(ENEM - 2013)
Olá! Negro
Os netos de teus mulatos e de teus cafuzos
e a quarta e a quinta gerações de teu sangue sofredor
tentarão apagar a tua cor!
E as gerações dessas gerações quando apagarem
a tua tatuagem execranda,
não apagarão de suas almas, a tua alma, negro!
Pai-João, Mãe-negra, Fulô, Zumbi,
negro-fujão, negro cativo, negro rebelde
negro cabinda, negro congo, negro ioruba, negro que foste para o algodão de USA
para os canaviais do Brasil, para o tronco, para o colar de ferro, para a canga
de todos os senhores do mundo;
eu melhor compreendo agora os teus blues
nesta hora triste da raça branca, negro!
Olá, Negro! Olá, Negro!
A raça que te enforca, enforca-se de tédio, negro!
LIMA, J. Obras completas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1958 (fragmento).
O conflito de gerações e de grupos étnicos reproduz, na visão do eu lírico, um contexto social assinalado por
modernização dos modos de produção e consequente enriquecimento dos brancos.
preservação da memória ancestral e resistência negra à apatia cultural dos brancos.
superação dos costumes antigos por meio da incorporação de valores dos colonizados.
nivelamento social de descendentes de escravos e de senhores pela condição de pobreza.
antagonismo entre grupos de trabalhadores e lacunas de hereditariedade.