Texto 1 Recentemente, uma conhecida marca de materiais esportivos decidiu suspender as vendas de seu hijab esportivo (um leno que cobre o cabelo, mas deixa o rosto livre). Ele seria vendido em 49 pases. A empresa foi acusada de promover a violncia contra as mulheres muulmanas pelo fato de o hijab ser visto por vrias pessoas como um elemento opressivo. A ministra da sade da Frana, Agns Buzyn, afirmou que, embora o produto no seja proibido na Frana, no uma viso da mulher da qual eu compartilho: Eu preferiria que uma marca francesa no promovesse o leno. Tudo o que pode levar diferenciao entre mulheres e homens me incomoda. Aurore Berg, porta-voz do partido francs A Repblica em Marcha, tambm criticou a venda do produto, sugerindo um boicote rede: O esporte emancipa: ele no submete. Minha escolha como uma mulher e cidad ser deixar de depositar minha confiana em uma marca que afronta nossos valores. Outras pessoas, contudo, defenderam a marca pela ao inclusiva e lamentaram a deciso da empresa de suspender as vendas. Inicialmente, a empresa havia defendido a venda do hijab, alegando que era uma forma de tornar o esporte acessvel a todas as mulheres do mundo. (www.bbc.com, 27.02.2019. Adaptado.) Texto 2 Essa marca de materiais esportivos se submete ao islamismo, que tolera mulheres apenas quando tm a cabea coberta com um hijab para afirmar sua submisso aos homens. Ela, portanto, nega os valores da nossa civilizao no altar do mercado do marketing identitrio., declarou no Twitter a polmica Lydia Guirous, porta-voz do partido francs Os Republicanos. A marca respondeu a Guirous, tambm nas redes sociais: Fique tranquila, no negamos nenhum dos nossos valores. Sempre fizemos tudo para tornar o esporte mais acessvel em qualquer lugar do mundo. Esse hijab era uma necessidade de algumas praticantes de corrida, ento respondemos a essa necessidade esportiva. (https://operamundi.uol.com.br, 27.02.2019. Adaptado.) Com base nos textos apresentados e em seus prprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo, empregando a norma-padro da lngua portuguesa, sobre o tema: Vestimentas religiosas no esporte: legitimao da opresso ou liberdade de manifestao religiosa?
(UNIFESP - 2020) Leia a crnica Inconfiveis cupins, de Moacyr Scliar, para responder questo a seguir. Havia um homem que odiava Van Gogh. Pintor desconhecido, pobre, atribua todas suas frustraes ao artista holands. Enquanto existirem no mundo aqueles horrveis girassis, aquelas estrelas tumultuadas, aqueles ciprestes deformados, dizia, no poderei jamais dar vazo ao meu instinto criador. Decidiu mover uma guerra implacvel, sem quartel, s telas de Van Gogh, onde quer que estivessem. Comearia pelas mais prximas, as do Museu de Arte Moderna de So Paulo. Seu plano era de uma simplicidade diablica. No faria como outros destruidores de telas que entram num museu armados de facas e atiram-se s obras, tentando destru-las; tais insanos no apenas no conseguem seu intento, como acabam na cadeia. No, usaria um mtodo cientfico, recorrendo a aliados absolutamente insuspeitados: os cupins. Deu-lhe muito trabalho, aquilo. Em primeiro lugar, era necessrio treinar os cupins para que atacassem as telas de Van Gogh. Para isso, recorreu a uma tcnica pavloviana. Reprodues das telas do artista, em tamanho natural, eram recobertas com uma soluo aucarada. Dessa forma, os insetos aprenderam a diferenciar tais obras de outras. Mediante cruzamentos sucessivos, obteve um tipo de cupim que s queria comer Van Gogh. Para ele era repulsivo, mas para os insetos era agradvel, e isso era o que importava. Conseguiu introduzir os cupins no museu e ficou espera do que aconteceria. Sua decepo, contudo, foi enorme. Em vez de atacar as obras de arte, os cupins preferiram as vigas de sustentao do prdio, feitas de madeira absolutamente vulgar. E por isso foram detectados. O homem ficou furioso. Nem nos cupins se pode confiar, foi a sua desconsolada concluso. verdade que alguns insetos foram encontrados prximos a telas de Van Gogh. Mas isso no lhe serviu de consolo. Suspeitava que os sdicos cupins estivessem querendo apenas debochar dele. Cupins e Van Gogh, era tudo a mesma coisa. (O imaginrio cotidiano, 2002.) No trecho Enquanto existirem no mundo aqueles horrveis girassis, aquelas estrelas tumultuadas, aqueles ciprestes deformados, dizia, no poderei jamais dar vazo ao meu instinto criador (1 pargrafo), a sensao explicitada pelo pintor, em relao obra de Van Gogh, de
