(FUVEST - 2004 - 1a fase)
Uma flor, o Quincas Borba. Nunca em minha infância, nunca em toda a minha vida, achei um menino mais gracioso, inventivo e travesso. Era a flor, e não já da escola, senão de toda a cidade. A mãe, viúva, com alguma cousa de seu, adorava o filho e trazia-o amimado, asseado, enfeitado, com um vistoso pajem atrás, um pajem que nos deixava gazear a escola, ir caçar ninhos de pássaros, ou perseguir lagartixas nos morros do Livramento e da Conceição, ou simplesmente arruar, à toa, como dous peraltas sem emprego. E de imperador! Era um gosto ver o Quincas Borba fazer de imperador nas festas do Espírito Santo. De resto, nos nossos jogos pueris, ele escolhia sempre um papel de rei, ministro, general, uma supremacia, qualquer que fosse. Tinha garbo o traquinas, e gravidade, certa magnificência nas atitudes, nos meneios. Quem diria que… Suspendamos a pena; não adiantemos os sucessos. Vamos de um salto a 1822, data da nossa independência política, e do meu primeiro cativeiro pessoal.
(Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas)
É correto afirmar que as festas do Espírito Santo, referidas no excerto, comparecem também em passagens significativas de:
Memórias de um sargento de milícias, onde contribuem para caracterizar uma religiosidade de superfície, menos afeita ao sentido íntimo das cerimônias do que ao seu colorido e pompa exterior.
O primo Basílio, tornando evidentes, assim, as origens ibéricas das festas religiosas populares do Rio de Janeiro do século XIX.
Macunaíma, onde colaboram para evidenciar o sincretismo luso-afro-ameríndio que caracteriza a religiosidade típica do brasileiro.
Primeiras estórias, cujos contos realizam uma ampla representação das tendências mágico-religiosas que caracterizam o catolicismo popular brasileiro.
A hora da estrela, onde servem para reforçar o contraste entre a experiência rural-popular de Macabéa e sua experiência de abandono na metrópole moderna.