(FUVEST - 2006 - 1 FASE )
Noite de S. João para além do muro do meu quintal.
Do lado de cá, eu sem noite de S. João.
Porque há S. João onde o festejam.
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite,
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos.
E um grito casual de quem não sabe que eu existo.
(Alberto Caeiro, "Poesia".)
Considerando-se este poema no contexto das tendências dominantes da poesia de Caeiro, pode-se afirmar que, neste texto, o afastamento da festa de São João é vivido pelo eu-lírico como
oportunidade de manifestar seu desapreço pelas festividades que mesclam indevidamente o sagrado e o profano.
ânsia de integração em uma sociedade que o rejeita por causa de sua excentricidade e estranheza.
uma ocasião de criticar a persistência de costumes tradicionais, remanescentes no Portugal do Modernismo.
frustração, uma vez que não experimenta as emoções profundas nem as reflexões filosóficas que tanto aprecia.
reconhecimento de que só tem realidade efetiva o que corresponde à experiência dos próprios sentidos.