(FUVEST - 2005 - 1 FASE) Texto para as questões
Sim, que, à parte o sentido prisco, valia o ileso gume do
vocábulo pouco visto e menos ainda ouvido, raramente usado,
melhor fora se jamais usado. Porque, diante de um gravatá,
selva moldada em jarro jônico, dizer-se apenas drimirim ou
amormeuzinho é justo; e, ao descobrir, no meio da mata, um
angelim que atira para cima cinqüenta metros de tronco e fronde,
quem não terá ímpeto de criar um vocativo absurdo e bradá-lo
– Ó colossalidade! – na direção da altura?
(João Guimarães Rosa, “São Marcos”, in Sagarana)
prisco = antigo, relativo a tempos remotos.
gravatá = planta da família das bromeliáceas.
Devo registrar aqui uma alegria. É que a moça num aflitivo domingo sem farofa teve uma inesperada felicidade que era inexplicável: no cais do porto viu um arcoíris. Experimentando o leve êxtase, ambicionou logo outro: queria ver, como uma vez em Maceió, espocarem mudos fogos de artifício. Ela quis mais porque é mesmo uma verdade que quando se dá a mão, essa gentinha quer todo o resto, o zé-povinho sonha com fome de tudo. E quer mas sem direito algum, pois não é?
(Clarice Lispector, A hora da estrela)
Considerando-se no contexto da obra o trecho sublinhado, é correto afirmar que, nele, o narrador
assume momentaneamente as convicções elitistas que, no entanto, procura ocultar no restante da narrativa
reproduz, em estilo indireto livre, os pensamentos da própria Macabéa diante dos fogos de artifício.
hesita quanto ao modo correto de interpretar a reação de Macabéa frente ao espetáculo.
adota uma atitude panfletária, criticando diretamente as injustiças sociais e cobrando sua superação.
retoma uma frase feita, que expressa preconceito antipopular, desenvolvendo-a na direção da ironia.