Questões - UNICAMP 2024 | Gabarito e resoluções

(UNICAMP - 2024) Texto 1 Texto 2 Quando anunciou que ainda estavam disponveis ltimes entrades para um show, Djavan sofreu duras crticas. Muitos o ridicularizaram nas redes sociais. Alguns, ento, esclareceram que o show seria em Barcelona e que o post fora escrito na lngua local, o catalo. Era tarde demais. Djavan j havia sido arrastado para uma das grandes batalhas culturais do Brasil atual: a batalha em torno do que vem sendo descrito como linguagem neutra. (Adaptado de: Como disputa sobre linguagem neutra virou guerra cultural no Brasil? Disponvel em: https:// www.bbc.com/portuguese/articles/cw4v4dnm09lo. Acesso em: 30/09/2023.) Texto 3 O debate pela incluso de grupos pertencentes a gneros em alguma medida marginalizados atingiu de cheio a linguagem. Isso repercutiu em propostas/usos, que contemplam: uso de feminino marcado no caso de substantivos comuns de dois gneros (a presidenta); emprego de formas femininas e masculinas em vez do uso genrico do masculino (alunas e alunos, todas e todos); incluso de marcas no final de substantivos e adjetivos, como x e @, bem como a ampliao de marcas j existentes, como e (amigx, amig@, amigue); alteraes na base ou raiz de pronomes e artigos (ile, nile, dile, aquile, le). Embora nem todos esses exemplos se caracterizem como estratgias de neutralizao, dialogam com essa noo, muitas vezes trivializada. (Adaptado de: SCHWINDT, L. C. Sobre gnero neutro em portugus brasileiro e os limites do sistema lingustico. Revista da Abralin, v. 19, n.1, 2020.) a) Explique em que consiste a linguagem neutra, mencionada no texto 2. Dentre os exemplos citados no texto 3, indique uma estratgia de neutralizao e justifique a sua indicao. b) Que marca lingustica no texto 1 levou ao equvoco noticiado no texto 2? Por que a realizao dessa marca em palavras como as que ocorrem no anncio no pode ser caracterizada como uma forma de neutralizao de gnero em portugus?

(UNICAMP - 2024 - 2 FASE) Texto 1 Texto 2 Texto 3 O ndice de Gini um instrumento para medir o grau de concentrao de renda. Ele aponta a diferena entre os rendimentos dos mais pobres e os rendimentos dos mais ricos. Numericamente, varia de zero a um. O valor zero representa a situao de igualdade, o que indica, na prtica, que todos tm a mesma renda. O valor um est no extremo oposto, devendo ser entendido como representando a situao em que uma s pessoa detm toda a riqueza. (Adaptado de: IPEA. Desafios do desenvolvimento. Ano1. Edio 4. 2004). Tendo em vista seus conhecimentos sobre o fenmeno da desigualdade e considerando os textos 1, 2 e 3, responda: a) Que relaes podem ser identificadas entre a desigualdade e os respectivos perodos de democracia e de ruptura democrtica no Brasil? Cite dois exemplos que justifiquem sua resposta. b) Cite duas polticas de Estado no perodo que vai desde a promulgao da Constituio de 1988 at 2014, polticas essas que expliquem a tendncia observada no ndice de Gini. Justifique sua resposta.

(UNICAMP - 2024) Quando desempenho minha tarefa de irmo, de marido ou de cidado, quando executo os compromissos que assumi, eu cumpro deveres que esto definidos fora de mim e de meus atos, no direito e nos costumes. Ainda que eles estejam de acordo com os meus sentimentos prprios e que eu sinta interiormente a realidade deles, tal realidade no deixa de ser objetiva, pois no fui eu que os fiz, mas os recebi pela educao. Eis a, portanto, maneiras de agir, de pensar e de sentir que apresentam essa notvel propriedade de existirem fora das conscincias individuais. (Adaptado de: DURKHEIM, E. As regras do mtodo sociolgico. So Paulo: Martins Fontes, 2014.) mile Durkheim um dos fundadores da Sociologia e analisa a relao entre indivduo e sociedade. A partir do texto, podemos afirmar que os modos de agir, de pensar e de sentir, em uma sociedade, so definidos