(UNIFESP 2019) Texto 1 A morte continua sendo um tabu. Por isso não falamos dela. Mas quando perguntamos às pessoas se têm medo da morte, elas costumam responder que, na verdade, têm medo do sofrimento. Da dor física, claro, mas também da dor psicológica de ter que continuar vivendo em condições insuportáveis. Sinto-me preso numa jaula, dizia Fabiano Antoniani, um tetraplégico italiano que vivia prostrado desde que sofreu um grave acidente, em 2014, que o deixou sem visão nem mobilidade. Sabia que ainda podia viver bastante tempo, porque o organismo de um homem forte de 40 anos pode aguentar muito, mas não queria seguir assim. No final de fevereiro, Antoniani foi à Suíça o único país, entre os seis nos quais a eutanásia (a ajuda ao suicídio) está legalizada, que admite estrangeiros. Ele mesmo, com um movimento dos lábios, acionou o mecanismo que introduziu o coquetel da morte em sua boca. A perspectiva de uma longa e penosa deterioração faz com que muitos cidadãos queiram decidir, por si sós, quando e como morrer. Nas palavras de Ramón Sampedro (tetraplégico espanhol que recorreu em vão aos tribunais para que o ajudassem a morrer), existe o direito à vida, mas não a obrigação de viver a qualquer preço. Este é o princípio no qual se baseiam os que propõem a despenalização da eutanásia. Ter acesso a uma morte medicamente assistida significaria uma extensão dos direitos civis. Romper o tabu da morte exige poder falar com naturalidade dela. A regulamentação da eutanásia precisa de uma deliberação informada, distante dos apriorismos e dos sectarismos ideológicos. Sempre haverá opositores porque consideram que as pessoas não podem dispor de sua vida pois ela só a Deus pertence. Os partidários da regulamentação lembram que o fato de que seja regulada não obriga ninguém a optar pela eutanásia. (Milagros Pérez Oliva. Quem decide como devemos morrer?. http://brasil.elpais.com, 01.04.2017. Adaptado.) Texto 2 Professor de antropologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista), Claudio Bertolli enxerga a eutanásia como uma questão de liberdade individual. Portanto, cabe ao indivíduo decidir o que fazer. Essa opinião é compartilhada por Reinaldo Ayer (coordenador do Centro de Bioética do Conselho Regional de Medicina de São Paulo): A pessoa deve ter todos os recursos para reverter ou minimizar uma situação de doença. Mas, mesmo com tudo isso, ela pode decidir por não continuar. Neste momento, tem que ser dada a ela a possibilidade de escolha. A juíza Mônica Silveira (autora do livro Eutanásia: humanizando a visão jurídica) fala que a liberdade ilimitada não é uma forma de proteger o cidadão: Começa como permissão e pode se tornar obrigação. Pode haver pressão social para que idosos e doentes recorram à prática. Quando você autoriza determinado tipo de prática, não tem como dominar os efeitos de propagação. Há seis anos trabalhando em UTIs na Secretaria de Saúde do Distrito Federal, o psicólogo Adriano Facioli é a favor da prática: Sem eutanásia as pessoas sofrem. Muitos que poderiam ocupar aquele leito morrem porque tem alguém condenado submetido a uma distanásia [morte lenta, com grande sofrimento]. O que o Estado faz é investir no sofrimento das pessoas, uma vez que não existe acesso aos cuidados paliativos nem a legalização da eutanásia. (Vida ou morte: os argumentos pró e contra sobre o direito de morrer por aqueles que convivem com a iminência do fim. https://tab.uol.com.br. Adaptado.) Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema: Eutanásia: entre a liberdade de escolha e a preservação da vida
