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VestibularEdição do vestibular
Disciplina

(IME - 2016/2017 - 2 FASE)Texto 1A CRISE AMBIENTAL

Português | Interpretação de texto | noção de texto | fatores linguísticos e pragmáticos | fatores semânticos e linguísticos da textualidade
IME 2016IME PortuguêsTurma ITA-IME

(IME - 2016/2017 - 2ª FASE)

Texto 1

A CRISE AMBIENTAL

Benedito Braga

Segundo Miller (1985), nosso planeta pode ser comparado a uma astronave que dispõe de um eficiente sistema de aproveitamento de energia solar e de reciclagem de matéria, deslocando-se a cem mil quilômetros por hora pelo espaço sideral. Há atualmente na astronave ar, água e comida suficientes para manter seus passageiros. Tendo em vista o progressivo aumento do número desses passageiros, em forma exponencial, e a ausência de portos para reabastecimento, podem-se vislumbrar, em médio e longo prazos, problemas sérios para a manutenção de sua população.

Pela segunda lei da termodinâmica, o uso da energia implica degradação de sua qualidade. Como consequência da lei da conservação da massa, os resíduos energéticos, principalmente na forma de calor, somados aos resíduos de matéria, alteram a qualidade do meio ambiente no interior dessa astronave. A tendência natural de qualquer sistema, como um todo, é de aumento de sua entropia (grau de desordem). Assim, os passageiros, utilizando-se da inesgotável energia solar, processam, por meio de sua tecnologia e de seu metabolismo, os recursos naturais finitos, gerando, inexoravelmente, algum tipo de poluição. O nível de qualidade de vida no planeta dependerá do equilíbrio entre estes três elementos: população, recursos naturais e poluição. Os aspectos mais relevantes de cada vértice do triângulo formado por esses elementos e suas interligações são analisados nos itens subsequentes.

1.1 População

A população mundial cresceu de 2,5 bilhões em 1950 para 6,2 bilhões no ano 2002 (...) e, atualmente, a taxa de crescimento se aproxima de 1,13% ao ano. De acordo com a analogia da astronave, isso significa que, nos dias de hoje, ela transporta 6,2 bilhões de passageiros e, a cada ano, outros 74 milhões de passageiros nela embarcam. Esses passageiros estão divididos em 227 nações nos cinco continentes, poucas das quais pertencem aos chamados países desenvolvidos, com 19% da população total. As demais são os chamados países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, com os restantes 81% da população. Novamente, usando a analogia com a astronave, é como se os habitantes dos países desenvolvidos fossem passageiros de primeira classe, enquanto os demais viajam no porão. Em decorrência das altas taxas de crescimento populacional que hoje somente ocorrem nos países menos desenvolvidos, essa situação de desequilíbrio tende a se agravar ainda mais: em 1950, os países desenvolvidos tinham 31,5% da população mundial; em 2002, apenas 19,3%; e, em 2050, terão 13,7% (…).

Um casal que tenha cinco filhos, os quais, por sua vez, tenham cinco filhos cada um, representa, a partir de duas pessoas, uma população familiar de 25 pessoas em duas gerações. Esse fenômeno vem ocorrendo mundialmente desde meados do século XIX, com a Revolução Industrial. A partir dessa revolução, a tecnologia proporcionou uma redução da taxa bruta de mortalidade, responsável pelo aumento da taxa de crescimento populacional anual, apesar de a taxa de natalidade estar se reduzindo desde aquela época até os dias atuais. (…)

Dentro dessa perspectiva de crescimento, cabe questionar até quando os recursos naturais serão suficientes para sustentar os passageiros da astronave Terra. Existem autores, como Lappe e Collins (1977), que contestam a tese de insuficiência de recursos naturais e responsabilizam a má distribuição da renda e a má orientação da produção agrícola pela fome do mundo hoje.