(UNICAMP - 2024) Texto 1 Comecei este livro usando povos da floresta, conceito que costumo usar em meus artigos [...]. Povos da floresta implica que os povos pertencem floresta, e no a floresta pertence aos povos. A crase no a faz toda diferena. [...] Quando compreendemos algo das centenas de diferentes povos indgenas, o algo que os une, e quando compreendemos a origem de beiradeiros e quilombolas, alcanamos uma outra camada de conhecimento. Esses povos no possuem a floresta, a formulao est clara. Afirmar apenas que pertencem a ela, porm, ainda no exato. Eles no pertencem, eles so, porque ser ribeirinho e quilombola e indgena, para alm de qualquer estatuto, se compreender como natureza. Assim, no so povos da floresta, mas povos-floresta. Deletamos a partcula de pertencimento da para que possam ser reintegrados tambm na linguagem. (Adaptado de: BRUM, E. Banzeiro kt: uma viagem Amaznia Centro do Mundo. So Paulo: Companhia das Letras, p. 96-97, 2021). Texto 2 (Tirinha da srie do personagem Armandinho, de Alexandre Beck. Disponvel em: https://br.pinterest.com/ pin/319685273533661898/. Acesso em: 30/08/2023.) a) Duas afirmaes do texto 1 se referem a aspectos gramaticais que esto na base das conceituaes apresentadas a partir dos termos povos e floresta. Transcreva as duas afirmaes e explique por que as expresses construdas a partir desses dois termos indicam conceituaes diferentes. b) Considere a interpretao que a autora do texto 1 prope para a expresso povos da floresta. A partir dessa interpretao, reformule em discurso direto a pergunta feita av do personagem no texto 2, de modo que a resposta dada por ela seja sim. Justifique a sua reformulao.

(UNICAMP - 2024) Texto 1 Manifesto de lanamento da Coalizo Negra Por Direitos, reunio de entidades e coletivos do movimento negro brasileiro, 2020. Texto 2 O socilogo Octavio Ianni afirmou que democracia e cidadania so processos polticos marcados por dificuldades e retrocessos, pois a participao social especialmente a de grupos como mulheres, negros, indgenas uma luta penosa e que, no Brasil, vem sendo realizada precariamente ao longo da histria. (Adaptado de: Entrevista com Octavio Ianni: Comunicao e Globalizao. Revista Novos Olhares, n. 4, p. 25, 1999.) De acordo com os textos 1 e 2, possvel dizer que, no caso brasileiro, os conceitos de democracia e de cidadania

(UNICAMP - 2024) Texto 1 Em Sevilha, no sculo XVI, havia um conceito de ordem social calcada nas relaes entre os sexos masculino e feminino que eram, ao mesmo tempo, paralelas e assimtricas. Um provrbio comum (Nem espada quebrada, nem mulher errante) enfatizava tais relaes na justaposio de dois smbolos de desordem: a espada quebrada simbolizando homens desonrados e as mulheres errantes representando a vergonha feminina. A ordem social derivava justamente dessa justaposio que dependia, em primeiro lugar, da honra masculina que, por sua vez, dependia do controle imposto sobre a mulher. (Adaptado de: PERRY, M. E. Gender and Disorder in Early Modern Seville. Princeton: Princeton University Press, p. 19, 1990.) Texto 2 O texto 1 e o texto 2 analisam a interdependncia dos papis tradicionais de gnero: o primeiro, na Espanha do sculo XVI; o segundo, na Argentina dos anos 1960. a) Identifique pelo menos dois smbolos de controle social presentes nos textos. Explique como eles se relacionam com os ideais de masculinidade e feminilidade de cada perodo. b) Segundo os textos 1 e 2, qual a relao entre os papis de gnero e os espaos pblico e privado na Espanha do sculo XVI e na Argentina dos anos 1960? Justifique.

