(ENEM - 2016) Querido dirio Hoje topei com alguns conhecidos meus Me do bom-dia, cheios de carinho Dizem para eu ter muita luz, ficar com Deus Eles tm pena de eu viver sozinho [...] Hoje o inimigo veio me espreitar Armou tocaia l na curva do rio Trouxe um porrete a m de me quebrar Mas eu no quebro porque sou macio, viu HOLANDA, C. B. Chico. Rio de Janeiro: Biscoito Fino, 2013 (fragmento). Uma caracterstica do gnero dirio que aparece na letra da cano de Chico Buarque o(a)
(ENEM - 2016) Galinha cega O dono correu atrs de sua branquinha, agarrou-a, lhe examinou os olhos. Estavam direitinhos, graas a Deus, e muito pretos. Soltou-a no terreiro e lhe atirou mais milho. A galinha continuou a bicar o cho desorientada. Atirou ainda mais, com pacincia, at que ela se fartasse. Mas no conseguiu com o gasto de milho, de que as outras se aproveitaram, atinar com a origem daquela desorientao. Que que seria aquilo, meu Deus do cu? Se fosse efeito de uma pedrada na cabea e se soubesse quem havia mandado a pedra, algum moleque da vizinhana, a... Nem por sombra imaginou que era a cegueira irremedivel que principiava. Tambm a galinha, coitada, no compreendia nada, absolutamente nada daquilo. Por que no vinham mais os dias luminosos em que procurava a sombra das pitangueiras? Sentia ainda o calor do sol, mas tudo quase sempre to escuro. Quase que j no sabia onde que estava a luz, onde que estava a sombra. GUIMARAENS, J. A. Contos e novelas. Rio de Janeiro: Imago, 1976 (fragmento). Ao apresentar uma cena em que um menino atira milho s galinhas e observa com ateno uma delas, o narrador explora um recurso que conduz a uma expressividade fundamentada na
(ENEM - 2016) Sem acessrios nem som Escrever s para me livrar de escrever. Escrever sem ver, com riscos sentindo falta dos acompanhamentos com as mesmas lesmas e figuras sem fora de expresso. Mas tudo desafina: o pensamento pesa tanto quanto o corpo enquanto corto os conectivos corto as palavras rentes com tesoura de jardim cega e bruta com faco de mato. Mas a marca deste corte tem que ficar nas palavras que sobraram. Qualquer coisa do que desapareceu continuou nas margens, nos talos no atalho aberto a talhe de foice no caminho de rato. FREITAS FILHO, A. Mquina de escrever: poesia reunida e revista. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003. Nesse texto, a reflexo sobre o processo criativo aponta para uma concepo de atividade potica que pe em evidncia o(a)
(ENEM - 2016) A origem da obra de arte (2002) uma instalao seminal na obra de Maril Dardot. Apresentada originalmente em sua primeira exposio individual, no Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte, a obra constitui um convite para a interao do espectador, instigado a compor palavras e sentenas e a distribu-las pelo campo. Cada letra tem o feitio de um vaso de cermica (ou ser o contrrio?) e, disposio do espectador, encontram-se utenslios de plantio, terra e sementes. Para abrigar a obra e servir de ponto de partida para a criao dos textos, foi construdo um pequeno galpo, evocando uma estufa ou um ateli de jardinagem. As 1 500 letras-vaso foram produzidas pela cermica que funciona no Instituto Inhotim, em Minas Gerais, num processo que durou vrios meses e contou com a participao de dezenas de mulheres das comunidades do entorno. Plantar palavras, semear ideias o que nos prope o trabalho. No contexto de Inhotim, onde natureza e arte dialogam de maneira privilegiada, esta proposio se torna, de certa maneira, mais perto da possibilidade. Disponvel em: www.inhotim.org.br. Acesso em: 22 maio 2013 (adaptado). A funo da obra de arte como possibilidade de experimentao e de construo pode ser constatada no trabalho de Maril Dardot porque
