(UFU-MG-2014 - Meio do ano)
28 O abandono do lugar me abraçou de com força.
E atingiu meu olhar para toda a vida.
Tudo que conheci depois veio carregado de abandono.
Não havia no lugar nenhum caminho de fugir.
A gente se inventava de caminhos com
as novas palavras.
A gente era como pedaço de
formiga no chão.
Por isso o nosso gosto era só de
desver o mundo.
BARROS, Manoel de. Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010. p. 463.
Verifica-se na obra de Manoel de Barros:
a configuração de uma poesia do cotidiano, acessível a qualquer público, constituída, no texto acima, de palavras coloquiais, repetições, e sintaxe simples e direta.
o projeto de uma poesia sentimental, emotiva e ingênua que pode ser notada, no texto acima, pela perspectiva pessimista e decadente do eu lírico e seus companheiros.
a proposta de uma poesia inovadora, que, no poema acima é reiterada por meio do uso do neologismo, das “novas palavras” e das imagens inusitadas, e as subversões gramaticais
a concepção de uma poesia regionalista, que, no poema, sublinha a importância do local para o eu lírico, especialmente sua fauna e flora, descritas com precisão.