(UNICAMP - 2019 - 2 fase)
O xeque-mate - do persa shāh māt: o rei está morto - ocupa uma função controversa nas leis do jogo de xadrez. Trata-se de uma expressão que designa o lance final - é quando um dos reis não tem mais qualquer possibilidade de movimento. De saída, e nisso consiste o primeiro traço de ambivalência da expressão, a rigor, o rei não morre. Pode-se dizer até que o rei agoniza - mas de seu destino quase nada sabemos. Em resumo, o xeque-mate é exatamente, negando o que enuncia a expressão, o lance anterior ao que podemos chamar de morte. Diferentemente do senso comum, que vê grandeza naquele que luta até o último instante - a saber, até a morte -, o jogador de xadrez deve ter a medida de seu esforço. Saber abandonar uma partida no momento certo, portanto, é uma demonstração de domínio da própria derrota. A morte, por jamais tornar-se concreta, fica sendo pura potência. Talvez seja este caráter inacabado - o jogo acaba sempre antes de acabar - que concede, afinal, ao jogo de xadrez, na forma de rito, a possibilidade de um eterno recomeçar.
(Adaptado de Victor da Rosa, “Xeque-mate”. Disponível em http://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/xequemate.html. Acessado em 04/09/2018.)
a) Victor da Rosa afirma que há uma ambivalência na expressão “xeque-mate”. Explique-a.
b) Explique, com dois argumentos, por que a posição do autor quanto à grandeza do jogo de xadrez contraria o senso comum.