1.2 Recursos naturais

Recurso natural é qualquer insumo de que os organismos, as populações e os ecossistemas necessitam para sua manutenção, sendo, portanto, algo útil. Há uma estreita relação entre recursos naturais e tecnologia, toda vez que ocorrerem processos tecnológicos para utilização de um recurso. Exemplo típico é o magnésio, até pouco tempo não era considerado um recurso natural e passou a sê-lo quando se descobriu como utilizá-lo na confecção de ligas metálicas para aviões. Recursos naturais e economia interagem de modo bastante evidente, pois algo é recurso na medida em que sua exploração é economicamente viável. Exemplo dessa situação é o álcool, que, antes da crise do petróleo de 1973, apresentava custos de produção extremamente elevados em relação aos custos de exploração de petróleo. Hoje, no Brasil, apesar da diminuição do Proálcool, o álcool ainda pode ser considerado um importante combustível para automóveis e um recurso natural estratégico de alta significância uma vez que há possibilidade de sua renovação e consequente disponibilidade. Sua utilização efetiva depende de análises políticas e econômicas que poderão ser revistas sempre que necessário.

Finalmente, algo se torna recurso natural caso sua exploração, processamento e utilização não causem danos ao meio ambiente. Assim, na definição de recurso natural, encontramos três tópicos relacionados: tecnologia, economia e meio ambiente.

1.3 Poluição

Completando o terceiro vértice do triângulo, como resultado da utilização dos recursos naturais pela população surge a poluição que é uma alteração indesejável nas características físicas, químicas ou biológicas da atmosfera, litosfera ou hidrosfera, podendo causar prejuízo à saúde, à sobrevivência ou às atividades dos seres humanos e outras espécies ou ainda deteriorar materiais. Para fins práticos, em especial do ponto de vista legal de controle da poluição, acrescentamos que o conceito de poluição deve ser associado às alterações indesejáveis provocadas pelas atividades e intervenções humanas no ambiente. Desse modo, uma erupção vulcânica, apesar de poder ser considerada uma fonte poluidora, é um fenômeno natural não provocado pelo homem e que foge ao seu controle, assim como outros fenômenos naturais, como incêndios florestais, grandes secas ou inundações.

Poluentes são resíduos gerados pelas atividades humanas, causando um impacto ambiental negativo, ou seja, uma alteração indesejável. Dessa maneira, a poluição está ligada à concentração,ou quantidade de resíduos presentes no ar, na água ou no solo. Para 2 80 85 90 que se possa exercer o controle da poluição de acordo com a legislação ambiental, definemse padrões e indicadores de qualidade do ar (concentrações de CO, NOx, SOx, Pb etc.), da água (concentração de O2, fenóis e Hg, pH, temperatura etc.) e do solo (taxa de erosão etc.) que se deseja respeitar em um determinado ambiente.

Os efeitos detectados mais recentemente, como o efeito estufa e a redução da camada de ozônio, ainda não são bem conhecidos, mas podem trazer consequências que afetarão o clima e o equilíbrio do planeta como um todo. É importante um esforço conjunto e sem precedentes para que se possa conhecer esses efeitos e controlá-los de modo eficaz. Os efeitos globais têm contribuído bastante para a sensibilização recente da sociedade sobre questões ambientais, merecendo destaque na mídia e na agenda de políticos e grupos ambientalistas em todo o planeta. Isso talvez possa ser explicado pela incerteza que os humanos passaram a experimentar em relação à própria sobrevivência da espécie e pela constatação de sua incapacidade de entender e controlar os processos e as transformações ambientais decorrentes de suas atividades. Até recentemente, acreditava-se que a inteligência e a tecnologia resolveriam qualquer problema e que não havia limites para o desenvolvimento da espécie e para a utilização de matéria e energia na busca de conforto e qualidade de vida.

BRAGA, Benedito et all. Introdução à Engenharia Ambiental. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005, 2a Ed, pp. 2-6. (Texto adaptado).

 

O quarto parágrafo do Texto 1 apresenta o papel da Revolução Industrial e seu impacto no mundo. Sobre a explanação dos autores, podemos afirmar que

A

há a apresentação de duas consequências discutidas pelos autores no que concerne ao impacto da tecnologia no mundo.

B

a Revolução Industrial trouxe apenas benefícios para a humanidade, segundo os autores.

C

“a população familiar de 25 pessoas” é apresentada pelos autores, como “fenômeno” que prejudica o próprio relacionamento familiar na medida em que os recursos naturais são explorados.

D

o “fenômeno” citado pelos autores é a própria Revolução Industrial.

E

cinco filhos por casal é a conclusão exposta e defendida como ideal para os casais durante a Revolução Industrial desde aquela época até os dias atuais, segundo as próprias palavras dos autores.