(UNICAMP - 2024) Uma escola tem 4 turmas: A, B, C e D. As turmas B e C tm, cada uma delas, uma quantidade x de alunos, e as turmas A e D tm, cada uma delas, uma quantidade 3x de alunos. Em determinado momento do ano, foi realizada uma eleio para o Grmio Estudantil, e havia duas candidaturas: a da Chapa 1 e a da Chapa 2. O grfico abaixo mostra o resultado da votao, em percentual, em cada uma das turmas. Sabe-se que todos os alunos da escola votaram, e no houve nenhum voto branco ou nulo. H duas propostas sobre como definir a chapa vencedora da eleio: Proposta 1: vence a eleio a chapa que receber a maior quantidade de votos, considerando o total de votos da escola. Proposta 2: vence a eleio a chapa que ficar em primeiro lugar (isto , a que receber mais votos) no maior nmero de salas. a) Qual chapa seria a vencedora se fosse adotada a Proposta 1? Haver alguma mudana se a Proposta 2 for adotada? Justifique suas respostas. b) Sabendo que a escola tem 160 alunos, informe, na tabela disposta no campo de resoluo, quantos alunos cada uma das turmas tem, e justifique sua resposta.

(UNICAMP - 2024) Na verdade, o mais interessante na complexidade que existe no papel de Alice que ela muitas vezes vista como uma invasora perturbando um mundo delicado e feliz. [...] Porm, Alice no pode compreender esse mundo e reclama que as pessoas se ofendem muito facilmente. [...] Quando o sentimentalismo afastado pelas reaes das criaturas, a presuno de Alice aparece como brutalidade inconsciente. (Adaptado de KINCAID, J. R. Alices Invasion of Wonderland. PMLA, 88(1), p. 97, 1973.) a) A partir dessa citao e da leitura do livro Alice no pas das maravilhas, explique por que Alice pode ser considerada uma personagem complexa. b) Retome a citao acima e a exemplifique, apresentando uma situao que demonstre por que a perspectiva de Alice pode ser compreendida como uma brutalidade pelos outros personagens.

(UNICAMP - 2024) As socilogas Patrcia Hill Collins e Sirma Bilge procuram explicar as relaes entre mrito, oportunidade e desigualdades utilizando a metfora de um campo de futebol. Elas imaginam uma situao na qual o campo seria um terreno levemente em declive, na qual o gol do Time 1 fica no topo e o do Time 2, na parte baixa. Quando o Time 1 tenta marcar um gol, a topografia do campo ajuda, o que no ocorre com o Time 2, que pode ter talento e disciplina, mas sempre trava uma batalha morro acima para marcar um gol. No caso de uma partida de futebol, torcedores ficariam indignados se os campos de verdade fossem inclinados dessa maneira. No entanto, isso que fazem as divises sociais de classe, gnero e raa, ou seja, achamos que estamos jogando em igualdade de condies quando, na verdade, no estamos. (Adaptado de: HILL COLLINS, P.; BILGE, S. Interseccionalidades. So Paulo: Boitempo, p. 32-33, 2016.) A partir do texto, correto afirmar que

(UNICAMP - 2024) A negao da plena humanidade do Outro, o seu enclausuramento em categorias que lhe so estranhas, a afirmao de sua incapacidade inata para o desenvolvimento e aperfeioamento humano, a destituio da sua capacidade de produzir cultura e civilizao prestam-se a afirmar uma razo racializada, que hegemoniza e naturaliza a superioridade europeia. (CARNEIRO, Sueli. Dispositivo de racialidade. A construo do outro como no ser como fundamento do ser. So Paulo: Zahar, p. 91, 2023.) Escolha a alternativa que apresenta crtica semelhante de Sueli Carneiro.

(UNICAMP - 2024) Considere a funo a) Para , calcule . b) Determine o(s) valor(es) de a para que .

(UNICAMP - 2024) Leia a cano Sala de Recepo, de Cartola, para responder s questes formuladas na sequncia. Sala de Recepo Habitada por gente simples e to pobre Que s tem o sol que a todos cobre Como podes, Mangueira, cantar? Pois ento saiba que no desejamos mais nada noite, a lua prateada Silenciosa, ouve as nossas canes Tem l no alto um cruzeiro Onde fazemos nossas oraes E temos orgulho de ser os primeiros campees Eu digo e afirmo que a felicidade aqui mora E as outras escolas at choram Invejando a tua posio Minha mangueira, s a sala de recepo Aqui se abraa inimigo Como se fosse irmo E temos orgulho de ser os primeiros campees (Cartola, Sala de recepo. In: Cartola. Rio de Janeiro: Marcus Pereira Discos, 1976) a) A letra da cano inicia-se com uma pergunta. Identifique e explique quem responde a essa pergunta na segunda estrofe. Na sequncia, indique os elementos que justificam a resposta daquele sujeito. b) A partir da leitura de todo o poema, identifique e explique dois traos da sociabilidade do povo mangueirense que exprimem esteretipos do povo brasileiro.