TexTo 1 Apenas reproduzimos nas redes sociais o que somos na vida off-line. Mas hoje se convencionou que tudo é culpa da tecnologia. A previsão é sempre de um futuro sombrio, em que as pessoas não se relacionam, não se falam, não se encontram. Falava-se a mesma coisa da TV. Para os pessimistas há sempre uma praga tecnológica mais atual. Os saudosistas olham para o passado e acham que a vida era mais vida lá atrás. Não é melhor nem pior. É apenas diferente. Só temos que nos adaptar. As redes sociais podem, sim, nos dar uma falsa impressão de convivência cumprida. Corremos o risco de viver as relações de forma superficial. Sabemos da vida alheia, rimos das mesmas piadas, mandamos coraçõezinhos, distribuímos likes. E, então, voltamos para nossa vida ocupada. Não dou conta de responder a todos os e-mails, inbox do Facebook, mensagens de WhatsApp. Fico na intenção. Não é egoísmo. É falta de habilidade em ser onipresente em todas as plataformas. Nunca estivemos tão em contato mesmo à distância. As redes sociais têm o poder de estreitar laços e desvendar afinidades até com desconhecidos. (Mariliz Pereira Jorge. As redes sociais têm o poder de estreitar laços. Folha de S.Paulo, 19.02.2015. Adaptado.) TexTo 2 Não podemos supor que as redes sociais tragam somente meras mudanças de costumes, porque seu peso, associado ao desenvolvimento da informática, é semelhante à introdução da imprensa, da máquina a vapor ou da industrialização na dinâmica do nosso mundo. As redes sociais provocam mudanças de fundo no modo como as nossas relações ocorrem, intervindo significativamente no nosso comportamento social e político. Isso merece a nossa atenção, pois acredito que uma característica das redes sociais é, por mais contraditório que pareça, a implantação do isolamento como padrão para as relações humanas. Ao participar das redes sociais acreditamos ter muitos amigos à nossa volta, ser populares, estar ligados a todos os acontecimentos e participando efetivamente de tudo. Isso é uma verdade, mas também uma ilusão, porque essas conexões são superficiais e instáveis. Os contatos se formam e se desfazem com imensa rapidez; os vínculos estabelecidos são voláteis e atrelados a interesses momentâneos. Além disso, as relações cultivadas nas redes sociais se baseiam na virtualidade, portanto, no distanciamento físico entre as pessoas. A opinião do outro é apenas a oportunidade para se expressar a sua própria. O outro parece importar, mas de fato não importa. Importam apenas a própria posição e a autoexposição. Daí a constante informação sobre as viagens, os pensamentos, as emoções, as atividades de alguém. É preciso estar em cena e sempre. Há nisso um evidente desenvolvimento do narcisismo e, consequentemente, do reforço do distanciamento entre as pessoas. (Dulce Critelli. A ilusão das redes sociais. www.cartaeducacao.com.br, 07.11.2013. Adaptado.) Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema: As redes sociais estreitam os laços entre as pessoas ou as tornam egoístas?
TexTo 1 Na história, o voto nulo já foi uma bandeira ideológica. Era uma ideia básica dos anarquistas, um dos movimentos utópicos que nasceram no século XIX e fizeram sucesso no começo do século XX. Para eles, votar nulo era uma condição para manter a própria liberdade, se recusando a entregá-la na mão de um líder. Não mais partidos, não mais autoridade, liberdade absoluta do homem e do cidadão, pregava o filósofo francês Pierre-Josef Proudhon. O sonho dos anarquistas era uma sociedade organizada pelas próprias pessoas, sem funcionários, sem autoridades e sem líderes. Hoje, esse discurso utópico parece estar empoeirado. Mas há quem se pergunte se um pouco da utopia da década de 1930 não serviria como uma opção coerente diante de tantos problemas da democracia. A favor ou contra o voto nulo, todos concordam que o atual sistema político do Brasil tem problemas muito mais profundos que a escolha de um ou outro candidato. Segundo o IBGE, mais de 30% dos brasileiros não sabem quem é o governador de seu estado. Dois em cada 10 brasileiros não conseguem dizer quem é o presidente da República, e só 18% praticaram alguma ação política, como fazer uma reclamação ou preencher um abaixo-assinado. Para Edson Passetti, pesquisador do Departamento de Política da PUC-SP, votar nulo não serve para eliminar corruptos da política, mas