(ENEM -2016) O nome do inseto pirilampo (vaga-lume) tem uma interessante certido de nascimento. De repente, no fim do sculo XVII, os poetas de Lisboa repararam que no podiam cantar o inseto luminoso, apesar de ele ser um manancial de metforas, pois possua um nome indecoroso que no podia ser usado em papis srios: caga-lume. Foi ento que o dicionarista Raphael Bluteau inventou a nova palavra, pirilampo, a partir do grego pyr, significando fogo, e lampas, candeia. FERREIRA, M. B. Caminhos do portugus: exposio comemorativa do Ano Europeu das Lnguas. Portugal: Biblioteca Nacional, 2001 (adaptado). O texto descreve a mudana ocorrida na nomeao do inseto, por questes de tabu lingustico. Esse tabu diz respeito
(ENEM - 2016) Primeira lio Os gneros de poesia so: lrico, satrico, didtico, pico, ligeiro. O gnero lrico compreende o lirismo. Lirismo a traduo de um sentimento subjetivo, sincero e pessoal. a linguagem do corao, do amor. O lirismo assim denominado porque em outros tempos os versos sentimentais eram declamados ao som da lira. O lirismo pode ser: a) Elegaco, quando trata de assuntos tristes, quase sempre a morte. b) Buclico, quando versa sobre assuntos campestres. c) Ertico, quando versa sobre o amor. O lirismo elegaco compreende a elegia, a nnia, a endecha, o epitfio e o epicdio. Elegia uma poesia que trata de assuntos tristes. Nnia uma poesia em homenagem a uma pessoa morta. Era declamada junto fogueira onde o cadver era incinerado. Endecha uma poesia que revela as dores do corao. Epitfio um pequeno verso gravado em pedras tumulares. Epicdio uma poesia onde o poeta relata a vida de uma pessoa morta. CESAR, A. C. Potica. So Paulo: Companhia das Letras, 2013. No poema de Ana Cristina Cesar, a relao entre as definies apresentadas e o processo de construo do texto indica que o(a)
(ENEM - 2016) Voc pode no acreditar Voc pode no acreditar: mas houve um tempo em que os leiteiros deixavam as garrafinhas de leite do lado de fora das casas, seja ao p da porta, seja na janela. A gente ia de uniforme azul e branco para o grupo, de manhzinha, passava pelas casas e no ocorria que algum pudesse roubar aquilo. Voc pode no acreditar: mas houve um tempo em que os padeiros deixavam o po na soleira da porta ou na janela que dava para a rua. A gente passava e via aquilo como uma coisa normal. Voc pode no acreditar: mas houve um tempo em que voc saa noite para namorar e voltava andando pelas ruas da cidade, caminhando displicentemente, sentindo cheiro de jasmim e de alecrim, sem olhar para trs, sem temer as sombras. Voc pode no acreditar: houve um tempo em que as pessoas se visitavam airosamente.Chegavam no meio da tarde ou noite, contavam casos, tomavam caf, falavam da sade, tricotavam sobre a vida alheia e voltavam de bonde s suas casas. Voc pode no acreditar: mas houve um tempo em que o namorado primeiro ficava andando com a moa numa rua perto da casa dela, depois passava a namorar no porto, depois tinha ingresso na sala da famlia. Era sinal de que j estava praticamente noivo e seguro. Houve um tempo em que havia tempo. Houve um tempo. SANTANNA, A. R. Estado de Minas, 5 maio 2013 (fragmento). Nessa crnica, a repetio do trecho Voc pode no acreditar: mas houve um tempo em que... configura-se como uma estratgia argumentativa que visa
