(UNICAMP - 2024)
Texto 1
Comecei este livro usando “povos da floresta”, conceito que costumo usar em meus artigos [...]. Povos da floresta implica que os povos pertencem à floresta, e não a floresta pertence aos povos. A crase no “a” faz toda diferença. [...] Quando compreendemos algo das centenas de diferentes povos indígenas, o algo que os une, e quando compreendemos a origem de beiradeiros e quilombolas, alcançamos uma outra camada de conhecimento. Esses povos não possuem a floresta, a formulação está clara. Afirmar apenas que pertencem a ela, porém, ainda não é exato. Eles não pertencem, eles são, porque ser ribeirinho e quilombola e indígena, para além de qualquer estatuto, é se compreender como natureza. Assim, não são povos da floresta, mas povos-floresta. Deletamos a partícula de pertencimento – “da” – para que possam ser reintegrados também na linguagem.
(Adaptado de: BRUM, E. Banzeiro Òkòtó: uma viagem à Amazônia Centro do Mundo. São Paulo: Companhia das Letras, p. 96-97, 2021).
Texto 2
(Tirinha da série do personagem Armandinho, de Alexandre Beck. Disponível em: https://br.pinterest.com/ pin/319685273533661898/. Acesso em: 30/08/2023.)
a) Duas afirmações do texto 1 se referem a aspectos gramaticais que estão na base das conceituações apresentadas a partir dos termos povos e floresta. Transcreva as duas afirmações e explique por que as expressões construídas a partir desses dois termos indicam conceituações diferentes.
b) Considere a interpretação que a autora do texto 1 propõe para a expressão “povos da floresta”. A partir dessa interpretação, reformule em discurso direto a pergunta feita à avó do personagem no texto 2, de modo que a resposta dada por ela seja “sim”. Justifique a sua reformulação.