pode funcionar como uma crítica generalizada: Optar pelo voto nulo é saudável como protesto contra todo um sistema. Já para Marco Aurélio Mello, presidente do TSE, o voto nulo não seria um ato responsável: Dar uma de avestruz, enfiando a cabeça na areia e deixar o vendaval passar, é a melhor forma de comprometer negativamente o futuro do país. (Liliana Pinheiro. Adianta votar nulo?. Superinteressante, setembro de 2006. Adaptado.) TexTo 2 Qual é, em comparação com outras estratégias de protesto, a eficácia do voto nulo? Em que medida e sob que circunstâncias ele produz realmente o efeito desejado? Afastemos, desde logo, a suposição de que um alto percentual de votos nulos acarreta a nulidade da própria eleição. Trata-se de uma crença totalmente desprovida de fundamento; a Constituição vigente nada estipula nesse sentido. A questão a considerar é, pois, o objetivo dos proponentes do voto nulo. Protestar contra o quê, exatamente? O atual estado de coisas é lastimável, mas a contribuição do voto nulo à correção dele é rigorosamente zero. Neste caso, nada há na anulação que se possa chamar de público ou seja, de político, no melhor sentido da palavra. Nas condições do momento, ele apenas exprime um mal-estar subjetivo, difuso, de caráter individual. Qualquer que seja seu peso nos números finais da eleição, ele será apenas uma soma desses mal-estares e da apatia que deles decorre. (Bolívar Lamounier. Voto nulo: como, quando, para quê?. Folha de S.Paulo, 12.07.2014. Adaptado.) TexTo 3 Não concordo com o sistema de representação política do Brasil. Minha alternativa de protesto é o voto nulo. Na hora de divulgar os resultados, reais ou de pesquisas, a imprensa costuma somar os votos nulos e brancos. O significado dos dois é diferente. O voto nulo é, em princípio, um protesto, inclusive contra o próprio processo eleitoral. Já o voto branco diz que o eleitor concorda com a decisão da maioria. Votar nulo não se trata de atacar o governo ou a oposição, mas o sistema político inteiro, dizendo não à promiscuidade partidária que confunde o eleitor com essa miscelânea de acordos nacionais e regionais que querem reduzir a cidadania a uma negociata por horários na TV. (Hugo Possolo. Protestar pelo voto nulo. Folha de S.Paulo, 14.07.2014. Adaptado.) Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema: O voto nulo é um ato político eficaz?
TexTo 1 Pela primeira vez em mais de 150 anos, brasileiros foram mortos por terem sido condenados à pena capital. A execução de Marco Archer, em janeiro, e a de Rodrigo Gularte, em abril, ambas na Indonésia, foram as primeiras de brasileiros no exterior. Já no Brasil, a última execução de um homem livre condenado à morte pela Justiça Civil aconteceu em 1861. A pena de morte foi abolida no Brasil com a proclamação da República, em 1889. Desde então, ela vigorou como exceção em alguns momentos da história do país, como na ditadura militar, e atualmente é prevista apenas em situações de guerra. (País executou último homem livre em 1861. www.folha.uol.com.br, 03.05.2015. Adaptado.) TexTo 2 A ideia da pena de morte foi reintroduzida nos debates públicos no final dos anos 80 durante o processo de redemocratização quando o medo do crime, o crime violento e a violência policial começaram a aumentar. A pena de morte é frequentemente proposta como punição para os chamados crimes hediondos: latrocínio (roubo seguido de morte), estupro seguido de morte, sequestro seguido de morte e crimes envolvendo crueldade. Um dos argumentos mais frequentes a favor da pena capital é que ela refletiria o sentimento popular. Esse argumento é substanciado com citações de pesquisas de opinião pública indicando que cerca de 70% da população é a favor da pena de morte1. Alguns políticos argumentam que, no contexto de proliferação da violência e do fracasso do sistema judiciário, apenas uma medida extrema como a pena de morte poderia ser uma solução. Eles pensam na pena de morte mais em termos de vingança do que em termos da lei ou de eficiência para reduzir a criminalidade. Eles não dizem que a pena capital iria resolver o problema da violência em geral, e apenas uma minoria argumenta que ela impediria outros de cometer crimes semelhantes. No entanto, insistem que, como as pessoas que cometem crimes violentos são dominadas pelo mal e irredimíveis, executá-las significa evitar que cometam futuros crimes e, para citar sua própria retórica, salvar vidas inocentes. (Teresa Caldeira. Cidade de muros, 2000. Adaptado.) 