(UNICAMP - 2017 - 1 FASE) Alm de escrever Dom Quixote das crianas, MonteiroLobato tambm leva o cavaleiro errante para o Stio doPica-Pau Amarelo. L na varanda Dom Quixote conversava com Dona Benta sobre as aventuras, e muito admirado ficou de saber que sua histria andava a correr mundo; escrita por um tal de Cervantes. Nem quis acreditar; foi preciso que Narizinho lhe trouxesse a edio de luxo ilustrada por Gustavo Dor. O fidalgo folheou o livro muito atento s gravuras, que achou timas, porm falsas. Isso no passa duma mistificao! protestou ele. Esta cena aqui, por exemplo. Est errada. Eu no espetei este frade, como o desenhista pintou espetei aquele l. Isto inevitvel - disse Dona Benta. Os historiadores costumam arranjar os fatos do modo mais cmodo para eles; por isto a Histria no passa de histrias. Na cena narrada,
(UNICAMP - 2017 - 2 FASE) Leia a seguir a crnica adaptada O crtico teatral vai ao casamento, de Millr Fernandes. Como espetculo, o casamento da Senhorita Ldia Teles de Souza com o Sr. Herval Nogueira foi realmente um dos mais irregulares a que temos assistido nos ltimos tempos. A noiva parecia muito nervosa, nervosismo justificado por estar estreando em casamentos (o que no se podia dizer do noivo, que tem muita experincia de altar) de modo que at sua dico foi prejudicada. O noivo representou o seu papel com firmeza, embora um tanto frio. Disse sim ou aceito (no ouvimos bem porque a acstica da abadia pssima). Fora os pequenos senes notados, teremos que chamar a ateno, naturalmente, para o coroinha, que a todo momento coava a cabea, completamente indiferente representao, como se no participasse dela. A msica tambm foi mal escolhida, numa prova de terrvel mau-gosto. O fato de a noiva chegar atrasada tambm deixou altamente impacientes os espectadores, que mostraram evidentes sinais de nervosismo. A sua entrada, porm, foi espetacular, e rendeu-lhe os melhores parabns ao fim do espetculo. Lamentamos apenas e tomamos como um deplorvel sinal dos tempos a qualidade do arroz jogado sobre os noivos. (Adaptado de Millr Fernandes, Trinta anos de mim mesmo. So Paulo: Crculo do livro, 1972, p. 78.) a) O cronista recorre analogia para construir uma aproximao entre o casamento e uma pea teatral. Mostre, com trechos do texto, dois usos desse recurso: um com referncia noiva e outro com referncia ao noivo. b) Identifique duas expresses adverbiais que foram usadas pelo cronista para acentuar sua crtica humorstica ao casamento como espetculo.
(UNICAMP - 2017 - 2 FASE) Leia o texto a seguir e responda s questes. Os anos correm entre um sculo e outro, mas os problemas permanecem os mesmos para os kalungas*. Quilombolas** que h mais de 200 anos encontraram lar entre os muros de pedra da Chapada dos Veadeiros, na regio norte do Estado de Gois, os kalungas ainda vivem com pouca ou quase nenhuma infraestrutura. De todos os abusos sofridos at hoje, um em particular deixa essa comunidade em carne viva: os silenciosos casos de violncia sexual contra meninas. Entretanto, passado o af das denncias de abuso sexual que figuraram em grandes reportagens da imprensa nacional em abril do ano passado, a comunidade retornou ao seu curso natural. E assim os kalungas continuam a viver no esquecimento, no abandono e, principalmente, no medo. As vtimas no viram seus algozes punidos. O silncio prevalece e grita alto naquelas que se arriscaram a mostrar suas feridas. O sentimento o de ter se exposto em vo. (Adaptado de Jssica Raphaela e Camila Silva, O silncio atrs da serra. Revista Azmina. Disponvel em http://azmina.com.br/secao/osilencio-atras-da-serra/. Acessado em 03/10/ 2016.) * Kalungas: habitantes da comunidade do quilombo Kalunga, maior territrio quilombola do pas. ** Quilombolas: termo atribudo aos remanescentes de quilombosˮ. Atualmente, h no Brasil cerca de 2.600 comunidades quilombolas certificadas pela Fundao Cultural dos Palmares. a) Identifique no texto dois motivos para o sofrimento histrico vivido pela comunidade quilombola Kalunga. b) No final do texto h uma figura de linguagem conhecida como paradoxo. Quais termos so utilizados para se obter esse efeito de sentido?
