(UNICAMP - 2021 - 1 fase) Repartimos a vida em idades, em anos, em meses, em dias, em horas, mas todas estas partes so to duvidosas, e to incertas, que no h idade to florente, nem sade to robusta, nem vida to bem regrada, que tenha um s momento seguro. Antonio Vieira, Sermo de Quarta-feira de Cinza ano de 1673, em A arte de morrer. So Paulo: Nova Alexandria, 1994, p. 79. Nesta passagem de um sermo proferido em 1673, Antnio Vieira retomou os argumentos da pregao que fizera no ano anterior e acrescentou novas caractersticas morte. Para comover os ouvintes, recorreu ao uso de anforas. Assinale a alternativa que corresponde ao efeito produzido pelas repeties no sermo.
(UNICAMP - 2021 - 1 fase - 2 dia de aplicao) Reputao! Ora, mame, e a senhora quem me fala nisso! Camila estacou, sem atinar com a resposta, compreendendo o alcance das palavras do filho. A surpresa paralisou-lhe a lngua; o sangue arrefeceu-selhe nas veias; mas, de repente, a reao sacudiu-a e ento, num desatino, ferida no corao, ela achou para o Mrio admoestaes mais speras. Percebeu que a lngua mais dizia que a sua vontade; mas no poderia cont-la. A dor atirava-a para diante, contra aquele filho, at ento poupado. (Jlia Lopes de Almeida, A falncia. Campinas: Editora da Unicamp, 2018, p. 123.) A passagem apresenta a reao de Camila s palavras de seu filho. Assinale a alternativa que explica corretamente o comentrio de Mrio.
(UNICAMP - 2021 - 2 FASE) Durante anos, Penlope esperou que seu marido, Ulisses, retornasse da Guerra de Troia (IX e VII a.C.). Essa viagem o tema da Odisseia, poema pico grego atribudo a Homero. Como os anos passavam e no havia notcias de Ulisses, o pai de Penlope sugeriu que ela se casasse novamente. Diante da insistncia do pai, resolveu aceitar a corte dos pretendentes, com a condio de que o novo casamento somente aconteceria depois que ela terminasse de tecer um sudrio, que ficou conhecido como Tela de Penlope, que serviria de mortalha para Laerte, pai de Ulisses. Durante o dia, aos olhos de todos, Penlope tecia, e noite, secretamente, desmanchava todo o trabalho. Com esse artifcio, adiava a escolha de outro marido at a volta de Ulisses. (Adaptado de Penlope, Wikipedia. Disponvel em https://pt.wikipedia.org/wiki/Pen%C3%A9lope. Acessado em 09/01/2021.) Penlope (I) O que o dia tece a noite esquece. O que o dia traa a noite esgara. De dia, tramas, de noite, traas. De dia, sedas, de noite, perdas. De dia, malhas, de noite, falhas (Ana Martins Marques, A vida submarina. Belo Horizonte: Scriptum, 2009, p. 105.) a) Como as palavras traa (na segunda estrofe) e traas (na terceira estrofe) constroem uma relao antittica no poema? b) No poema, a palavra tramas remete a Penlope por duas razes. Quais so elas? Explique.
(UNICAMP - 2021 - 1 FASE - 2 dia de aplicao) Num mundo dominado por homens, a mulher tratada como um ser diferenciado, que merece uma designao especial. Enquanto a expresso o homem pode equivaler a o ser humano, como na frase O homem mortal, a expresso a mulher s se refere aos seres humanos do gnero feminino. A lngua tambm revela um tratamentodiferente dado mulher na sociedade ao conter designaes especficas para ela, inexistentes para o homem. Assim, a mulher de um chefe de governo chamada de primeira-dama, mas o marido de uma mulher que desempenha aquele cargo no chamado de primeiro-cavalheiro. Conta-se que Ceclia Meireles recusava a designao de poetisa, por achar que esse termo no tinha a mesma conotao de poeta (usado para os homens), ao contrrio, soava at pejorativo. Por outro lado, Dilma Rousseff exigia que a tratassem por presidenta para enfatizar que quem ocupava o cargo de chefe da nao brasileira era finalmente uma mulher. (Adaptado de Francisco Jardes Nobre de Arajo, O machismo na linguagem. Disponvel em https://www.parabolablog.com.br/index.php/ blogs/o-machismona-linguagem?fbclid=IwAR0n7sVvu2mNioWa1Gpp0BZL4TP6Uo-hGK7DKyltgIxk d tRfoOaI6OEPCZE. Acessado em 05/06/2020.) Segundo o autor de O machismo na linguagem,
(UNICAMP - 2021 - 1 fase) De acordo com Helosa Starling, Serto uma palavra carregada de ambiguidade. Serto pode indicar a formao de um espao interno, a fronteira aberta, ou um pedao da geografia brasileira onde a terra se torna mais rida, o clima seco, a vegetao escassa. Mas a palavra igualmente utilizada para apontar uma realidade poltica: a inexistncia de limites, o territrio do vazio, a ausncia de leis, a precariedade dos direitos. Serto , paradoxalmente, o potencial de liberdade e o risco da barbrie alm de ser tambm uma paisagem fadada a desaparecer. Adaptado de Heloisa Murgel Starling, A palavra serto e uma histria pouco edificante sobre o Brasil. Disponvel em https://www.suplementopernambuco. com.br/artigos/2243-a-palavra-sert%C3%A3o-e-uma-hist%C3%B3ria-pouco-edifi cante-sobre-o-brasil.html. Acessado em 06/08/2020. Assinale o excerto que corresponde ideia de serto desenvolvida pela autora.
