(UNICAMP - 2023 - 1ª fase)
“Ciclo
Manhã. Sangue em delírio, verde gomo,
Promessa ardente, berço e liminar:
A árvore pulsa, no primeiro assomo
Da vida, inchando a seiva ao sol... Sonhar!
Dia. A flor, — o noivado e o beijo, como
Em perfumes um tálamo e um altar:
A árvore abre-se em riso, espera o pomo,
E canta à voz dos pássaros... Amar!
Tarde. Messe e esplendor, glória e tributo;
A árvore maternal levanta o fruto,
A hóstia da ideia em perfeição... Pensar!
Noite. Oh! saudade!...A dolorosa rama
Da árvore a aflita pelo chão derrama
As folhas, como lágrimas... Lembrar!”
(BILAC, Olavo. Tarde. 1.ed. Rio de Janeiro; São Paulo; Belo Horizonte: Libraria Francisco Alves, p. 12-13, 1919.)
No soneto “Ciclo”,
a reiteração de um mesmo tipo de frase no final de cada estrofe acentua o idealismo e a rememoração.
a metáfora da árvore faz uso de um vocabulário botânico, que evoca o cientificismo da época.
as frases nominais do início das estrofes contradizem os sentidos de cada estrofe anterior.
o paralelismo estrutural entre as estrofes de “Ciclo” evoca o desgaste dos recursos do poeta.