(UFPR - 2023)
Considere, a seguir, dois trechos de Sagarana, de João Guimarães Rosa, extraídos de “Corpo fechado” e “A hora e vez de Augusto Matraga”, respectivamente.
E, quando espiei outra vez, vi exato: Targino, fixo, como um manequim, e Manuel Fulô pulando nele e o esfaqueando, pela altura do peito – tudo com rara elegância e suma precisão. Targino girou na perna esquerda ceifando o ar com a direita; capotou; e desviveu, num átimo. Seu rosto guardou um ar de temor salutar.
– Conheceu, diabo, o que é raça de Peixoto?!
(ROSA, João Guimarães. Corpo fechado. In: ______. Sagarana. Ficção completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 400. v. 1.)
Mas Nhô Augusto tinha o rosto radiante, e falou:
– Perguntem quem é que aí algum dia ouviu falar no nome de Nhô Augusto Esteves, das Pindaíbas?
– Virgem Santa! Eu logo vi que só podia ser você, meu primo Nhô Augusto...
Era o João Lomba, conhecido velho e meio parente. Nhô Augusto riu:
– E hein, hein João?!
– P’ ra ver...
Então Augusto Matraga fechou um pouco os olhos, com sorriso intenso nos lábios lambuzados de sangue, e de seu rosto subia um sério contentamento.
Daí mais, olhou, procurando João Lomba, e disse, agora sussurrando, sumido:
– Põe a benção na minha filha...seja lá onde for que ela esteja...E, Dionora...Fala com a Dionora que está tudo em ordem!
Depois morreu.
(ROSA, João Guimarães. A hora e a vez de Augusto Matraga. In: ______. Sagarana. Ficção completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 462. v. 1.)
Com base nas informações apresentadas e na obra completa, assinale a alternativa correta.
Jureminho mata Matraga motivado pela disputa interna que travavam para conquistar a liderança do bando de jagunços, após a morte do antigo chefe, Seu Joãozinho Bem-Bem.
O fazendeiro Joãozinho Bem-Bem contratou Manuel Fulô, famoso jagunço da localidade, para assassinar Targino, por causa de uma disputa de terras que havia entre os dois.
Matraga repete o seu lema “todo mundo tem sua hora e sua vez”, fazendo alusão ao dia em que faria seu acerto de contas com João Lomba, que lhe havia roubado a mulher, Dona Dionora.
Targino, mesmo com o corpo fechado por seu grupo de ciganos, não consegue se livrar da morte no duelo com Manuel Fulô, provocado pela disputa da égua Beija-Fulô.
A morte de Matraga é o desfecho de um combate que resulta em morte dupla, sinalizando a redenção que Nhô Augusto prenuncia quando diz “P’ra o céu eu vou, nem que seja a porrete!...”.