(UEFS/BA - 2014 - Meio do ano)
TEXTO:
DESCOBERTA
Seguimos nosso caminho por este mar de longo
Até a oitava da Páscoa
Topamos aves
E houvemos vista de terra
5 os selvagens
Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam pôr a mão
E depois a tomaram como espantados
10 primeiro chá
Depois de dançarem
Diogo Dias
Fez o salto real
as meninas da gare
15 Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha.
ANDRADE, Oswald de. Descoberta. Poesias Reunidas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971.
Disponível em: <http://www. entrevista. agulha.nom.br/oswal.html#adescoberta>. Acesso em: 5 maio 2014.
O poema “A descoberta”, de Oswald de Andrade, que compõe o Manifesto Pau-Brasil, é composto de cinco flashes retirados da Carta de Pero Vaz de Caminha.
Sobre esse poema, é correto afirmar:
O autor, de forma sintética, retoma o contexto primitivista para revelar distorções nas interpretações feitas da Carta de Caminha.
A descrição dos indígenas, no poema, remete-nos à ideia do bom selvagem que ainda não foi corrompido pela civilização e pela modernidade.
Os versos de Oswald de Andrade revelam o tom irônico e sarcástico com que o Cronista-Mor da expedição de Pedro Álvares Cabral se referia aos índios.
O discurso de Pero Vaz de Caminha, recontextualizado nos versos de Oswald de Andrade, explicita um tom de crítica e descontentamento diante do tratamento que os portugueses davam aos indígenas.
O verso 14 – “as meninas da gare” – ressignifica o discurso de Pero Vaz de Caminha e, em vez de descrever a ingenuidade retratada na nudez das índias, recontextualiza-a e atualiza-a, sugerindo uma semelhança com garotas que se expunham na estação de ferro