(UNICAMP - 2021 - 1 FASE - 2 dia de aplicao) A Amaznia em chamas, a censura voltando, a economia estagnada, e a pessoa quer falar de qu? Dos cafonas. Do imprio da cafonice que nos domina. O cafona fala alto e se orgulha de ser grosseiro e sem compostura. Acha que pode tudo. No h tica que caiba a ele. Enganar ok. Agredir ok. Gentileza, educao, delicadeza, para um convicto e ruidoso cafona, tudo coisa de maricas. O cafona fura filas, canta pneus e passa sermes. Despreza a cincia, porque ningum pode ser mais sabido que ele. O cafona quer ser autoridade, para poder dar carteiradas. Quer bajular o poderoso e debochar do necessitado. Quer andar armado. Quer tirar vantagem em tudo. Unidos, os cafonas fazem passeatas de apoio e protestos a favor. Atacam como hienas e se escondem como ratos. Existe algo mais brega do que um rico roubando? Algo mais chique do que um pobre honesto? sobre isso que a pessoa quer falar, apesar de tudo que est acontecendo. Porque s o bom gosto pode salvar este pas. (Adaptado de Fernanda Young, Bando de cafonas. Publicado em https: //oglobo.globo.com/cultura/em-sua-ultima-coluna-fernanda-young-sent enciacafonice-detesta-arte-23903168. Acessado em 27/05/2020.) *cafona: quem tem ou revela mau gosto (roupa cafona); que revela gosto ou atitude vulgares. (Adaptado de aulete.com.br.) Essa releitura do significado de cafona salienta
(UNICAMP - 2021 - 2 FASE) Leia abaixo alguns excertos do poema Menimelmetros, de Luz Ribeiro, poeta do Slam das Minas de So Paulo. Esse poema foi apresentado performaticamente em alguns slams de que ela participou no Brasil. os menino passam liso pelos becos e vielas os menino passam liso pelos becos e vielas os menino passam liso pelos becos e vielas voc que fala em becos e vielas sabe quantos centmetros cabem em um menino? sabe de quantos metros ele despenca quando uma bala perdida o encontra? Sabe quantos nos ele j perdeu a conta? (...) esses menino tudo sem educao que do bom dia, abrem at o porto to tudo fora das grades escolares nunca tiveram reforo de ningum mas reforam a fora e a ttica do trfico, mais um refm (...) que esses meninos sem nem carinho no tem carrinho no barbante pensa que bonito se fosse peixinho fora dgua a desbicar no cu mas ru na favela lhe fizeram pensar voos altos voa, voa, voa...aviozinho e os menino corre, corre, corre faz seus corres, corres, corres (...) ceis j pararam pra ouvir alguma vez os sonhos dos meninos? tudo coisa de centmetros: um pirulito, um picol um pai, uma me um chinelo que lhe caiba nos ps um aviso: quanto mais retinto o menino mais fcil de ser extinto seus centmetros no suportam 9 milmetros porque esses meninos esses meninos sentem metros a) O ttulo Menimelmetros um neologismo que funde ao menos duas palavras. Quais so essas palavras? Transcreva os versos que sintetizam o ttulo do poema. b) Na terceira estrofe, h um jogo de palavras. Identifique esse jogo de palavras e explique a relao de causa e consequncia estabelecida por ele.
