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VestibularEdição do vestibular
Disciplina

(UNESP - 2024)Para responder s questes 29 e 30, le

(UNESP - 2024)

Para responder às questões 29 e 30, leia o conto cokwe* “A lebre e o camaleão” e o trecho de uma crônica da escritora angolana Ana Paula Tavares, escrita sobre esse conto.

*cokwe: relativo ao povo cokwe, uma etnia banta que se concentra sobretudo no nordeste de Angola.

 

“Dizem os antigos que a lebre e o camaleão resolveram ir pelos caminhos das caravanas levando borracha para permutar pelos belos tecidos vindos de oriente e ocidente.

Muitas vezes a acelerada lebre ultrapassou e cruzou o lento camaleão nos longos caminhos do mato, levando produtos e trazendo panos, gritando-lhe enquanto desaparecia: — Cá vou eu!

Ao desafio respondia o camaleão: — Chegarei a meu tempo.

Finalmente, a lebre, assim como adquiriu bonitos panos, também os perdeu, nos percalços da desordenada pressa, e anda para aí vestida dum cinzento escuro e sem cor.

O lento e pautado camaleão juntou farta fazenda, e tanta e tão diferente, que ainda hoje muda, a todo o instante, panos de variado colorido.”

(“A lebre e o camaleão”. Apud Ana Paula Tavares. Um rio preso nas mãos, 2019.)

 

***

Este conto cokwe parece resolver com felicidade questões da história do continente africano e lidar com uma apreensão do real e do imaginário. A escolha das personagens da história é, em si, uma das apostas destes contadores e cultores da linguagem que, de uma vez por todas, poupam a tartaruga desta disputa vulgar e da tensão de uma corrida. À tartaruga estão reservados outros papéis, noutras histórias que lidam com os sentidos profundos da vida e da morte, do dia e da noite.

O jogo com a linguagem permite-nos perceber a história profunda das viagens que, em momentos diferentes, estiveram na origem da formação dos cokwe como grupo autônomo: origens, terras ancestrais, relação com outros grupos, adoção de novos costumes e ainda assim fidelização a um núcleo duro das origens. Sob sua superfície aparentemente simples, esta história esconde todos os mitos de fundação, rituais de passagem e a escrita da história. Tudo ali faz sentido: as personagens, a língua que falam e as vestes que as tornam atores de um complexo processo histórico. O resto é a lentidão e o desenho na areia que se faz só para ser apagado.

(Ana Paula Tavares. Um rio preso nas mãos, 2019. Adaptado.)

 

a) Cite um provérbio que poderia servir como “moral da história” para o conto cokwe. Justifique sua resposta.

b) Reescreva em discurso indireto o seguinte trecho do conto cokwe: “Ao desafio respondia o camaleão: — Chegarei a meu tempo.”