(UNB/PAS - 2019 - 3ª ETAPA)
Texto I
Estamos imersos em uma sociedade humorística. Uma sociedade que se quer cool e fun, amavelmente malandra, em que os meios de comunicação difundem modelos descontraídos, heróis cheios de humor e em que se levar a sério é falta de correção. O riso é onipresente na publicidade, nos jornais, nas transmissões televisivas e, contudo, raramente é encontrado na rua. Elogiamos seus méritos, suas virtudes terapêuticas, sua força corrosiva diante dos integrismos e dos fanatismos e, entretanto, mal conseguimos delimitá-lo.
Estudado com lupa há séculos, por todas as disciplinas, o riso esconde seu mistério. Alternadamente agressivo, sarcástico, escarnecedor, amigável, sardônico, angélico, tomando as formas da ironia, do humor, do burlesco, do grotesco, ele é multiforme, ambivalente, ambíguo. Pode expressar tanto a alegria pura quanto o triunfo maldoso, o orgulho ou a simpatia. É isso que faz sua riqueza e fascinação ou, às vezes, seu caráter inquietante, porque, segundo escreve Howard Bloch, “como Merlim, o riso é um fenômeno liminar, um produto das soleiras, ... o riso está a cavalo sobre uma dupla verdade. Serve ao mesmo tempo para afirmar e para subverter”. Na encruzilhada do físico e do psíquico, do individual e do social, do divino e do diabólico, ele flutua no equívoco, na indeterminação.
[...]
O riso não tem implicações psicológicas, filosóficas nem religiosas; sua função política e social — quando se pensa na sátira e na caricatura — é igualmente importante. O riso é um fenômeno global, cuja história pode contribuir para esclarecer a evolução humana.
Georges Minois. História do riso e do escárnio. Trad. Maria Elena O. Ortiz Assumpção. São Paulo: Editora UNESP, 2003. p. 10 e 13.
Texto II
É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não
Vinicius de Moraes. Samba da benção.
Texto III
Vale mais estar doido de alegria do que de tristeza; vale mais dançar pesadamente do que andar claudicando. Aprendei, pois, comigo a sabedoria: até a pior das coisas tem dois reversos, até a pior das coisas tem pernas para bailar; aprendei, pois, vós, homens superiores, a firmar-vos sobre boas pernas.
Friedrich Nietzsche. Assim falou Zaratustra.
Texto IV
Texto V
Desconfio dos meus amigos. Mas é com tanta alegria que não podem me fazer mal algum. O que quer que façam, vou achar muita graça (…) Ser amigo é ver a pessoa e pensar: “O que vai nos fazer rir hoje? O que nos faz rir no meio de todas essas catástrofes?”.
Gilles Deleuze. O abecedário de Gilles Deleuze (F de fidelidade). Entrevista concedida a Claire Parnet, 1988-1989.
Tendo os textos precedentes como referência e considerando a força social, política e cultural do riso, redija um texto dissertativo-argumentativo que contemple a resposta às seguintes perguntas, constantes do trecho de O abecedário de Gilles Deleuze, apresentado anteriormente.
O QUE VAI NOS FAZER RIR HOJE? O QUE NOS FAZ RIR NO MEIO DE TODAS ESSAS CATÁSTROFES?