(FUVEST - 2006 - 1 FASE )
Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
(...)
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
- Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
- Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.
(Manuel Bandeira, "Libertinagem".)
No conhecido poema de Bandeira, aqui parcialmente reproduzido, a experiência do afastamento da festa de São João
é de ordem subjetiva e ocorre, primordialmente, no plano do sonho e da imaginação.
reflete, em chave saudosista, o tradicionalismo que caracterizou a geração modernista de 1922.
se dá predominantemente no plano do tempo e encaminha uma reflexão sobre a transitoriedade das coisas humanas.
assume feição abstrata, na medida em que evita assimilar os dados da percepção sensível, registrados pela visão e pela audição.
é figurada poeticamente segundo o princípio estético que prevê a separação nítida de prosa e poesia.