(UNICAMP - 2017 - 1 FASE) Na tira acima, o autor retoma um clebre lema retirado doManifesto Comunista (1848), de Karl Marx e FriedrichEngels: Operrios do mundo, uni-vos!. Considerando os sentidos produzidos pela tirinha, corretoafirmar que nela se l
(UNICAMP - 2017 - 2 FASE) Leia o excerto abaixo, adaptado do ensaio Para que servem as humanidades?, de Leyla Perrone-Moiss. As humanidades servem para pensar a finalidade e a qualidade da existncia humana, para alm do simples alongamento de sua durao ou do bem-estar baseado no consumo. Servem para estudar os problemas de nosso pas e do mundo, para humanizar a globalizao. Tendo por objeto e objetivo o homem, a capacidade que este tem de entender, de imaginar e de criar, esses estudos servem vida tanto quanto a pesquisa sobre o genoma. Num mundo informatizado, servem para preservar, de forma articulada, o saber acumulado por nossa cultura e por outras, estilhaado no imediatismo da mdia e das redes. Em tempos de informao excessiva e superficial, servem para produzir conhecimento; para agregar valorˮ, como se diz no jargo mercadolgico. Os cursos de humanidades so um espao de pensamento livre, de busca desinteressada do saber, de cultivo de valores, sem os quais a prpria ideia de universidade perde sentido. Por isso merecem o apoio firme das autoridades universitrias e da sociedade, que eles estudam e qual servem. Adaptado de Leyla Perrone-Moiss, Para que servem as humanidades? Folha de So Paulo, So Paulo, 30 jun. 2002, Caderno Mais!. a) As expresses agregar valorˮ e cultivo de valoresˮ, embora aparentemente prximas pelo uso da mesma palavra, produzem efeitos de sentido distintos. Explique-os. b) Na ltima orao do texto, so utilizados dois elementos coesivos: elesˮ e qualˮ. Aponte a que se refere, respectivamente, cada um desses elementos.
(UNICAMP - 2017 - 1 FASE) Em depoimento, Paulo Freire fala da necessidade de umatarefa educativa: trabalhar no sentido de ajudar os homens eas mulheres brasileiras a exercer o direito de poder estar de pno cho, cavando o cho, fazendo com que o cho produzamelhor um direito e um dever nosso. A educao uma daschaves para abrir essas portas. Eu nunca me esqueo de umafrase linda que eu ouvi de um educador, campons de umgrupo de Sem Terra: pela fora do nosso trabalho, pela nossaluta, cortamos o arame farpado do latifndio e entramos nele,mas quando nele chegamos, vimos que havia outros aramesfarpados, como o arame da nossa ignorncia. Ento eu percebique quanto mais inocentes, tanto melhor somos para os donosdo mundo. (...) Eu acho que essa uma tarefa que no spoltica, mas tambm pedaggica. No h Reforma Agrriasem isso. (Adaptado de Roseli Salete Galdart, Pedagogia do Movimento Sem Terra: escola mais que escola. So Paulo: Expresso Popular, 2008, p. 172.) No excerto adaptado que voc leu, h meno a outros aramesfarpados, como o arame da nossa ignorncia. Trata-se deuma figura de linguagem para
(UNICAMP - 2017 - 2 FASE) Leia o seguinte trecho do conto Amor, de Clarice Lispector. Ento ela viu: o cego mascava chicles... Um homem cego mascava chicles. Ana ainda teve tempo de pensar por um segundo que os irmos viriam jantar o corao batia-lhe violento, espaado. Inclinada, olhava o cego profundamente, como se olha o que no nos v. Ele mastigava goma na escurido. Sem sofrimento, com os olhos abertos. O movimento de mastigao fazia-o parecer sorrir e de repente deixar de sorrir, sorrir e deixar de sorrir como se ele a tivesse insultado, Ana olhava-o. E quem a visse teria a impresso de uma mulher com dio. (Clarice Lispector, Laos de famlia. Rio de Janeiro: Rocco, 2009, p. 21-22.) a) Em textos de Clarice Lispector, comum que um acontecimento banal se transforme em um momento perturbador na vida das personagens. Considerando o contexto do conto Amor, indique que tipo de inquietaes o acontecimento narrado acima acarreta na vida da personagem. b) A frase olhava o cego profundamente, como se olha o que no nos v sugere uma maneira pouco comum de olhar para as coisas. Explique o sentido que tem esse olhar profundo, a partir dali, na caracterizao da personagem Ana.
