(UNICAMP - 2024)
No início da novela Casa Velha, de Machado de Assis, o cônego da Capela Imperial, um personagem da história, assumindo a voz narrativa dela, conta a seus interlocutores:
“– Não desejo ao meu maior inimigo o que me aconteceu no mês de abril de 1839.”
(MACHADO DE ASSIS. Casa Velha. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986, p. 11.)
De acordo com o texto, o acontecimento desagradável que vitimou o religioso faz com que ele possa ser considerado, ao final da narrativa, como
um boêmio que se sente entediado na presença dos convivas da Casa Velha: “Disseram-me que era amiga da família, e se chamava Mafalda. (...) Creio que disseram ainda outras coisas; mas não me interessando nada, nem a conversação, nem a hóspeda, (...) deixei-me estar comigo” (p. 29-30).
um antiescravista, obrigado a conviver, na mesma casa grande, com senhores, agregados e escravos: “Lalau (...) com as mãos no ombro do moleque, ora fitava os olhos na carapinha deste, ouvindo somente as palavras de Félix; ora erguia- -os para o moço (...)” (p. 67).
um republicano que suporta um velho Coronel de posições conservadoras: “Reverendíssimo, (...) os farrapos invadiram Santa Catarina, entraram na Laguna, e os legais fugiram. Eu, se fosse o governo, mandava fuzilar a todos estes para escarmento...” (p. 89).
um ingênuo que se deixa iludir em suas relações pessoais: “nem por sombras me acudiu que a revelação de Dona Antônia podia não ser verdadeira (...) Não adverti sequer na minha cumplicidade. Em verdade, eu é que proferira as palavras que ela trazia na mente (...)” (p. 89).