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VestibularEdição do vestibular
Disciplina

(UEFS-BA-2014- Meio do ano)TEXTO:Aqui, ali, por to

(UEFS-BA-2014 - Meio do ano)

TEXTO:


Aqui, ali, por toda a parte, encontravam-se trabalhadores, uns ao sol, outros debaixo de pequenas barracas feitas de lona ou de folhas de palmeira. De um lado, cunhavam pedra cantando; de outro a quebravam 5 a picareta; de outro afeiçoavam lajedos a ponta de picão; mais adiante, faziam paralelepípedos a escopro e macete. E todo aquele retintim de ferramentas, e o martelar da forja, e o coro dos que lá em cima brocavam a rocha para lançar-lhe fogo, e a surda zoada ao longe, 10 que vinha do cortiço, como de uma aldeia alarmada; tudo dava a ideia de uma atividade feroz, de uma luta de vingança e de ódio. Aqueles homens gotejantes de suor, bêbados de calor, desvairados de insolação, a quebrarem, a espicaçarem, a torturarem a pedra, 15 pareciam um punhado de demônios revoltados na sua impotência contra o impassível gigante que os contemplava com desprezo, imperturbável a todos os golpes e a todos os tiros que lhe desfechavam no dorso, deixando sem um gemido que lhe abrissem as entranhas 20 de granito. O membrudo cavouqueiro havia chegado à fralda do orgulhoso monstro de pedra; tinha-o cara a cara, mediu-o de alto a baixo, arrogante, num desafio surdo.

A pedreira mostrava nesse ponto de vista o seu 25 lado mais imponente. Descomposta, com o escalavrado flanco exposto ao sol, erguia-se altaneira e desassombrada, afrontando o céu, muito íngreme, lisa, escaldante e cheia de cordas que mesquinhamente lhe escorriam pela ciclópica nudez com um efeito de teias 30 de aranha. Em certos lugares, muito alto do chão, lhe haviam espetado alfinetes de ferro, amparando, sobre um precipício, miseráveis tábuas que, vistas cá de baixo, pareciam palitos, mas em cima das quais uns atrevidos pigmeus de forma humana equilibravam-se, desfechando 35 golpes de picareta contra o gigante.

AZEVEDO, Aluísio. O cortiço.  São Paulo: Nobel. 2009. p. 44.

A linguagem do texto é marcada pelo descritivismo pormenorizado, no entanto não abre mão da conotação e da riqueza de figuras de linguagem, como 

A

 a onomatopeia presente em “retintim de ferramentas” (l. 7), sugerindo o som repetitivo da respiração ofegante dos trabalhadores. 

B

 o polissíndeto, caracterizado pela repetição do conectivo “e”, em “e o martelar da forja, e o coro dos que lá em cima brocavam a rocha para lançar-lhe fogo, e a surda zoada ao longe” (l. 7-9), sugerindo a repetição do mesmo som, gerado unicamente pela pancada das ferramentas na pedra. 

C

o hipérbato, representada pelo alteração na ordem da descrição da força e do otimismo dos trabalhadores, em “Aqueles homens gotejantes de suor, bêbados de calor, desvairados de insolação” (l. 12-13).

D

 a personificação construída pela imagem da pedra que, mediante sua própria resistência, é percebida pelos trabalhadores como um “gigante que os contemplava com desprezo, imperturbável a todos os golpes e a todos os tiros que lhe desfechavam no dorso” (l. 16-18). 

E

a antítese que se reproduz em “mediu-o de alto a baixo, arrogante, num desafio surdo.” (l. 22-23), diante da atitude contraditória do trabalhador ao penetrar as profundezas da pedreira.