1 Esta era a porcentagem dos brasileiros que apoiavam a pena de morte no final da década de 1990, época da publicação do livro. Pesquisas recentes indicam que 43% dos brasileiros ainda apoiam a adoção da pena capital. TexTo 3 É importante examinar alguns dados de outros países sobre a pena de morte, um grande mito da discussão sobre controle da criminalidade no Brasil, frequentemente apresentado, de forma irresponsável, como panaceia1 para os nossos problemas criminais: Nos Estados Unidos, país que desde 1976 reintroduziu a pena de morte para crimes letais, a taxa de homicídios por cem mil habitantes é duas a quatro vezes superior à registrada em países da Europa Ocidental, que não adotam essa pena; Os estados norteamericanos sem pena de morte têm taxas de homicídios mais baixas que os estados onde é aplicada a punição capital; O Canadá registrou uma taxa de 3,09 homicídios por cem mil habitantes em 1975, um ano antes da abolição da pena de morte naquele país. Em 1993 a mesma taxa foi de 2,19, ou seja, 27% menor que em 1975. Só quem acredita em soluções mágicas e demagógicas pode enxergar na punição capital um instrumento na luta contra a criminalidade e a violência. (Julita Lemgruber. Controle da criminalidade: mitos e fatos. www.observatoriodeseguranca.org. Adaptado.) 1 panaceia: remédio contra todos os males. Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema: A ADOÇÃO DA PENA DE MORTE PODE CONTRIBUIR PARA A REDUÇÃO DO NÚMERO DE CRIMES HEDIONDOS NO BRASIL?
(UNIFESP - 2016) Aquestofocalizam uma passagem da comdia O juiz de paz da roa do escritor Martins Pena (1815-1848). JUIZ (assentando-se): Sr. Escrivo, leia o outro requerimento. ESCRIVO (lendo): Diz Francisco Antnio, natural de Portugal, porm brasileiro, que tendo ele casado com Rosa de Jesus, trouxe esta por dote uma gua. Ora, acontecendo ter a gua de minha mulher um filho, o meu vizinho Jos da Silva diz que dele, s porque o dito filho da gua de minha mulher saiu malhado como o seu cavalo. Ora, como os filhos pertencem s mes, e a prova disto que a minha escrava Maria tem um filho que meu, peo a V. Sa. mande o dito meu vizinho entregar-me o filho da gua que de minha mulher. JUIZ: verdade que o senhor tem o filho da gua preso? JOS DA SILVA: verdade; porm o filho me pertence, pois meu, que do cavalo. JUIZ: Ter a bondade de entregar o filho a seu dono, pois aqui da mulher do senhor. JOS DA SILVA: Mas, Sr. Juiz... JUIZ: Nem mais nem meios mais; entregue o filho, seno, cadeia. (Martins Pena. Comdias (1833-1844), 2007.) O efeito cmico produzido pela leitura do requerimento decorre, principalmente, do seguinte fenmeno ou procedimento lingustico:
Texto 1 O Senado aprovou nesta quarta-feira (16.04.2014) projeto que veda a doao de empresas ou pessoas jurdicas para campanhas eleitorais, que atualmente so os maiores doadores de polticos e partidos. (Gabriela Guerreiro. Senado acaba com doao de empresas em campanhas eleitorais. www.folha.uol.com.br, 16.04.2014. Adaptado.) Texto 2 O sistema poltico brasileiro tem sido submetido a permanente interferncia do poder econmico. Na democracia, deve prevalecer a igualdade. O voto de cada cidado deve ter valor igual. O sistema poltico em que no h igualdade aristocrtico, no democrtico. No passado, apenas a elite econmica podia participar da poltica, elegendo seus representantes. O chamado voto censitrio exclua da vida pblica amplos setores da sociedade. O processo de democratizao levou abolio do voto censitrio, mas ainda no foi capaz de evitar que, por meio de mecanismos formais e informais de influncia, a poltica seja capturada pelo poder econmico. O financiamento privado de campanhas eleitorais o principal instrumento formal para que isso ocorra. No sistema brasileiro atual, tanto empresas quanto