(FUVEST - 2003 - 1a Fase) Leia o texto a seguir:
Zôo
Uma cascavel, nas encolhas*. Sua massa infame.
Crime: prenderam, na gaiola da cascavel, um ratinho branco. O pobrinho se comprime num dos cantos do alto da parede de tela, no lugar mais longe que pôde. Olha para fora, transido, arrepiado, não ousando choramingar. Periodicamente, treme. A cobra ainda dorme.
*
Meu Deus, que pelo menos a morte do ratinho branco seja instantânea!
*
Tenho de subornar um guarda, para que liberte o ratinho branco da jaula da cascavel. Talvez ainda não seja tarde.
*
Mas, ainda que eu salve o ratinho branco, outro terá de morrer em seu lugar. E, deste outro, terei sido eu o culpado.
(*) nas encolhas = retraída, imóvel
(Fragmentos extraídos de Ave, palavra, de Guimarães Rosa)
Por meio de frases como “A cobra ainda dorme”, “Talvez ainda não seja tarde” e “ainda que eu salve o ratinho branco”, o narrador
prolonga a tensão, alimentando expectativas.
exprime a inevitabilidade dos fatos, ao empregar os verbos no presente.
entrega-se a fantasias, desligando-se das circunstâncias presentes.
formula hipóteses vagas, argumentando de modo abstrato.
precipita a ação do tempo, apressando a narração dos fatos.