(UNICAMP - 2017 - 1 FASE) Do ponto de vista da norma culta, correto afirmar quecoisarˮ
(UNICAMP - 2017 - 2 FASE) Leia com ateno os excertos abaixo de Lisbela e o prisioneiro. LISBELA: Compre um curi para mim. DR. NOMIO: No, Lisbela, eu no gosto de ver animais presos. CITONHO: Por qu, Doutor? DR.NOMIO: Por que isso malvadez. Os animais foram feitos para viver em liberdade. PARABA: E como que que o Doutor est me vendo aqui preso e nem se importa? DR. NOMIO: Voc um animal? (Osman Lins, Lisbela e o prisioneiro. So Paulo: Planeta, 2003, p. 25.) DR.NOMIO: Lisbela, vamos. Voc minha noiva, no deve opor-se s minhas convices. As convices do homem devem ser, optarum causa, as de sua esposa ou noiva. (Ibidem.) a) Nos trechos citados, esto presentes duas atitudes caractersticas do Dr. Nomio com implicaes morais, que so desmascaradas pelo efeito cmico do texto. Quais so essas duas atitudes caractersticas com implicaes morais? b) No segundo excerto, a expresso minhas convices dita de forma solene e expressa um valor social. Que valor esse e que tipo de sociedade est sendo caracterizado por tal enunciado?
(UNICAMP - 2017 - 1 FASE) Assinale a alternativa correta.
(UNICAMP -2017 - 1 FASE) No dia 21 de setembro de 2015, Srgio Rodrigues, crtico literrio, comentou que apontar no ttulo do filme Que horas ela volta? um erro de portugus revelaviso curta sobre como a lngua funciona. E justifica: O ttulo do filme, tirado da fala de um personagem, est em registro coloquial. Que ano voc nasceu? Que srie voc estuda? e frases do gnero so familiares a todos os brasileiros, mesmo com alto grau de escolaridade. Ser preciso reafirmar a esta altura do sculo 21 que obras de arte tm liberdade para transgresses muito maiores? Pretender que uma obra de fico tenha o mesmo grau de formalidade de um editorial de jornal ou relatrio de firma revela um jeito autoritrio de compreender o funcionamento no s da lngua, mas da arte tambm. Adaptado do blog Melhor Dizendo. Post completo disponvel em:http://www.melhordizendo.com/a-que-horas-ela-volta-em-que-ano-estamos-mesmo/.Acessado em: 08/06/2016. Entre os excertos de estudiosos da linguagem reproduzidos a seguir, assinale aquele que corrobora os comentrios do post
(UNICAMP - 2017 - 2 FASE) Leia o soneto abaixo, de Lus de Cames. Enquanto quis Fortuna que tivesse esperana de algum contentamento, o gosto de um suave pensamento me fez que seus efeitos escrevesse. Porm, temendo Amor que aviso desse minha escritura a algum juzo isento, escureceu-me o engenho com tormento, para que seus enganos no dissesse. vs, que Amor obriga a ser sujeitos a diversas vontades! Quando lerdes num breve livro casos to diversos, verdades puras so, e no defeitos... E sabei que, segundo o amor tiverdes, Tereis o entendimento de meus versos! (Disponvel em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000164.pdf. Acessado em 02/08/2016.) a) Nos dois quartetos do soneto acima, duas divindades so contrapostas por exercerem um poder sobre o eu lrico. Identifique as duas divindades e explique o poder que elas exercem sobre a experincia amorosa do eu lrico. b) Um soneto uma composio potica composta de 14 versos. Sua forma fixa e seus ltimos versos encerram o ncleo temtico ou a ideia principal do poema. Qual a ideia formulada nos dois ltimos versos desse soneto de Cames, levando-se em considerao o conjunto do poema?
(UNICAMP - 2017 - 1 FASE) Caligrafia (Arnaldo Antunes) Arte do desenho manual das letras e palavras. Territrio hbrido entre os cdigos verbal e visual. A caligrafia est para a escrita como a voz est para a fala. A cor, o comprimento e espessura das linhas, a disposio espacial, a velocidade dos traos da escrita correspondem a timbre, ritmo, tom, cadncia, melodia do discurso falado. Entonao grfica. Assim como a voz apresenta a efetivao fsica do discurso (o ar nos pulmes, a vibrao das cordas vocais, os movimentos da lngua), a caligrafia tambm est intimamente ligada ao corpo, pois carrega em si os sinais de maior fora ou delicadeza, rapidez ou lentido, brutalidade ou leveza do momento de sua feitura. Adaptado de https://www.arnaldoantunes.com.br. Acessado em 12/07/2016. Em Caligrafia, o autor
(UNICAMP - 2017 - 1 FASE) Uma peripcia, uma reviravolta nas circunstncias, deuma hora para outra transforma uma sequncia rotineira deacontecimentos numa histria. Jerome Bruner, Fabricando histrias. Direito, literatura, vida. So Paulo: Letra eVoz, 2014, p.15. Levando-se em conta a noo acima proposta por JeromeBruner, qual a peripcia que ocorre no terceiro ato dapea Lisbela e o prisioneiro?
(UNICAMP - 2017 - 1 FASE) O romance Memrias pstumas de Brs Cubas consideradoum divisor de guas tanto na obra de Machado de Assis quantona literatura brasileira do sculo XIX. Indique a alternativa emque todas as caractersticas mencionadas podem seradequadamente atribudas ao romance em questo.