(Ufrgs 2015)
01. Viagens, cofres mágicos com promessas
02. sonhadoras, não mais revelareis vossos
03. tesouros intactos! Hoje, quando ilhas
04. polinésias afogadas em concreto se
05. transformam em porta-aviões ancorados nos
06. mares do Sul, quando as favelas corroem a
07. Africa, quando a aviação avilta a floresta
08. americana antes mesmo de poder destruir-lhe
09. a virgindade, de que modo poderia a pretensa
10. evasão da viagem conseguir outra coisa que
11. não confrontar-nos com as formas mais
12. miseráveis de nossa existência histórica?
13. Ainda assim, compreendo a paixão, a
14. loucura, o equívoco das narrativas de viagem.
15. Elas criam a ilusão daquilo ... ... .. não existe
16. mais, mas ........ ainda deveria existir. Trariam
17. nossos modernos Marcos Paios, das mesmas
18. terras distantes, desta vez em forma de
19. fotografias e relatos, as especiarias morais
20. ........ nossa sociedade experimenta uma
21. necessidade aguda ao se sentir soçobrar no
22. tédio?
23. É assim que me identifico, viajante
24. procurando em vão reconstituir o exotismo
25. com o auxílio de fragmentos e de destroços.
26. Então, insidiosamente, a ilusão começa a
27. tecer suas armadilhas. Gostaria de ter vivido
28. no tempo das verdadeiras viagens, quando
29. um espetáculo ainda não estragado,
30. contaminado e maldito se oferecia em todo o
31. seu esplendor. Uma vez encetado, o jogo de
32. conjecturas não tem mais fim: quando se
33. deveria visitar a Índia, em que época o estudo
34. dos selvagens brasileiros poderia levar a
35. conhecê-los na forma menos alterada? Teria
36. sido melhor chegar ao Rio no século XVIII?
37. cada década para trás permite salvar um
38. costume, ganhar uma festa, partilhar uma
39. crença suplementar.
40. Mas conheço bem demais os textos do
41. passado para não saber que, me privando de
42. um século, renuncio a perguntas dignas de
43. enriquecer minha reflexão. E eis, diante de
44. mim, o círculo intransponível: quanto menos
45. as culturas tinham condições de se comunicar
46. entre si, menos também os emissários
47. respectivos eram capazes de perceber a
48. riqueza e o significado da diversidade. No final
49. das contas, sou prisioneiro de uma
50. alternativa: ora viajante antigo, confrontado
51. com um prodigioso espetáculo do qual quase
52. tudo lhe escapava - ainda pior, inspirava
53. troça ou desprezo - , ora viajante moderno,
54. correndo atrás dos vestígios de uma realidade
55. desaparecida. Nessas duas situações, sou
56. perdedor, pois eu, que me lamento diante das
57. sombras, talvez seja impermeável ao
58. verdadeiro espetáculo que está tomando
59. forma neste instante, mas . .. . .. .. observação
60. meu grau de humanidade ainda carece da
61. sensibilidade necessária. Dentro de alguma
62. centena de anos, neste mesmo lugar, outro
63. viajante pranteará o desaparecimento do que
64. eu poderia ter visto e que me escapou.
Considere as possibilidades de reescrita apresentadas abaixo para a seguinte passagem do texto.
Dentro de alguma centena de anos, neste mesmo lugar, outro viajante pranteará o desaparecimento do que eu poderia ter visto e que me escapou. (l. 61-64)
I. Neste mesmo lugar, outro viajante, dentro de alguma centena de anos, pranteará o desaparecimento do que eu poderia ter visto e que me escapou.
II. Outro viajante, dentro de alguma centena de anos, pranteará o desaparecimento neste mesmo lugar do que eu poderia ter visto e que me escapou.
III. Neste mesmo lugar, outro viajante, dentro de alguma centena de anos, pranteará o desaparecimento que eu poderia ter visto e o que me escapou.
Quais estão corretas e preservam o sentido da frase original?