pessoas fsicas podem fazer doaes. Evidentemente, os maiores doadores podem interferir de modo muito mais incisivo no processo de tomada das decises pblicas do que o cidado comum. Grandes empresas podem fazer com que sua agenda de interesses prevalea no parlamento. O parlamentar que obteve esse tipo de financiamento tende a se converter em um verdadeiro representante de seus interesses junto ao Legislativo e, muitas vezes, ao prprio Executivo. Isto inevitvel no atual sistema, que, com o financiamento privado de campanhas, legitima a converso do poder econmico em poder poltico e, por essa via, em direito vigente, deobservncia obrigatria para todos. As doaes por pessoas jurdicas so totalmente incompatveis com o princpio democrtico. Os cidados, no as empresas, so titulares de direitos polticos. Apenas eles, por conseguinte, deveriam poder participar do processo poltico. (Srgio Fisher. O financiamento democrtico das campanhas eleitorais. www.tre-rj.gov.br. Adaptado.) Texto 3 As relaes do poder econmico com a rea poltica despertam um conflito de valores que tracionam em sentidos opostos. Se certo afirmar que o poder econmico pode interferir negativamente no sistema democrtico, favorecendo a corrupo eleitoral e outras formas de abuso, tambm certo que no se pode imaginar um sistema democrtico de qualidade sem partidos polticos fortes e atuantes, especialmente em campanhas eleitorais, o que, evidentemente, pressupe a disponibilidade de recursos financeiros expressivos. E, sob esse ngulo, os recursos financeiros contribuem positivamente para a existncia do que se poderia chamar de democracia sustentvel. Como lembra Daniel Zovatto, embora a democracia no tenha preo, ela tem um custo de funcionamento que preciso pagar. Eis a, pois, o grande paradoxo: o dinheiro pode fazer muito mal democracia, mas ele, na devida medida, indispensvel ao exerccio e manuteno de um regime democrtico. iluso imaginar que, declarando a inconstitucionalidade da norma que autoriza doaes por pessoas jurdicas, se caminhar para a eliminao da indevida interferncia do poder econmico nos pleitos eleitorais. (Teori Zavascki. Voto-Vista (Supremo Tribunal Federal). www.stf.jus.br. Adaptado.) Com base nos textos apresentados e em seus prprios conhecimentos, escreva uma dissertao, empregando a norma-padro da lngua portuguesa, sobre o tema: Financiamento de campanhas eleitorais por empresas deve ser proibido?
(Unifesp 2014) O melro veio com efeito s trs horas. Lusa estava na sala, ao piano. Est ali o sujeito do costume foi dizer Juliana. Lusa voltou-se corada, escandalizada da expresso: Ah! meu primo Baslio? Mande entrar. E chamando-a: Oua, se vier o Sr. Sebastio, ou algum, que entre. Era o primo! O sujeito, as suas visitas perderam de repente para ela todo o interesse picante. A sua malcia cheia, enfunada at a, caiu, engelhou-se como uma vela a que falta o vento. Ora, adeus! Era o primo! Subiu cozinha, devagar, lograda. Temos grande novidade, Sra. Joana! O tal peralta primo. Diz que o primo Baslio. E com um risinho: o Baslio! Ora o Baslio! Sai-nos primo ltima hora! O diabo tem graa! Ento que havia de o homem ser se no parente? observou Joana. Juliana no respondeu. Quis saber se estava o ferro pronto, que tinha uma carga de roupa para passar! E sentou-se janela, esperando. O cu baixo e pardo pesava, carregado de eletricidade; s vezes uma aragem sbita e fina punha nas folhagens dos quintais um arrepio trmulo. o primo! refletia ela. E s vem ento quando o marido se vai. Boa! E fica-se toda no ar quando ele sai; e roupa-branca e mais roupa-branca, e roupo novo, e tipoia para o passeio, e suspiros e olheiras! Boa bbeda! Tudo fica na famlia! Os olhos luziam-lhe. J se no sentia to lograda. Havia ali muito para ver e para escutar. E o ferro estava pronto? Mas a campainha, embaixo, tocou. (Ea de Queirs. O primo Baslio, 1993.) Observe as passagens do texto: Ora, adeus! Era o primo! (7. pargrafo) E o ferro estava pronto? (penltimo pargrafo) Nessas passagens, correto afirmar que se expressa o ponto de vista
