Um sarau o bocado mais delicioso que temos, de telhado abaixo. Em um sarau todo o mundo tem que fazer. O diplomata ajusta, com um copo de champagne na mo, os mais intrincados negcios; todos murmuram, e no h quem deixe de ser murmurado. O velho lembra-se dos minuetes e das cantigas do seu tempo, e o moo goza todos os regalos da sua poca; as moas so no sarau como as estrelas no cu; esto no seu elemento: aqui uma, cantando suave cavatina, eleva-se vaidosa nas asas dos aplausos, por entre os quais surde, s vezes, um bravssimo inopinado, que solta de l da sala do jogo o parceiro que acaba de ganhar sua partida no cart, mesmo na ocasio em que a moa se espicha completamente, desafinando um sustenido; da a pouco vo outras, pelos braos de seus pares, se deslizando pela sala e marchando em seu passeio, mais a compasso que qualquer de nossos batalhes da Guarda Nacional, ao mesmo tempo que conversam sempre sobre objetos inocentes que movem olhaduras e risadinhas apreciveis. Outras criticam de uma gorducha vov, que ensaca nos bolsos meia bandeja de doces que veio para o ch, e que ela leva aos pequenos que, diz, lhe ficaram em casa. Ali v-se um ataviado dandy que dirige mil finezas a uma senhora idosa, tendo os olhos pregados na sinh, que senta-se ao lado. Finalmente, no sarau no essencial ter cabea nem boca, porque, para alguns regra, durante ele, pensar pelos ps e falar pelos olhos. E o mais que ns estamos num sarau. Inmeros batis conduziram da corte para a ilha de... senhoras e senhores, recomendveis por carter e qualidades; alegre, numerosa e escolhida sociedade enche a grande casa, que brilha e mostra em toda a parte borbulhar o prazer e o bom gosto. Entre todas essas elegantes e agradveis moas, que com aturado empenho se esforam para ver qual delas vence em graas, encantos e donaires, certo sobrepuja a travessa Moreninha, princesa daquela festa. (Joaquim Manuel de Macedo. A Moreninha, 1997.) A forma como se d a construo do texto revela que ele predominantemente
(Unifesp 2013) Leia o poema Prece, de Fernando Pessoa. Senhor, a noite veio e a alma é vil. Tanta foi a tormenta e a vontade! Restam-nos hoje, no silêncio hostil, O mar universal e a saudade. Mas a chama, que a vida em nós criou, Se ainda há vida ainda não é finda. O frio morto em cinzas a ocultou: A mão do vento pode erguê-la ainda. Dá o sopro, a aragem ou desgraça ou ânsia , Com que a chama do esforço se remoça, E outra vez conquistaremos a Distância Do mar ou outra, mas que seja nossa! (Fernando Pessoa. Mensagem, 1995.) Extraído do livro Mensagem, o poema pode ser considerado nacionalista, na medida em que o eu lírico
(UNIFESP - 2013) O silncio a matria significante por excelncia, um continuum significante. O real da comunicao o silncio. E como o nosso objeto de reflexo o discurso, chegamos a uma outra afirmao que sucede a essa: o silncio o real do discurso. O homem est condenado a significar. Com ou sem palavras, diante do mundo, h uma injuno interpretao: tudo tem de fazer sentido (qualquer que ele seja). O homem est irremediavelmente constitudo pela sua relao com o simblico. Numa certa perspectiva, a dominante nos estudos dos signos, se produz uma sobreposio entre linguagem (verbal e no-verbal) e significao. Disso decorreu um recobrimento dessas duas noes, resultando uma reduo pela qual qualquer matria significante fala, isto , remetida linguagem (sobretudo verbal) para que lhe seja atribudo sentido. Nessa mesma direo, coloca-se o imprio do verbal em nossas formas sociais: traduz-se o silncio em palavras. V-se assim o silncio como linguagem e perde-se sua especificidade, enquanto matria significante distinta da linguagem. (Eni Orlandi. As formas do silncio, 1997.) Na orao do 4 pargrafo [...] para que lhe seja atribudo sentido. , o pronome lhe substitui a expresso