(FUVEST - 2004 - 1a fase)
Olhar para o céu noturno é quase um privilégio em nossa atribulada e iluminada vida moderna. (...) Companhias de turismo deveriam criar “excursões noturnas”, em que grupos de pessoas são transportadas até pontos estratégicos para serem instruídos por um astrônomo sobre as maravilhas do céu noturno. Seria o nascimento do “turismo astronômico”, que completaria perfeitamente o novo turismo ecológico. E por que não?
Turismo astronômico ou não, talvez a primeira impressão ao observarmos o céu seja uma enorme sensação de paz, de permanência, de profunda ausência de movimento, fora um eventual avião ou mesmo um satélite distante (uma estrela que se move!). Vemos incontáveis estrelas, emitindo sua radiação eletromagnética, perfeitamente indiferentes às atribulações humanas.
Essa visão pacata dos céus é completamente diferente da visão de um astrofísico moderno. As inocentes estrelas são verdadeiras fornalhas nucleares, produzindo uma quantidade enorme de energia a cada segundo. A morte de uma estrela modesta como o sol, por exemplo, virá acompanhada de uma explosão que chegará até a nossa vizinhança, transformando tudo o que encontrar pela frente em poeira cósmica. (O leitor não precisa se preocupar muito. O Sol ainda produzirá energia “docilmente” por mais uns 5 milhões de anos.)
(Marcelo Gleiser, Retratos cósmicos)
Na frase “O Sol ainda produzirá energia (...)”, o advérbio ainda tem o mesmo sentido que em:
Ainda lutando, nada conseguirá.
Há ainda outras pessoas envolvidas no caso.
Ainda há cinco minutos ela estava aqui.
Um dia ele voltará, e ela estará ainda à sua espera.
Sei que ainda serás rico.