ENEM

ITA

IME

FUVEST

UNICAMP

UNESP

UNIFESP

UFPR

UFRGS

UNB

VestibularEdição do vestibular
Disciplina

(AFA - 2022 - Modelo A - Questo 46)TEXTO I O HOMEM

(AFA - 2022 - Modelo A - Questão 46)

TEXTO I

                         O HOMEM CORDIAL 

 

                                                      Marcos A Rossi 

 

É de 1936 o livro “Raízes do Brasil”, do historiador 

Sérgio Buarque de Holanda. Nele está contida a ideia de 

“homem cordial”, uma das maiores contribuições já 

realizadas para a compreensão do Brasil e dos brasileiros. 

    5 O “homem cordial” resultado de um cruzamento entre a 

cultura colonial e o improviso de um país para para sempre 

inacabado , é afetuoso, interesseiro e autoritário: adora 

obter vantagens em tudo, detesta regras, vive em busca de 

atalhos favoráveis: não vê problemas no que faz de errado, 

   10 embora seja raivoso na hora de apontar os erros dos 

outros. Variação muito mal-humorada de um tipo único de 

homo brasilliensis, o “homem cordial” é avesso ao esforço 

metódico e à concentração; prefere o circunstancial, a 

moda do momento o jeito mais rápido de conquistar aquilo 

   15 que deseja. Adepto do “curtir a vida adoidado” o homo 

brasilliensis encarnado no “homem cordial” sofre muito 

diante do de compromissos que exijam dispêndio de energia e 

tempo - na cultura humana do juro, opta sempre por curtir 

hoje e pagar amanhã, em vez de investir  agora para 

   20 saborear depois por tempo indeterminado e mais tranquilo. 

A impessoalidade no trato, as regras universais, a ética 

como parâmetro para a tomada de decisões, o antever dos 

desdobramentos da sua ação sobre a vida e o planeta, o 

incentivo ao fortalecimento de instituições públicas e 

   25 sociais, nada disso agrada ao “homem cordial”, que não 

esconde amar o familiarismo nas relações sociais, as 

regras particulares, a moral privada, o “salva-se quem-

 puder”, o apelo a saídas pessoais diante de problemas e 

questões que são, de superfície e de fundo, coletivas. Em 

   30 1936, Sérgio Buarque de Holanda apontava esses traços 

culturais brasileiros como uma barreira intransponível para 

a democracia. E Hoje? Creio que a atualidade da ideia de 

“homem cordial” salta aos olhos de quem observa com 

interesse o país. Rasta saber o tamanho desse malfazejo 

   35 espólio. 

 

(Fonte: Marco A., Rossi. Acesso 10/01/2013 às 12:30 p.m 

http://travessia21.blogspot.com.br/2013/01/0-homem-cordial.html.)





 

TEXTO II: 

A VERDADEIRA LEI DE GÉRSON 

Raul Marinho Gregorin 

                Você se lembra daquele célebre comercial do 

      cigarro Vila Rica, onde nosso tricampeão Gérson falava 

      a famosa frase: “...Porque você tem que levar 

      vantagem em tudo, cerrrto?” A frase teve tanto 

5    impacto que acabou sendo criada a “Lei de Gérson”, que

      simboliza o oportunismo e a falta de escrúpulos típicas de 

      uma grande parcela da nossa sociedade.(...)

                  Concordo que nossa postura oportunista

      realmente contribui para nos manter neste estado de      

10  atraso econômico e culturam em que vivemos. Só que a 

      “Lei de Gérson”, na verdade é muito mais antiga que o 

      próprio. No excelente livro “Mauá, Empresário do 

      império”, de Jorge Caldeira (Ed. Companhia das Letras), 

      percebe-se que há quase duzentos anos atrás esta lei já 

15  era cumprida. Aliás, essa deve ser a lei mais antiga do 

      Brasil, pois desde as capitanias hereditárias nossa 

      história é pontilhada de exemplos de oportunismo e falta 

      de escrúpulos. A própria escravidão não deixa de ser

      uma mostra do viés ético de nossa sociedade desde 

20  tempos imemoriais, mas isso já é outra história. 

