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Disciplina

(AFA - 2012)TEXTO I O silncio incomoda1Como trabal

(AFA - 2012)

TEXTO I

O silêncio incomoda

1Como trabalho em casa, assisto a um grande 2número de jogos e programas esportivos, alguns porque gosto e outros para me manter atualizado, vejo ainda muitos noticiários gerais, filmes, programas culturais 5(são pouquíssimos) e também, por curiosidade, muitas 6coisas ruins. Estou viciado em televisão.
7Não suporto mais ver tantas tragédias, crimes, violências, falcatruas e tantas politicagens para a realização da Copa de 2014.
10Estou sem paciência para assistir a tantas 11partidas tumultuadas no Brasil, consequência do estilo 12de jogar, da tolerância com a violência e do ambiente 13bélico em que se transformou o futebol, dentro e fora do 14campo.
15Na transmissão das partidas, fala-se e grita-se demais. Não há um único instante de silêncio, nenhuma pausa. O barulho é cada dia maior no futebol, nas ruas, nos bares, nos restaurantes e em quase todos os ambientes. O silêncio incomoda as pessoas.
20É óbvio que informações e estatísticas são 21importantíssimas. Mas exageram. Fala-se muito, mesmo 22com a bola rolando. Impressiona-me como se formam 23conceitos, dão opiniões, baseados em estatísticas que 24têm pouca ou nenhuma importância.
25Na partida entre Escócia e Brasil, um repórter da 26TV Globo deu a “grande notícia”, que Neymar foi o 27primeiro jogador brasileiro a marcar dois gols contra a Escócia em uma mesma partida.
29Parece haver uma disputa para saber quem dá 30mais informações e estatísticas, e outra, entre os 31narradores, para saber quem grita gol mais alto e 32prolongado. Se dizem que a imagem vale mais que mil 33palavras, por que se fala e se grita tanto?
34Outra discussão chata, durante e após as 35partidas, é se um jogador teve a intenção de colocar a 36mão na bola e de fazer pênalti, e se outro teve a 37intenção de atingir o adversário. Com raríssimas 38exceções, ninguém é louco para fazer pênalti nem tão 39canalha para querer quebrar o outro jogador.
40O que ocorre, com frequência, é o jogador, no 41impulso, sem pensar, soltar o braço na cara do outro. O 42impulso está à frente da consciência. Não sou também 43tão ingênuo para achar que todas as faltas violentas são 44involuntárias.
45Não dá para o árbitro saber se a falta foi 46intencional ou não. Ele precisa julgar o fato, e não a 47intenção. Eles precisam ter também bom senso, o que é raro no ser humano, para saber a gravidade das faltas. 49Muitas parecem iguais, mas não são. Ter critério não é 50unificar as diferenças.

(Tostão, Folha de S.Paulo, caderno D, “esporte”, p. 11, 10/04/2011.)

 

TEXTO II

O ídolo

1Em um belo dia, a deusa dos ventos beija o pé do homem, o maltratado, desprezado pé, e, desse beijo, nasce o ídolo do futebol. Nasce em berço de palha e barraco de lata e vem ao mundo abraçado a uma bola.
5Desde que aprende a andar, sabe jogar. Quando criança, alegra os descampados e os baldios, joga e joga e joga nos ermos dos subúrbios até que a noite cai e ninguém mais consegue ver a bola, e, quando jovem, voa e faz voar nos estádios. Suas artes de malabarista 10convocam multidões, domingo após domingo, de vitória em vitória, de ovação em ovação.
A bola o procura, o reconhece, precisa dele. No peito de seu pé, ela descansa e se embala. Ele lhe dá brilho e a faz falar, e neste diálogo entre os dois, 15milhões de mudos conversam. Os Zé Ninguém, os condenados a serem para sempre ninguém, podem sentir-se alguém por um momento, por obra e graça desses passes devolvidos num toque, essas fintas que desenham os zês na grama, esses golaços de 20calcanhar ou de bicicleta: quando ele joga o time tem doze jogadores.
– Doze? Tem quinze! Vinte!
A bola ri, radiante, no ar. Ele a amortece, a adormece, diz galanteios, dança com ela, e vendo 25essas coisas nunca vistas, seus adoradores sentem piedade por seus netos ainda não nascidos, que não estão vendo o que acontece.
Mas o ídolo é ídolo apenas por um momento, humana eternidade, coisa de nada; e quando chega a 30hora do azar para o pé de ouro, a estrela conclui sua viagem do resplendor à escuridão. Esse corpo está com mais remendos que roupa de palhaço, o acrobata virou paralítico, o artista é uma besta:
– Com a ferradura, não!
35A fonte da felicidade pública se transforma no páraraios do rancor público:
– Múmia!
Às vezes, o ídolo não cai inteiro. E, às vezes, quando se quebra, a multidão o devora aos pedaços.

(Eduardo Galeano. Futebol, ao sol e à sombra.)

 

Sobre os textos I e/ou II, pode-se afirmar que

A

a função poética está presente no texto II, através do uso de linguagem figurada.

B

tanto o texto I quanto o texto II apresentam função emotiva.

C

no texto I, a intenção do autor é persuadir o leitor a mudar seu comportamento, fazendo uso, dessa forma, da função apelativa.

D

o fato de Tostão ser um ex-jogador de futebol e estar falando sobre esse esporte - texto I - caracteriza uma metalinguagem.