(UNIFESP 2014) Leia os textos enviados a uma revista por dois de seus leitores. Leitor 1: O alto nmero de bitos entre as mulheres fez com que os cuidados com a sade feminina se tornasse mais necessrios. Hoje sabemos que estamos expostas a muitos fatores; por isso, conhecer os sintomas do infarto fundamental. Leitor 2: Os mdicos devem se aprofundar nos estudos relacionados sade da mulher. A paciente, por sua vez, no pode deixar de se prevenir. Nesse processo, a informao, os recursos adequados e profissionais capacitados so determinantes para diminuir os infatores. (Cartas. Isto, 04.09.2013. Adaptado.) A comparao dos textos enviados pelos leitores permite afirmar corretamente que
(UNIFESP 2011) As provocaes no recreio eram frequentes, oriundas do enfado; irritadios todos como feridas; os inspetores a cada passo precisavam intervir em conflitos; as importunaes andavam em busca das suscetibilidades; as suscetibilidades a procurar a sarna das importunaes. Viam de joelhos o Franco, puxavam-lhe os cabelos. Viam Rmulo passar, lanavam-lhe o apelido: mestre-cuca! Esta provocao era, alm de tudo, inverdade. Cozinheiro, Rmulo! S porque lembrava culinria, com a carnosidade bamba, fofada dos pasteles, ou porque era gordo das enxndias enganadoras dos fregistas, dissoluo mrbida de sardinha e azeite, sob os aspectos de mais volumosa sade? (...) Rmulo era antipatizado. Para que o no manifestassem excessivamente, fazia-se temer pela brutalidade. Ao mais insignificante gracejo de um pequeno, atirava contra o infeliz toda a corpulncia das infiltraes de gordura solta, desmoronava-se em socos. Dos mais fortes vingava-se, resmungando intrepidamente. Para desesper-lo, aproveitavam-se os menores do escuro. Rmulo, no meio, ficava tonto, esbravejando juras de morte, mostrando o punho. Em geral procurava reconhecer algum dos impertinentes e o marcava para a vindita. Vindita inexorvel. No decorrer enfadonho das ltimas semanas, foi Rmulo escolhido, principalmente, para expiatrio do desfastio. Mestrecuca! Via-se apregoado por vozes fantsticas, sadas da terra; mestre-cuca! Por vozes do espao rouquenhas ou esganiadas. Sentava-se acabrunhado, vendo se se lembrava de haver tratado panelas algum dia na vida; a unanimidade impressionava. Mais frequentemente, entregava-se a acessos de raiva. Arremetia bufando, espumando, olhos fechados, punhos para trs, contra os grupos. Os rapazes corriam a rir, abrindo caminho, deixando rolar adiante aquela ambulncia danada de elefantase. (Raul Pompeia. O Ateneu.) Indique a alternativa em que os fragmentos selecionados exemplificam, respectivamente, a manifestao clara do ponto de vista do narrador e a opinio do grupo, a propsito de Rmulo.
(UNIFESP - 2011) [Sem-Pernas] queria alegria, uma mo que o acarinhasse, algum que com muito amor o fizesse esquecer o defeito fsico e os muitos anos (talvez tivessem sido apenas meses ou semanas, mas para ele seriam sempre longos anos) que vivera sozinho nas ruas da cidade, hostilizado pelos homens que passavam, empurrado pelos guardas, surrado pelos moleques maiores. Nunca tivera famlia. Vivera na casa de um padeiro a quem chamava meu padrinho e que o surrava. Fugiu logo que pde compreender que a fuga o libertaria. Sofreu fome, um dia levaram-no preso. Ele quer um carinho, ua mo que passe sobre os seus olhos e faa com que ele possa se esquecer daquela noite na cadeia, quando os soldados bbados o fizeram correr com sua perna coxa em volta de uma saleta. Em cada canto estava um com uma borracha comprida. As marcas que ficaram nas suas costas desapareceram. Mas de dentro dele nunca desapareceu a dor daquela hora. Corria na saleta como um animal perseguido por outros mais fortes. A perna coxa se recusava a ajud-lo. E a borracha zunia nas suas costas quando o cansao o fazia parar. A princpio chorou muito, depois, no sabe como, as lgrimas secaram. Certa hora no resistiu mais, abateu-se no cho. Sangrava. Ainda hoje ouve como os soldados riam e como riu aquele homem de colete cinzento que fumava um charuto. (Jorge Amado. Capites da areia.) O emprego da figura de linguagem conhecida como prosopopeia (ou personificao) pe mais em evidncia a principal razo pela qual Sem-Pernas estigmatizado. O trecho que contm essa figura