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VestibularEdição do vestibular
Disciplina

(UNICAMP - 2002 - 1a fase)Os textos apresentados c

(UNICAMP - 2002 - 1a fase)

Os textos apresentados como suporte para a redação registram concepções diversas a respeito do tema trabalho. Há tanto avaliações positivas como negativas. São imagens contraditórias, características de um tipo de sociedade.

2. Uma estranha loucura apossa-se das classes operárias das nações onde impera a civilização capitalista. Esta loucura tem como conseqüência as misérias individuais e sociais que, há dois séculos, torturam a triste humanidade. Esta loucura é o amor pelo trabalho, a paixão moribunda pelo trabalho, levada até o esgotamento das forças vitais do indivíduo e sua prole. Em vez de reagir contra essa aberração mental, os padres, economistas, moralistas sacrossantificaram o trabalho. Pessoas cegas e limitadas quiseram ser mais sábias que seu próprio Deus; pessoas fracas e desprezíveis quiseram reabilitar aquilo que seu próprio Deus havia amaldiçoado.

(Paul Lafargue, O direito à preguiça, São Paulo, Kayrós, 2 ed., 1980.)

5. Fotografia de Sebastião Salgado: escadas nas minas de ouro de Serra Pelada. Brasil, 1986.

(http://www.terra.com.br/sebastiaosalgado/p_op1/p08w.html)

7. A Nike é acusada de vender tênis produzidos em países asiáticos por mão-de-obra aviltada. Um levantamento feito junto a quatro mil trabalhadores de nove das 25 fábricas que servem à empresa na Indonésia revelou que 56% dos trabalhadores queixamse de insultos verbais, 15,7% das mulheres reclamam de bolinas e 13,7% contam que sofreram coerção física no serviço. Esse estudo foi realizado sob o co-patrocínio da própria Nike. Outro levantamento, feito no Vietnã, mostrou que os trabalhadores ganham US$ 1,60 por dia e teriam que gastar US$ 2,10 para fazer três refeições diárias. Banheiros, só uma vez por dia. Água, duas vezes. O descumprimento das normas de uso do uniforme é punido com corridas compulsórias. Em outros casos, o trabalhador é obrigado a ficar de castigo, ajoelhado. A fábrica da localidade de Sam Yang trabalha 20 horas por dia, tem seis mil empregados, mas o expediente do médico é de apenas duas horas diárias.

(Elio Gaspari, “O micreiro do MIT pegou a Nike”, Folha de S. Paulo, 4/3/2001.)

 

9. O bom senso questiona: por que razão os homens dessas sociedades [...] quereriam trabalhar e produzir mais, quando três ou quatro horas diárias de atividade são suficientes para garantir as necessidades do grupo? De que lhes serviria isso? Qual seria a utilidade dos excedentes assim acumulados? Qual seria o destino desses excedentes? É sempre pela força que os homens trabalham além das suas necessidades. E exatamente essa força está ausente do mundo primitivo: a ausência dessa força externa define inclusive a natureza das sociedades primitivas. Podemos admitir a partir de agora, para qualificar a organização econômica dessas sociedades, a expressão economia de subsistência, desde que não a entendamos no sentido de um defeito, de uma incapacidade, inerentes a esse tipo de sociedade e à sua tecnologia, mas, ao contrário, no sentido da recusa de um excesso inútil, da vontade de restringir a atividade produtiva à satisfação das necessidades. [...] A vantagem de um machado de metal sobre um machado de pedra é evidente demais para que nela nos detenhamos: podemos, no mesmo tempo, realizar com o primeiro talvez dez vezes mais trabalho que com o segundo; ou então executar o mesmo trabalho num tempo dez vezes menor.

(Pierre Clastres, A Sociedade contra o Estado, Rio de Janeiro, Livraria Francisco Alves, 1973.)

a) Qual é o tipo de sociedade, retratada no texto de Paul Lafargue (fragmento 2 da coletânea), que convive com essas imagens contraditórias de trabalho? Qual é o trabalhador característico desse tipo de sociedade?

b) Utilizando o texto de Pierre Clastres (fragmento 9 da coletânea), identifique um tipo de sociedade em que não existem tais imagens contraditórias de trabalho.

c) A fotografia de Sebastião Salgado (fragmento 5) e o texto de Elio Gaspari (fragmento 7 da coletânea) fazem referência à questão do aviltamento do trabalho na sociedade contemporânea. Identifique neles aspectos degradantes da condição humana