(ENEM - 2016) O livro A frmula secreta conta a histria de um episdio fundamental para o nascimento da matemtica moderna e retrata uma das disputas mais virulentas da cincia renascentista. Frmulas misteriosas, duelos pblicos, traies, genialidade, ambio e matemtica! Esse o instigante universo apresentado no livro, que resgata a histria dos italianos Tartaglia e Cardano e da frmula revolucionria para resoluo de equaes de terceiro grau. A obra reconstitui um episdio polmico que marca, para muitos, o incio do perodo moderno da matemtica. Em ltima anlise, A frmula secreta apresenta-se como uma tima opo para conhecer um pouco mais sobre a histria da matemtica e acompanhar um dos debates cientficos mais inflamados do sculo XVI no campo. Mais do que isso, uma obra de fcil leitura e uma boa mostra de que possvel abordar temas como lgebra de forma interessante, inteligente e acessvel ao grande pblico. GARCIA, M. Duelos, segredos e matemtica. Disponvel em:http://cienciahojeuol.com.br. Acesso em: 6 out. 2015 (adaptado). Na construo textual, o autor realiza escolhas para cumprir determinados objetivos. Nesse sentido, a funo social desse texto :
(ENEM - 2016) A partida de trem Marcava seis horas da manh. Angela Pralini pagou o txi e pegou sua pequena valise. Dona Maria Rita de Alvarenga Chagas Souza Melo desceu do Opala da filha e encaminharam-se para os trilhos. A velha bem-vestida e com joias. Das rugas que a disfaravam saa a forma pura de um nariz perdido na idade, e de uma boca que outrora devia ter sido cheia e sensvel. Mas que importa? Chega-se a um certo ponto e o que foi no importa. Comea uma nova raa. Uma velha no pode comunicar-se. Recebeu o beijo gelado de sua filha que foi embora antes do trem partir. Ajudara-a antes a subir no vago. Sem que neste houvesse um centro, ela se colocara do lado. Quando a locomotiva se ps em movimento, surpreendeu-se um pouco: no esperava que o trem seguisse nessa direo e sentara-se de costas para o caminho. Angela Pralini percebeu-lhe o movimento e perguntou: A senhora deseja trocar de lugar comigo? Dona Maria Rita se espantou com a delicadeza, disse que no, obrigada, para ela dava no mesmo. Mas parecia ter-se perturbado. Passou a mo sobre o camafeu filigranado de ouro, espetado no peito, passou a mo pelo broche. Seca. Ofendida? Perguntou afinal a Angela Pralini: por causa de mim que a senhorita deseja trocar de lugar? LISPECTOR, C. Onde estivestes de noite. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980 (fragmento). A descoberta de experincias emocionais com base no cotidiano recorrente na obra de Clarice Lispector. No fragmento, o narrador enfatiza o(a)
(ENEM - 2016) Esses chopes dourados [...] quando a gerao de meu pai batia na minha a minha achava que era normal que a gerao de cima s podia educar a de baixo batendo quando a minha gerao batia na de vocs ainda no sabia que estava errado mas a gerao de vocs j sabia e cresceu odiando a gerao de cima a chegou esta hora em que todas as geraes j sabem de tudo e pssimo ter pertencido gerao do meio tendo errado quando apanhou da de cima e errado quando bateu na de baixo e sabendo que apesar de amaldioados ramos todos inocentes. WANDERLEY, J. In: MORICONI, I. (Org.). Os cem melhores poemas brasileiros do sculo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001 (fragmento). Ao expressar uma percepo de atitudes e valores situados na passagem do tempo, o eu lrico manifesta uma angstia sintetizada na
(ENEM - 2016) Antiode Poesia, no ser esse o sentido em que ainda te escrevo: flor! (Te escrevo: flor! No uma flor, nem aquela flor-virtude em disfarados urinis). Flor a palavra flor; verso inscrito no verso, como as manhs no tempo. Flor o salto da ave para o voo: o salto fora do sono quando seu tecido se rompe; uma exploso posta a funcionar, como uma mquina, uma jarra de flores. MELO NETO, J. C. Psicologia da composio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 (fragmento). A poesia marcada pela recriao do objeto por meio da linguagem, sem necessariamente explic-lo. Nesse fragmento de Joo Cabral de Melo Neto, poeta da gerao de 1945, o sujeito lrico prope a recriao potica de
