(FUVEST - 2018 - 1ª FASE)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, 2mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se* discussões e rezingas**; 5ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, 8o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.
Da porta da venda que dava para o cortiço iam e vinham como formigas; fazendo compras.
Duas janelas do Miranda abriram-se. Apareceu numa a Isaura, que se dispunha a começar a limpeza da casa.
– Nhá Dunga! 14gritou ela para baixo, a sacudir um pano de mesa; se você tem cuscuz de milho hoje, 15bata na porta, ouviu?
Aluísio Azevedo, O cortiço.
* ensarilhar-se: emaranhar-se.
** rezinga: resmungo.
Constitui marca do registro informal da língua o trecho
“mas um só ruído compacto” (L. 2-3).
“ouviam-se gargalhadas” (L. 5).
“o prazer animal de existir” (L. 8-9).
“gritou ela para baixo” (L. 14).
“bata na porta” (L. 15).