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(UNESP - 2011/2 - 2 FASE) A questo toma por base u

Português | Interpretação de texto | fatores de contextualização | fatores de construção da coerência | o conhecimento de mundo
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(UNESP - 2011/2 - 2ª FASE) A questão toma por base um poema de Mário Faustino (1930-1962) e um fragmento do artigo Viagem ao ódio dos irmãos siameses, publicado na Folha de S.Paulo pelo jornalista Clóvis Rossi (1943-).

Estava lá Aquiles, que abraçava

Estava lá Aquiles, que abraçava
Enfim Heitor, secreto personagem
Do sonho que na tenda o torturava;
Estava lá Saul, tendo por pajem
Davi, que ao som da cítara cantava;
E estavam lá seteiros que pensavam
Sebastião e as chagas que o mataram.
Nesse jardim, quantos as mãos deixavam
Levar aos lábios que os atraiçoaram!
Era a cidade exata, aberta, clara:
Estava lá o arcanjo incendiado
Sentado aos pés de quem desafiara;
E estava lá um deus crucificado
Beijando uma vez mais o enforcado
.

(Mário Faustino. Poesia de Mário Faustino. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1966, p. 85.)

 

Viagem ao ódio dos irmãos siameses

O sangue mais recente a correr no conflito entre israelenses e palestinos apareceu perto da cidade de Hebron, na terçafeira, dia em que foram assassinados quatro judeus que moravam em um assentamento próximo.

Visitar Hebron é como colocar sob uma lupa as raízes do conflito e do comportamento das duas tribos. Fiz duas incursões pela cidade que tem forte carga mística e histórica – e por isso mesmo é explosiva.

Reproduzo o relato publicado pela Folha no dia 21 de janeiro de 1996, ano da primeira eleição palestina (janeiro) e de importante eleição em Israel (abril), para pôr a lupa ao alcance do leitor:

Segue-se o texto na íntegra:

“É uma única pessoa, cultuada por muçulmanos e por judeus. Chama-se Avraham (Abraão, para os judeus) ou Ibrahimi (para os muçulmanos) – ou Al Khalil er Rahman, ‘Amigo do Senhor’.
No túmulo, no entanto, Abraão/Ibrahimi são dois. O sepulcro fica na mesquita de Ibrahimi, em Hebron (35 km ao sul de Jerusalém), ou, como preferem os judeus, na caverna de Machpelá.
Foi lá, ao lado do túmulo, que, em fevereiro de 1994, um médico judeu fanático, Baruch Goldstein, entrou atirando contra muçulmanos que oravam. Matou 29.

A partir de então, as autoridades israelenses dividiram em duas partes a mesquita/caverna. Uma entrada é reservada só para judeus. A outra, para muçulmanos ou não-judeus em geral.

Cada um chega por seu lado à tumba de Abraão/Ibrahimi. Cada um vê de um ângulo diferente o sepulcro coberto por uma tapeçaria em que se lê, em árabe:

‘Esta é a tumba do profeta Ibrahimi, que descanse em paz’.

Não descansou nos séculos que se seguiram, e sua história acaba sendo a síntese da história de Israel e dos palestinos.

São irmãos siameses, que amam odiar-se, condenados a conviver no mesmo corpo de 89 351 km2 (pouco mais de 1% do território brasileiro).

Ou, como prefere o mais conhecido escritor israelense, Amos Oz, um pacifista: ‘O conflito entre israelenses e palestinos é um conflito entre um direito e outro direito: eles têm direito aos territórios porque seus antepassados os haviam habitado faz 1 300 anos; nós temos direito aos territórios porque nossos antepassados os habitam há milhares de anos e não temos outra pátria’. Por isso, Oz sugere dividir os territórios. ‘Não existe outra saída ao círculo de violência.’

A eleição palestina faz parte do processo de divisão dos siameses, inevitavelmente dolorosa e de resultado incerto como qualquer cirurgia de grande porte.

(...)

A julgar pela disposição das duas partes, Abraão/Ibrahimi continuarão sendo dois na tumba da mesquita/caverna.”

(...)

(Clóvis Rossi. Folha Online, 02.09.2010.)

 

O artigo de Clóvis Rossi focaliza o conflito terrível que envolve israelenses e palestinos há muito tempo e parece longe de uma solução. Explique a relação que há entre o título do artigo Viagem ao ódio dos irmãos siameses e a expressão “duas tribos”, atribuída no contexto a palestinos e israelenses.