(ENEM - 2016) Qual a segurana do sangue? Para que o sangue esteja disponvel para aqueles que necessitam, os indivduos saudveis devem criar o hbito de doar sangue e encorajar amigos e familiares saudveis a praticarem o mesmo ato. A prtica de selecionar criteriosamente os doadores, bem como as rgidas normas aplicadas para testar, transportar, estocar e transfundir o sangue doado fizeram dele um produto muito mais seguro do que j foi anteriormente. Apenas pessoas saudveis e que no sejam de risco para adquirir doenas infecciosas transmissveis pelo sangue, como hepatites B e C, HIV, sfilis e Chagas, podem doar sangue. Se voc acha que sua sade ou comportamento pode colocar em risco a vida de quem for receber seu sangue, ou tem a real inteno de apenas realizar o teste para o vrus HIV, NO DOE SANGUE. Cumpre destacar que apesar de o sangue doado ser testado para as doenas transmissveisconhecidas no momento, existe um perodo chamado de janela imunolgica em que um doador contaminado por um determinado vrus pode transmitir a doena atravs do seu sangue. DA SUA HONESTIDADE DEPENDE A VIDA DE QUEM VAI RECEBER SEU SANGUE Disponvel em: www.prosangue.sp.gov.br.Acesso em: 24 abr. 2015 (adaptado). Nessa campanha, as informaes apresentadas tm como objetivo principal
(ENEM - 2016) TEXTO I Entrevistadora eu vou conversar aqui com a professora A. D. ... o portugus ento no uma lngua difcil? Professora olha se voc parte do princpio... que a lngua portuguesa no s regras gramaticais... no se voc se apaixona pela lngua que voc... j domina que voc j fala ao chegar na escola se o teu professor cativa voc a ler obras da literatura... obras da/ dos meios de comunicao... se voc tem acesso a revistas... ... a livros didticos... a... livros de literatura o mais formal o e/ o difcil porque a escola transforma como eu j disse as aulasde lngua portuguesa em anlises gramaticais. TEXTO II Entrevistadora Vou conversar com a professora A. D. O portugus uma lngua difcil? Professora No, se voc parte do princpio que a lngua portuguesa no s regras gramaticais. Ao chegar escola, o aluno j domina e fala a lngua. Se o professor motiv-lo a ler obras literrias, e se tem acesso a revistas, a livros didticos, voc se apaixona pela lngua. O que torna difcil que a escola transforma as aulas de lngua portuguesa em anlises gramaticais. MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita: atividades de retextualizao. So Paulo: Cortez, 2001 (adaptado). O Texto I a transcrio de uma entrevista concedida por uma professora de portugus a um programa de rdio. O Texto II a adaptao dessa entrevista para a modalidade escrita.Em comum, esses textos
(ENEM - 2016) De domingo Outrossim... O qu? O que o qu? O que voc disse. Outrossim? . O que que tem? Nada. S achei engraado. No vejo a graa. Voc vai concordar que no uma palavra de todos os dias. Ah, no . Alis, eu s uso domingo. Se bem que parece mais uma palavra de segunda-feira. No. Palavra de segunda-feira bice. nus. nus tambm. Desiderato. Resqucio. Resqucio de domingo. No, no. Segunda. No mximo tera. Mas outrossim, francamente... Qual o problema? Retira o outrossim. No retiro. uma tima palavra. Alis uma palavra difcil de usar. No qualquer um que usa outrossim. VERISSIMO, L. F. Comdias da vida privada. Porto Alegre: LPM, 1996 (fragmento). No texto, h uma discusso sobre o uso de algumas palavras da lngua portuguesa. Esse uso promove o(a)
(ENEM - 2016) Receita Tome-se um poeta no cansado, Uma nuvem de sonho e uma flor, Trs gotas de tristeza, um tom dourado, Uma veia sangrando de pavor. Quando a massa j ferve e se retorce Deita-se a luz dum corpo de mulher, Duma pitada de morte se reforce, Que um amor de poeta assim requer. SARAMAGO, J. Os poemas possveis.Alfragide: Caminho, 1997. Os gneros textuais caracterizam-se por serem relativamente estveis e podem reconfigurar-se em funo do propsito comunicativo. Esse texto constitui uma mescla de gneros, pois