(Unifesp 2009)
Texto extraído de Formação da Literatura Brasileira, de Antonio Candido.
No Brasil, o homem de estudo, de ambição e de sala, que provavelmente era, encontrou condições inteiramente novas.
Ficou talvez mais disponível, e o amor por Dorotéia de Seixas o iniciou em ordem nova de sentimentos: o clássico florescimento da primavera no outono.
Foi um acaso feliz para a nossa literatura esta conjunção de um poeta de meia idade com a menina de dezessete anos.
O quarentão é o amoroso refinado, capaz de sentir poesia onde o adolescente só vê o embaraçoso cotidiano; e a proximidade da velhice intensifica, em relação à moça em flor, um encantamento que mais se apura pela fuga do tempo e a previsão da morte:
Ah! enquanto os destinos impiedosos
não voltam contra nós a face irada,
façamos, sim, façamos, doce amada,
os nossos breves dias mais ditosos.
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Deus me deu um amor no tempo de madureza, quando os frutos ou não são colhidos ou sabem a verme Deus - ou foi talvez o diabo - deu-me este amor maduro, e a um e outro agradeço, pois que tenho um amor.
Estes versos, de Carlos Drummond de Andrade, podem ser tematicamente relacionados ao texto de Antonio Candido, na medida em que:
Exemplificam a ideia contida em clássico florescimento da primavera no outono.
Justificam a ideia de que o adolescente só vê o embaraçoso cotidiano.
Negam a ideia de que o homem de quarenta anos é o amoroso refinado.
Confirmam a ideia de que o amor se desencanta com a previsão da morte.
Se opõem à ideia de que a proximidade da velhice intensifica um encantamento.