(UNICAMP - 2024) A figura abaixo mostra uma pirmide e um cubo, que compartilham uma aresta da base da pirmide. A pirmide tem altura medindo 1m; sua base, bem como os lados do cubo, so quadrados de lados medindo 1m. a) Um slido formado pela unio desses dois objetos. Qual o seu volume? b) Determine a distncia do ponto A (vrtice superior da pirmide) at o ponto B (vrtice frontal da base do cubo que no est na aresta em comum com a pirmide).

(UNICAMP - 2024) Excerto 1 Quase todos esto de acordo que a felicidade o maior de todos os bens que se pode alcanar pela ao; diferem, porm, quanto ao que seja a felicidade. A julgar pela vida que os homens levam em geral, a maioria deles, e os homens de tipo mais vulgar, parecem identificar o bem ou a felicidade com o prazer, e por isso amam a vida dos gozos. (Adaptado de: Aristteles. tica a Nicomaco, Livro I, sees 4 e 5.) Excerto 2 O conhecimento seguro dos desejos leva a direcionar toda a escolha e toda recusa para a sade do corpo e para a serenidade do esprito, visto que essa a finalidade da vida feliz. O prazer o incio e o fim de uma vida feliz. Embora o prazer seja nosso primeiro bem inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer. (Adaptado de: Epicuro. Carta sobre a felicidade. So Paulo: Editora UNESP, p. 35-37, 2002.) Considerando os excertos dos filsofos gregos Aristteles e Epicuro, ambos do sculo IV a.C., possvel afirmar que

(UNICAMP - 2024) Texto 1 A lngua portuguesa veio com o imprio, com as conquistas, com as descobertas. Por consequncia, uma linguagem de supremacia colonial. Tem marcas de racismo, de supremacia, de machismo. O racismo marcou no s a minha escrita, no s o meu trabalho. Marcou toda uma gerao, que a minha. No meu caso, eu uso a escrita para gritar um basta, para fazer uma denncia, mas, acima de tudo, para criar um debate para uma melhor compreenso entre as diferentes vivncias. (Trechos de entrevista da escritora Paulina Chiziane a Giuliana Miranda. Folha S. Paulo, Ilustrada, 03/06/2022. Acesso em: 10/09/2023.) Texto 2 Sororidade um termo bastante usado para remeter ideia do acolhimento de mulheres que esto juntas tentando vencer o patriarcado. O termo vem do latim sorr, que significa irms, surge no contexto da Revoluo Francesa (1789-1799), e lembra o lema Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Em 2017, Vilma Piedade publica o livro Dororidade, no qual afirma que a sororidade parece no dar conta da nossa pretitude. E que, a partir dessa percepo, pensou num novo conceito especificamente, a dor que s pode ser sentida a depender da cor da pele. Quanto mais preta, mais racismo, mais dor. Falando jornalista Glria Maria, Danila de Jesus, pesquisadora da UFBA, destacou a importncia de difundir o uso do termo a partir da ampliao da conscincia sobre raas em ambientes formativos, como o da educao. possvel fazer isso, por exemplo, no cumprimento da Lei 10.639, que obriga o ensino da histria e cultura afro-brasileira e africana nas escolas. (Adaptado de Glria Maria. O que dororidade? Conceito feminista trata das dores que unem as mulheres negras para alm do machismo. Revista AzMina | ODS 10, ODS 5. Publicada em: 13/06/2022.) a) Vilma Piedade prope outro nome para substituir o termo sororidade (texto 2). Por que ela faz essa proposta? Explique essa mudana com base na primeira declarao de Paulina Chiziane sobre a lngua portuguesa (texto 1). b) De acordo com o segundo trecho da entrevista de Paulina Chiziane, no texto 1, sua escrita e todo seu trabalho esto marcados pelo racismo. Por que essa declarao se relaciona com o que a Lei 10.639, citada no texto 2, especfica?