(UNICAMP - 2021 - 1 fase) Entre os versos de Gilberto Gil transcritos a seguir, podemos identificar uma relao paradoxal em:
(UNICAMP - 2021 - 1 FASE) A Equipe AzMina fez um experimento buscando no Google frases para o Dia das Mes. E o resultado foi um festival de frases que romantizam a maternidade. Ativaram, ento, sua caneta desromantizadora para corrigir essas frases que estamos to acostumados a ouvir, e muitas vezes reproduzir. (Adaptado de Equipe AzMina, Caneta desromantizadora de mensagens de dia das mes. Disponvel em https://azmina.com.br/reportagens/caneta-desroman tizadora-de-mensagens-de-dia-das-maes/. Acessado em 09/05/2020.) As frases so desromantizadas porque a Equipe AzMina reconhece
(UNICAMP - 2021 - 1 FASE - 2 dia de aplicao) A Amaznia em chamas, a censura voltando, a economia estagnada, e a pessoa quer falar de qu? Dos cafonas. Do imprio da cafonice que nos domina. O cafona fala alto e se orgulha de ser grosseiro e sem compostura. Acha que pode tudo. No h tica que caiba a ele. Enganar ok. Agredir ok. Gentileza, educao, delicadeza, para um convicto e ruidoso cafona, tudo coisa de maricas. O cafona fura filas, canta pneus e passa sermes. Despreza a cincia, porque ningum pode ser mais sabido que ele. O cafona quer ser autoridade, para poder dar carteiradas. Quer bajular o poderoso e debochar do necessitado. Quer andar armado. Quer tirar vantagem em tudo. Unidos, os cafonas fazem passeatas de apoio e protestos a favor. Atacam como hienas e se escondem como ratos. Existe algo mais brega do que um rico roubando? Algo mais chique do que um pobre honesto? sobre isso que a pessoa quer falar, apesar de tudo que est acontecendo. Porque s o bom gosto pode salvar este pas. (Adaptado de Fernanda Young, Bando de cafonas. Publicado em https: //oglobo.globo.com/cultura/em-sua-ultima-coluna-fernanda-young-sent enciacafonice-detesta-arte-23903168. Acessado em 27/05/2020.) *cafona: quem tem ou revela mau gosto (roupa cafona); que revela gosto ou atitude vulgares. (Adaptado de aulete.com.br.) Em relao aos recursos de coeso usados na construo do texto, correto afirmar que:
(UNICAMP - 2021 - 1 FASE - 2 dia de aplicao) Texto 1 Algumas vozes nacionais esto tentando atualmente encaminhar a discusso em torno da identidade mestia, capaz de reunir todos os brasileiros (brancos, negros e mestios). Vejo nesta proposta uma nova sutileza ideolgica para recuperar a ideia da unidade nacional no alcanada pelo fracassado branqueamento fsico. Essa proposta de uma nova identidade mestia, nica, vai na contramo dos movimentos negros e de outras chamadas minorias, que lutam pela construo de uma sociedade plural e de identidades mltiplas. (Kabengele Munanga, Rediscutindo a mestiagem no Brasil: Identidade Nacional versus Identidade Negra. Petrpolis: Vozes, 1999, p. 16.) Texto 2 Os meus olhos coloridos/ Me fazem refletir/ Eu estou sempre na minha/ E no posso mais fugir/ Meu cabelo enrolado/ Todos querem imitar/ Eles esto baratinados/ Tambm querem enrolar/ Voc ri da minha roupa/ Voc ri do meu cabelo/ Voc ri da minha pele/ Voc ri do meu sorriso/ A verdade que voc,/ (Todo brasileiro tem!)/ Tem sangue crioulo/ Tem cabelo duro/ Sarar crioulo. (Macau, Olhos Coloridos, 1981, gravada por Sandra de S. lbum: Sandra de S. RCA.) Considerando o alerta de Munanga em relao a algumas vozes nacionais, a cano de Macau
(UNICAMP - 2021 - 1 fase) Entre todas as palavras do momento, a mais flamejante talvez seja desigualdade. E nem uma boa palavra, incomoda. Comea com des. Des de desalento, des de desespero, des de desesperana. Des, definitivamente, no um bom prefixo. Desigualdade. A palavra do ano, talvez da dcada, no importa em que dicionrio. Doravante ouviremos falar muito nela. De-si-gual-da-de. H quem no veja nem soletre, mas est escrita no destino de todos os buses da cidade, sentido centro/subrbio, na linha reta de um trem. Solano Trindade, no sinal fechado, fez seu primeiro rap, tem gente com fome, tem gente com fome, tem gente com fome, somente com esses substantivos. Voc ainda no conhece o Solano? Corra, d tempo. D tempo para voc entender que vivemos essa desigualdade. Pegue um buso da Avenida Paulista para a Cidade Tiradentes, passe o valetransporte na catraca e simbora mais de 30 quilmetros. O patro jardinesco vive 23 anos a mais, em mdia, do que um humanssimo habitante da Cidade Tiradentes, por todas as razes sociais que a gente bem conhece. Evitei as estatsticas nessa crnica. Podia matar de desesperana os leitores, os nmeros rendem manchete, mas carecem de rostos humanos. Pega a viso, imprensa, s h uma possibilidade de fazer a grande cobertura: mirese na desigualdade, talvez no haja mais jeito de achar que os pontos da bolsa de valores signifiquem a ideia de fazer um pas. Adaptado de Xico S, A vidinha sururu da desigualdade brasileira. Em El Pas, 28/10/2019. Disponvel em https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/28/opinion/ 1572287747_637859.html?fbclid=IwAR1VPA7qDYs1Q0Ilcdy6UGAJTwBO_snM DUAw4yZpZ3zyA1ExQx_XB9Kq2qU. Acessado em 25/05/2020. A crnica instiga o leitor a ficar atento desigualdade na cidade de So Paulo. Assinale a alternativa que identifica corretamente os recursos expressivos (estilsticos e literrios) de que se vale o autor.
