(FGV/RJ - 2015)
Texto para a(s) questão(ões) a seguir
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos.
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
Pode-se apontar, no texto, a contradição, que repercute na obra a que ele pertence, entre
o discurso ostensivamente racional e as alegações incompatíveis com a esfera da razão.
o tom elevado, solene, e o vocabulário de caráter oral-popular.
a evidente filiação do narrador ao Espiritismo e sua referência ao Velho Testamento.
o caráter clássico da erudição do narrador e o romantismo de sua demanda de originalidade.
a frieza analítica da argumentação e a intensidade emocional do conteúdo nela veiculado.