(ENEM - 2021)
A volta do marido pródigo
— Bom dia, seu Marrinha! Como passou de ontem?
— Bem. Já sabe, não é? Só ganha meio dia. [...]
Lá além, Generoso cotuca Tercino:
— [...] Vai em festa, dorme que-horas, e, quando chega, ainda é todo enfeitado e salamistrão!...
— Que é que hei de fazer, seu Marrinha... Amanheci com uma nevralgia... Fiquei com cisma de apanhar friagem...
— Hum...
— Mas o senhor vai ver como eu toco o meu serviço e ainda faço este povo trabalhar...
[...]
Pintão suou para desprender um pedrouço, e teve de pular para trás, para que a laje lhe não esmagasse um pé. Pragueja:
— Quem não tem brio engorda!
— É... Esse sujeito só é isso, e mais isso... — opina Sidu.
— Também, tudo p'ra ele sai bom, e no fim dá certo... — diz Correira, suspirando e retomando o enxadão — "P'ra uns, as vacas morrem ... p'ra outros até boi pega a parir..."
Seu Marra já concordou:
— Está bem, seu Laio, por hoje, como foi por doença, eu aponto o dia todo. Que é a última vez!... E agora, deixa de conversa fiada e vai pegando a ferramenta!
ROSA, J.G. Sagarana. Rio de Janeiro, José Oympia, 1987.
Esse texto tem importância singular como patrimônio linguístico para a preservação da cultura nacional devido
à menção a enfermidades que indicam falta de cuidado pessoal.
à referência a profissões ja extintas que caracterizam a vida no campo
aos nomes de personagens que acentuam aspectos de sua personalidade.
ao emprego de ditados populares que resgatam memórias e saberes coletivos.
às descrições de costumes regionais que desmistificam crenças e superstições