(UNICAMP - 2019 - 1ª fase)
Para driblar a censura imposta pela ditadura militar,
compositores de música popular brasileira (MPB) valiam-se
do que Gilberto Vasconcelos chamou de “linguagem da
fresta”, expressão inspirada na canção “Festa imodesta”,
de Caetano Veloso.
(...)
Numa festa imodesta como esta
Vamos homenagear
Todo aquele que nos empresta sua testa
Construindo coisas pra se cantar
Tudo aquilo que o malandro pronuncia
E que o otário silencia
Toda festa que se dá ou não se dá
Passa pela fresta da cesta e resta a vida.
Acima do coração que sofre com razão
A razão que volta do coração
E acima da razão a rima
E acima da rima a nota da canção
Bemol natural sustenida no ar
Viva aquele que se presta a esta ocupação
Salve o compositor popular
(Gilberto de Vasconcelos, Música popular: de olho na fresta. Rio de Janeiro: Graal, 1977.)
É correto afirmar que, na canção, essa “linguagem da fresta” transparece
na contradição entre “festa” e “fresta”, que funciona como crítica ao malandro.
na repetição de palavras com pronúncia semelhante para louvar a MPB.
na referência à “fresta” como forma de o compositor se pronunciar.
na incoerência da rima entre “festa” e “imodesta” para prestigiar o compositor.