PROVA DE REDAÇÃO
Leia a surpreendente e generosa confissão feita pelo moçambicano Mia Couto:
Muitas vezes nos queixamos de que os jovens de hoje vivem uma cultura de imitação. Mas os jovens de ontem também o fizeram. E isso sucede em todo o mundo, em todos os tempos. Eu também já imitei e creio que quase tudo começa por via da inspiração de modelos exteriores. (...). O melhor modo de criar um estilo próprio é receber influências, as mais diversas e variadas influências.
COUTO, M. Despir a voz. In:____. E se Obama fosse africano? Ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
Sim, Mia Couto, um dos maiores escritores da atualidade, diz que o seu estilo não nasceu do nada, que o "outro", os "modelos exteriores", serviram-lhe de inspiração. Na verdade, o que o autor destaca é a sutil diferença existente entre a mera repetição e a inspiração, que permite criar o novo. Ter um estilo é saber criar a partir do já estabelecido. Ter um estilo é singularizar-se em meio à pluralidade.
Não muito distante do que disse o escritor, está a declaração de Elis Regina, uma das grandes cantoras do Brasil, a um programa de televisão:
Eu realmente devo a Ângela Maria ter descoberto que podia ser cantora; comecei a minha carreira de cantora imitando descaradamente – é com extrema felicidade que eu confesso isso – Ângela Maria; até hoje, em certos momentos de minhas apresentações, eu saco na minha voz a voz de Ângela Maria, e tenho profundo orgulho disso. E Ângela Maria é, para mim, a maior cantora que o Brasil já teve até hoje...
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=D7Z0f7gqZvk>. Acesso em: 02 dez. 2016.
A grande Elis Regina, cujo estilo é inconfundível, também soube criar seu "jeito", seu estilo, "imitando".
Como se pode ver, tanto o escritor quanto a cantora usam a ideia geral de "imitação" como algo positivo, como algo a partir do que conseguiram achar o seu estilo: de escrever, em um caso; de cantar, em outro. A imitação, nesses dois exemplos, é um ponto de partida; não um ponto de chegada.
A respeito do mesmo tema, e em uma direção bastante crítica, o filósofo francês Dany-Robert Dufour (2008) afirma que o mundo atual dá pouco, ou nenhum, lugar àquele que se distingue dos demais. Parece que o estilo de hoje em dia, então, é exatamente não ter estilo, é permanecer no "universo do mesmo", da imitação.
Você já deve ter percebido: a "imitação" que produziu o novo, um novo estilo, em Mia Couto e em Elis Regina, também pode ser vista como causa da repetição sem estilo, conforme opinião de Dufour. Tudo depende de como cada um de nós se relaciona com o mesmo e com o diferente. Ora, para ter um estilo não é necessário produzir uma obra de arte, como os exemplos de Mia Couto ou de Elis Regina poderiam, em um primeiro momento, levar a crer; ter um estilo é, antes, poder dizer "este sou eu", "este é o meu jeito". É essa singularidade que faz, de cada um, um ser único.
E você o que pensa sobre essa questão? As pessoas, hoje em dia, apenas repetem, imitam ou conseguem produzir um estilo próprio?
Considerando as reflexões acima, elabore uma dissertação sobre o que é ter um estilo |
Para tanto, você deve:
- apresentar o seu entendimento sobre o que é ter um estilo;
- exemplificar ou com fatos, ou com acontecimentos ou com situações da vida cotidiana, sua ou de qualquer outra pessoa, o que é ter um estilo;
- desenvolver argumentos que evidenciem que o exemplo dado permite identificar um estilo singular.
Instruções
A versão final do seu texto deve:
1 - conter um título na linha destinada a esse fim;
2 - ter a extensão mínima de 30 linhas, excluído o título – aquém disso, seu texto não será avaliado –, e máxima de 50 linhas. Segmentos emendados, ou rasurados, ou repetidos, ou linhas em branco terão esses espaços descontados do cômputo total de linhas.
3 - ser escrita, na folha definitiva, com caneta e em letra legível, de tamanho regular.