(UNICAMP - 2021 - 1 fase) Entre todas as palavras do momento, a mais flamejante talvez seja desigualdade. E nem uma boa palavra, incomoda. Comea com des. Des de desalento, des de desespero, des de desesperana. Des, definitivamente, no um bom prefixo. Desigualdade. A palavra do ano, talvez da dcada, no importa em que dicionrio. Doravante ouviremos falar muito nela. De-si-gual-da-de. H quem no veja nem soletre, mas est escrita no destino de todos os buses da cidade, sentido centro/subrbio, na linha reta de um trem. Solano Trindade, no sinal fechado, fez seu primeiro rap, tem gente com fome, tem gente com fome, tem gente com fome, somente com esses substantivos. Voc ainda no conhece o Solano? Corra, d tempo. D tempo para voc entender que vivemos essa desigualdade. Pegue um buso da Avenida Paulista para a Cidade Tiradentes, passe o valetransporte na catraca e simbora mais de 30 quilmetros. O patro jardinesco vive 23 anos a mais, em mdia, do que um humanssimo habitante da Cidade Tiradentes, por todas as razes sociais que a gente bem conhece. Evitei as estatsticas nessa crnica. Podia matar de desesperana os leitores, os nmeros rendem manchete, mas carecem de rostos humanos. Pega a viso, imprensa, s h uma possibilidade de fazer a grande cobertura: mirese na desigualdade, talvez no haja mais jeito de achar que os pontos da bolsa de valores signifiquem a ideia de fazer um pas. Adaptado de Xico S, A vidinha sururu da desigualdade brasileira. Em El Pas, 28/10/2019. Disponvel em https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/28/opinion/ 1572287747_637859.html?fbclid=IwAR1VPA7qDYs1Q0Ilcdy6UGAJTwBO_snM DUAw4yZpZ3zyA1ExQx_XB9Kq2qU. Acessado em 25/05/2020. Assinale a alternativa que identifica corretamente recursos lingusticos explorados pelo autor nessa crnica.
(UNICAMP - 2021 - 1 FASE - 2 dia de aplicao) Dizer que Caetano falou X porque um leonino vaidoso quer dizer que: a) todo leonino vaidoso (se leonino, vaidoso), ou b) que ele pertence a um subconjunto de leoninos, os vaidosos? (o que d, no primeiro caso, leonino, que vaidoso e no segundo, leonino que vaidoso). (Srio Possenti, postagem na rede social Facebook, 8 de agosto de 2020.) Entre os comentrios postagem, qual deles responde corretamente pergunta do autor?
(UNICAMP - 2021 - 1 FASE - 2 dia de aplicao) TEXTO 1 antipoema preciso rasurar o cnone distorcer as regras as rimas as mtricas o padro a norma que prende a lngua os milionrios que se beneficiam do nosso silncio do medo de se dizer poeta, s assim ser livre a palavra (Ma Njanu idealizadora do Clube de Leitoras na periferia de Fortaleza e da Pretarau, Sarau das Pretas, coletivo de artistas negras. Disponvel em http://recantodasletras.com.br/poesias/6903974. Acessado em 20/05/2020.) TEXTO 2 O povo no estpido quando diz vou na escola, me deixe, carneirada, mapear, farra, vago, futebol. antes inteligentssimo nessa aparente ignorncia porque, sofrendo as influncias da terra, do clima, das ligaes e contatos com outras raas, das necessidades do momento e de adaptao, e da pronncia, do carter, da psicologia racial, modifica aos poucos uma lngua que j no lhe serve de expresso porque no expressa ou sofre essas influncias e a transformar afinal numa outra lngua que se adapta a essas influncias. (Carta de Mrio a Drummond, 18 de fevereiro de 1925, em Llia Coelho Frota, Carlos e Mrio: correspondncia completa entre Carlos Drummond de Andrade e Mrio de Andrade. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2002, p. 101.) Apesar de passados quase 100 anos, a carta de Mrio de Andrade ecoa no poema de Ma Njanu. Ambos os textos manifestam