(Uel 2010) Leia os textos a seguir:
[...] a nossa escrevivência [escrita das mulheres negras] não pode ser lida como histórias para “ninar os da casa-grande” e sim para incomodá-los em seus sonos injustos.
(EVARISTO, C. Da grafia-desenho de minha mãe, um dos lugares de nascimento de minha escrita. In ALEXANDRE, M. A. (Org.) Representações performáticas brasileiras: teorias, práticas e suas interfaces. Belo Horizonte: Maza Edições, 2007. p. 21.)
Descobria também que não bastava saber ler e assinar o nome. Da leitura era preciso tirar outra sabedoria.
Era preciso autorizar o texto da própria vida, assim como era preciso ajudar a construir a história dos seus.
E que era preciso continuar decifrando nos vestígios do tempo os sentidos de tudo que ficara para trás. E perceber que, por baixo da assinatura do próprio punho, outras letras e marcas havia.
(EVARISTO, C. Ponciá Vicêncio. Belo Horizonte: Maza Edições, 2003. p. 127.)
A partir das considerações dos dois textos, é correto afirmar:
Enquanto a escritora valoriza a dimensão política da narrativa, a personagem preocupa-se com a escrita de sua biografia.
Ao referir-se aos “da casa-grande”, a autora limita a oposição negros versus brancos a uma dimensão espacial.
A escrita é uma forma de resgatar a memória e reescrever a história dos negros, agora não mais da perspectiva dos dominantes.
A “assinatura do próprio punho” não constitui a escrevivência dos negros, mas é suficiente para o registro histórico da escravidão e autoriza a escrita de biografias.
É importante ao negro saber ler e assinar o nome para ter acesso à história oficial e contestar os sonos injustos dos brancos.