, aprendi outrora que o vcio apenas o desregramento e a falta de moderao; e, por conseguinte, impossvel o imaginarmos constante. uma frase de Demstenes, dizem, que o comeo de toda virtude so a reflexo e a deliberao, e seu fim e sua perfeio, a constncia. Se, guiados pela reflexo, pegssemos certa via, pegaramos a mais bela, mas ningum pensa antes de agir: O que ele pediu, desdenha; exige o que acaba de abandonar; agita-se e sua vida no se dobra a nenhuma ordem. (Michel de Montaigne.Os ensaios: uma seleo, 2010. Adaptado.) No primeiro pargrafo, Montaigne ressalta que mesmo os bons autores tendem a
(UNESP-1 FASE) Para responder s questes de 14 a 19, leia o trecho de um ensaio de Michel de Montaigne (1533-1592). H alguma razo em fazer o julgamento de um homem pelos aspectos mais comuns de sua vida; mas, tendo em vista a natural instabilidade de nossos costumes e opinies, muitas vezes me pareceu que mesmo os bons autores esto errados em se obstinarem em formar de ns uma ideia constante e slida. Escolhem um carter universal e, seguindo essa imagem, vo arrumando e interpretando todas as aes de um personagem, e, se no conseguem torc-las o suficiente, atribuem-nas dissimulao. Creio mais dificilmente na constncia dos homens do que em qualquer outra coisa, e em nada mais facilmente do que na inconstncia. Quem os julgasse nos pormenores e separadamente, pea por pea, teria mais ocasies de dizer a verdade. Em toda a Antiguidade difcil escolher uma dzia de homens que tenham ordenado sua vida num projeto definido e seguro, que o principal objetivo da sabedoria. Pois para resumi-la por inteiro numa s palavra e abranger em uma s todas as regras de nossa vida, a sabedoria, diz um antigo, sempre querer a mesma coisa, sempre no querer a mesma coisa, eu no me dignaria, diz ele, a acrescentar contanto que a tua vontade esteja certa, pois se no est certa, impossvel que sempre seja uma s e a mesma. Na verdade, aprendi outrora que o vcio apenas o desregramento e a falta de moderao; e, por conseguinte, impossvel o imaginarmos constante. uma frase de Demstenes, dizem, que o comeo de toda virtude so a reflexo e a deliberao, e seu fim e sua perfeio, a constncia. Se, guiados pela reflexo, pegssemos certa via, pegaramos a mais bela, mas ningum pensa antes de agir: O que ele pediu, desdenha; exige o que acaba de abandonar; agita-se e sua vida no se dobra a nenhuma ordem. (Michel de Montaigne.Os ensaios: uma seleo, 2010. Adaptado.) No segundo pargrafo, depreende-se das reflexes de Montaigne a ntima relao entre
(UNESP-1 FASE) Para responder s questes de 14 a 19, leia o trecho de um ensaio de Michel de Montaigne (1533-1592). H alguma razo em fazer o julgamento de um homem pelos aspectos mais comuns de sua vida; mas, tendo em vista a natural instabilidade de nossos costumes e opinies, muitas vezes me pareceu que mesmo os bons autores esto errados em se obstinarem em formar de ns uma ideia constante e slida. Escolhem um carter universal e, seguindo essa imagem, vo arrumando e interpretando todas as aes de um personagem, e, se no conseguem torc-las o suficiente, atribuem-nas dissimulao. Creio mais dificilmente na constncia dos homens do que em qualquer outra coisa, e em nada mais facilmente do que na inconstncia. Quem os julgasse nos pormenores e separadamente, pea por pea, teria mais ocasies de dizer a verdade. Em toda a Antiguidade difcil escolher uma dzia de homens que tenham ordenado sua vida num projeto definido e seguro, que o principal objetivo da sabedoria. Pois para resumi-la por inteiro numa s palavra e abranger em uma s todas as regras de nossa vida, a sabedoria, diz um antigo, sempre querer a mesma coisa, sempre no querer a mesma coisa, eu no me dignaria, diz ele, a acrescentar contanto que a tua vontade esteja certa, pois se no est certa, impossvel que sempre seja uma s e a mesma. Na verdade, aprendi outrora que o vcio apenas o desregramento e a falta de moderao; e, por conseguinte, impossvel o imaginarmos constante. uma frase de Demstenes, dizem, que o comeo de toda virtude so a reflexo e a deliberao, e seu fim e sua perfeio, a constncia. Se, guiados pela reflexo, pegssemos certa via, pegaramos a mais bela, mas ningum pensa antes de agir: O que ele pediu, desdenha; exige o que acaba de abandonar; agita-se e sua vida no se dobra a nenhuma ordem. (Michel de Montaigne.Os ensaios: uma seleo, 2010. Adaptado.) Em eu no me dignaria [...] a acrescentar contanto que a tua vontade esteja certa, pois se no est certa, impossvel que sempre seja uma s e a mesma. (2pargrafo), a locuo sublinhada pode ser substituda, sem prejuzo para o sentido do texto, por:
(UNESP-1 FASE) Para responder s questes de 14 a 19, leia o trecho de um ensaio de Michel de Montaigne (1533-1592). H alguma razo em fazer o julgamento de um homem pelos aspectos mais comuns de sua vida; mas, tendo em vista a natural instabilidade de nossos costumes e opinies, muitas vezes me pareceu que mesmo os bons autores esto errados em se obstinarem em formar de ns uma ideia constante e slida. Escolhem um carter universal e, seguindo essa imagem, vo arrumando e interpretando todas as aes de um personagem, e, se no conseguem torc-las o suficiente, atribuem-nas dissimulao. Creio mais dificilmente na constncia dos homens do que em qualquer outra coisa, e em nada mais facilmente do que na inconstncia. Quem os julgasse nos pormenores e separadamente, pea por pea, teria mais ocasies de dizer a verdade. Em toda a Antiguidade difcil escolher uma dzia de homens que tenham ordenado sua vida num projeto definido e seguro, que o principal objetivo da sabedoria. Pois para resumi-la por inteiro numa s palavra e abranger em uma s todas as regras de nossa vida, a sabedoria, diz um antigo, sempre querer a mesma coisa, sempre no querer a mesma coisa, eu no me dignaria, diz ele, a acrescentar contanto que a tua vontade esteja certa, pois se no est certa, impossvel que sempre seja uma s e a mesma. Na verdade, aprendi outrora que o vcio apenas o desregramento e a falta de moderao; e, por conseguinte, impossvel o imaginarmos constante. uma frase de Demstenes, dizem, que o comeo de toda virtude so a reflexo e a deliberao, e seu fim e sua perfeio, a constncia. Se, guiados pela reflexo, pegssemos certa via, pegaramos a mais bela, mas ningum pensa antes de agir: O que ele pediu, desdenha; exige o que acaba de abandonar; agita-se e sua vida no se dobra a nenhuma ordem. (Michel de Montaigne.Os ensaios: uma seleo, 2010. Adaptado.) o comeo de toda virtude so a reflexo e a deliberao, e seu fim e sua perfeio, a constncia (2pargrafo) Nesse trecho, a segunda vrgula empregada com a finalidade de