(Ufsm 2015) Observe o fragmento a seguir, extraído do romance Nove noites (2006), de Bernardo Carvalho.
O Xingu, em todo o caso, ficou guardado na minha memória como a imagem do inferno. Não entendia o que dera na cabeça dos índios para se instalarem lá, [...]. Não pensei mais no assunto até o antropologo que por fim me levou aos Krahô, em agosto de 2001, me esclarecer: “Veja o Xingu. Por que os índios estão lá? Porque foram sendo empurrados, encurralados, foram fugindo até se estabelecerem no lugar mais inóspito e inacessível, o mais terrível para a sua sobrevivência, e ao mesmo tempo sua última e única condição. O Xingu foi o que lhes restou”.
Fonte: CARVALHO, Bernardo. Nove noites. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. p.64-65.
A partir do exposto, assinale a alternativa INCORRETA.
No fragmento, fica implícita a ideia de que o sacrifício dos Krahô é inevitável para o surgimento de uma nova ordem, neoliberal e globalizada.
Na passagem, fica nítido o desconforto do narrador em relação ao Xingu e o seu desconhecimento relativo à situação dos indígenas, o que reproduz a ignorância generalizada em torno das necessidades dessas populações.
O excerto tem o seu sentido complementado por outra passagem do romance, na qual o narrador afirma que os Krahô são “os órfãos da civilização. Estão abandonados”
Na passagem, a afirmação de que o Xingu é a “última e única condição” dos Krahô é uma revelação com clara conotação trágica.
A passagem assinala o estranhamento do narrador-personagem em relação aos Krahô, estranhamento reforçado em outras situações, como, por exemplo, quando o personagem resiste a participar dos rituais da tribo.