(UNICAMP - 2024)
Em 1921, Mário de Andrade, escrevendo a série de artigos “Mestres do passado”, publicados no Jornal do Comércio (edição de São Paulo), observou:
"Tarde [de Olavo Bilac] foi uma promessa de anos seguidos. Tais são, tão salientes os artifícios e tão repetidos que muito bem provam o esforço do poeta decaído da poesia e a sua parca inspiração (...).”
(ANDRADE, M. Mestres do passado – Olavo Bilac. In: BRITO, M.S. História do modernismo brasileiro. Antecedentes da Semana de Arte Moderna. 5.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, p. 288-289, 1978.)
Relacione, ao poema a seguir, o trecho da crítica anterior, assinalando a alternativa que coincide com a ideia geral de Mário sobre a obra de Bilac.
As estrelas
Olavo Bilac
Desenrola-se a sombra no regaço | |
Da morna tarde, no esmaiado anil; | |
Dorme, no ofego do calor febril, | |
A natureza, mole de cansaço. | |
Vagarosas estrelas! passo a passo, | |
O aprisco desertando, às mil e às mil, | |
Vindes do ignoto seio do redil | |
Num compacto rebanho, e encheis o espaço... | |
E, enquanto, lentas, sobre a paz terrena, | |
Vos tresmalhais tremulamente a flux, | |
– Uma divina música serena | |
Desce rolando pela vossa luz: | |
Cuida-se ouvir, ovelhas de ouro: a avena | |
Do invisível pastor que vos conduz... | |
(BILAC, Olavo. Tarde. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, p. 42-43, 1919.) |
Esmaiado: esmaecido, pálido
Aprisco: curral
Redil: curral para o gado ovino ou caprino; rebanho de ovelhas
Tresmalhar: Afastar-se, perder-se do rebanho
Flux: fluxo Avena: flauta pastoril
O crítico lamenta o espaçamento da criação poética de Bilac, o que se expressa no poema pela imagem das estrelas que se afastam umas das outras.
O crítico elogia os salientes artifícios da linguagem poética de Tarde, o que se pode perceber, por exemplo, pela variedade de sinônimos para a palavra “curral”.
O crítico evoca, como resultado da pouca inspiração artística do poeta, a sobrecarga de investimento formal (os hipérbatos ou inversões, por exemplo).
O crítico associa a poesia de Bilac ao estilo decadentista, o que é reforçado pelas imagens de esgotamento, como se vê nas palavras “morna”, “esmaiado”, “ofego”, “mole”, “lentas”.