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VestibularEdição do vestibular
Disciplina

(UFPR - 2015 - 2 FASE)Considere o seguinte texto:U

(UFPR - 2015 - 2ª FASE)

Considere o seguinte texto:

Um inadiável acerto de contas com a Mãe Terra

A encíclica do Papa Francisco sobre “O cuidado da Casa Comum” (Laudato Si) está sendo vista como a encíclica “verde”,
semelhantemente como quando dizemos economia “verde”. Eis aqui um grande equívoco. Ela não quer ser apenas “verde”, mas
também propor a ecologia “integral”.
Na verdade, o Papa deu um salto teórico da maior relevância ao ir além do ambientalismo verde e pensar a ecologia numa
perspectiva holística, que inclui o ambiental, o social, o político, o educacional, o cotidiano e o espiritual. Ele se coloca no coração
do novo paradigma, segundo o qual cada ser possui valor intrínseco, mas está sempre em relação com tudo, formando uma imensa
rede, como aliás o diz exemplarmente a Carta da Terra.
Em outras palavras, trata-se de superar o paradigma da modernidade. Este coloca o ser humano fora da natureza e acima
dela, como “seu mestre e dono” (Descartes), imaginando que ela não possui nenhum outro sentido senão quando posta a serviço
do ser humano, que pode explorá-la a seu bel-prazer. Esse paradigma subjaz à tecnociência, que tantos benefícios nos trouxe, mas
que simultaneamente gestou a atual crise ecológica, pela sistemática pilhagem de seus bens naturais.
E o fez com tal voracidade que ultrapassou os principais limites intransponíveis (a sobrecarga da Terra). Uma vez transpostos,
colocam em risco as bases físico-químico-energéticas que sustentam a vida (clima, água, solos e biodiversidade, entre outros). É
hora de se fazer um ajuste de contas com a Mãe Terra: ou redefinimos uma nova relação mais cooperativa para com ela, e assim
garantimos a nossa sobrevivência, ou conheceremos um colapso planetário.
O Papa inteligentemente se deu conta dessa possibilidade. Daí que sua encíclica se dirige a toda a humanidade e não apenas
aos cristãos. Tem como propósito fundamental cobrar um novo estilo de vida e uma verdadeira “conversão ecológica”. Esta implica
um novo modo de produção e de consumo, respeitando os ritmos e os limites da natureza também em consideração das futuras
gerações às quais igualmente pertence a Terra. Isso está implícito no novo paradigma ecológico.
Como temos a ver com um problema global que afeta indistintamente a todos, todos são convocados a dar a sua contribuição:
cada país, cada instituição, cada saber, cada pessoa e, no caso, cada religião.
Assevera claramente que “devemos buscar no nosso rico patrimônio espiritual as motivações que alimentam a paixão pelo
cuidado da criação” (Carta do Papa Francisco de 6/08/2015). Observe-se a expressão “paixão pelo cuidado da criação”. Não se trata
de uma reflexão ou algum empenho meramente racional, mas de algo mais radical, “uma paixão”. Invoca-se aqui a razão sensível
e emocional. É ela e não simplesmente a razão que nos fará tomar decisões, nos impulsionará a agir com paixão e de modo inovador,
consoante a urgência da atual crise ecológica mundial.
O Papa tem consciência de que o cristianismo (e a Igreja) não está isento de culpa por termos chegado a esta situação
dramática. Durante séculos pregou-se um Deus sem o mundo, o que propiciou o surgimento de um mundo sem Deus. Não entrava
em nenhuma catequese o mandato divino, claramente assinalado no segundo capítulo do Genesis, de “cultivar e cuidar o jardim do
Éden”. Pelo contrário, o conhecido historiador norte-americano Lynn White Jr., ainda em 1967, acusou o judeu-cristianismo, com
sua doutrina do domínio do ser humano sobre a criação, como o fator principal da crise ecológica. Exagerou, como a crítica tem
mostrado. Mas, de todo modo, suscitou a questão do estreito vínculo entre a interpretação comum sobre o senhorio do ser humano
sobre todas as coisas e a devastação da Terra, o que reforçou o projeto de dominação dos modernos sobre a natureza.
O Papa opera em sua encíclica uma vigorosa crítica ao antropocentrismo dessa interpretação. Entretanto, na carta de
instauração do dia de oração, com humildade suplica a Deus “misericórdia pelos pecados cometidos contra o mundo em que
vivemos”. Volta a referir-se a São Francisco, com seu amor cósmico e respeito pela criação, o verdadeiro antecipador daquilo que
devemos viver nos dias atuais.

(BOFF, Leonardo. Em <http://www.jb.com.br/leonardo-boff/noticias/2015/09/06/um-inadiavel-acerto-de-contas-com-a-mae-terra/>. Acesso em 14 set 2015. Adaptado.)

● Elabore um resumo desse texto, de 09 a 12 linhas, respeitando as características do gênero textual.
● Apresente a tese do autor e os argumentos que ele utiliza para justificá-la.
● Escreva com suas próprias palavras, sem copiar trechos do texto.