                Eu não conheço a biografia do Gérson, muito

      menos do publicitário que criou a frase e o comercial do 

      Vila Rica. Mas acho muito improvável que o Gérson real 

      seja um oportunista sanguinário como ficou sendo sua 

25  imagem. Nem acredito que o diretos da criação da 

      agência poderia imaginar que esta frase seria usada mais 

      de vinte anos depois para designar esta nossa

      característica. 

                Nossa língua é ferina. Quando a Volkswagen

30  lançou o Fusca com teto solar no final da década de’60’, 

      as vendas despencaram depois que passou a ter a 

      conotação de “carro chifrudo”. A VASP na década de 

35  criou um voo noturno ligando São Paulo ao Guarujá 

      para atender aos executivos que deixavam suas famílias 

      no balneáreo e passavam a semana trabalhando na 

      capital. O nome do voo era “Corujão” devido ao horário. 

      Não demorou muito o voo passou a ser apelidado de 

      “Cornudão”, pelo fato das esposas ficarem na praia

      enquanto os maridos ficavam na cidade. A VASP teve 

40  que cancelar a linha por falta de passageiros. 

                E óbvio que a VW tinha introduzido o teto solar

      baseado no fato do Brasil ser um país quente e 

      ensolarado, perfeito para aquele opcional. Só que o 

      consumidor preferia ficar passando calor a ser visto

45  dirigindo um carro com um buraco no teto para “deixar os

      chifres de fora”. O voo corujão era perfeito,

      especialmente na época em que não havia Piaçaguera e, 

      para chegar ao Guarujá de carro na alta temporada, o 

      motorista tinha que enfrentar horas de fila na balsa. Mas 

50 era melhor demorar oito ou dez horas de carro do que ir 

de avião, em meia hora, num voo chamado “Cornudão”...

                Com o comercial do Gérson foi a mesma coisa. 

       Levar vantagem em tudo não significa que os outros tem

      que levar desvantagem. O oportunismo foi incorporado à 

      55 frase por quem a leu/ouviu, não por quem a 

      escreveu/disse. O problema é que passou a ficar (para

      usar um conceito atual) “politicamente incorreto” levar 

      vantagem em alguma coisa. 

                Na verdade, parece que nossa sociedade se 

60  divide em dois grandes blocos: um que leva vantagem

       em tudo (no sentido pejorativo) e outro que não pode

       levar vantagem em nada. Acontece que dá para levar 

       vantagem em tudo sem fazer com que os outros saiam 

       em desvantagem. Você não precisa esmagar a outra 

65  parte para sair ganhando. 

 

(http://www.geocities.ws/cp_adhemar/leidegerson.html. Acesso em: 10 abril 2017. Texto revisado conforme a nova ortografia.)

 

Assinale a alternativa correta com relação aos elementos da estrutura dos Textos I e II.

 

A

O Texto I é predominantemente argumentativo, enquanto o II é predominantemente dissertativo.

B

A interrogação presente na linha 32 do Texto I, seguida da expressão "creio que", é uma marca textual do posicionamento pessoal do autor dobre o tema abordado.

C

As formas verbais "creio que" (Texto I, l. 32), "Concordo" (Texto II, L. 08), "acho" (Texto II, l.23) e "acredito" (Texto II, l. 25) são equivalentes em termos de sentido; logo, poderiam ser intercambiadas sem alterar o sentido dos contextos em que ocorrem.

D

A presença da 1ª pessoa do singular no texto II - "Concordo" (l.8), "acho" (l.23) - é uma prova de que este texto não pode ser caracterizado como argumentativo, já que a redação argumentativa deve ser impessoal.